Fabrício tinha complexo de Édipo e isso era muito claro para mim. Crescemos juntos, nossas mães eram amigas e ele sempre me amara. Chegou até a me dar uns presentes de dia dos namorados, algumas vezes. Se não fosse tão estranho, seria legal.
Antes ele não falava com ninguém, depois começou a falar com todo mundo e agora está um tanto estranho. Na verdade, ele está assustadoramente estranho.
Saímos para jantar e comemorar o aniversário de uma das amigas das nossas mães. Eu, ele, a irmã dele e a minha prima sentamos em uma mesa separada e fomos jogar Uno. Ele sorria demais. Quando falava, repetia a própria fala, um pouco mais baixo. Falava muito alto. Usava muito a força física. E ele tinha um olhar vidrado como se alguma coisa importasse mais do que tudo no mundo.
Eu não entendo, ele costumava ser tão normal.. É nessas horas que a gente vê como as pessoas são diferentes umas das outras. Como era possível que Fabrício tivesse uma espécie de doença rara - ou, talvez, até desconhecida, porque, mesmo sendo filho de psicóloga, já visitara os melhores profissionais e nunca fora diagnosticado com nada além do Complexo de Édipo - e pudesse parecer um simples geniozinho adolescente perto de mim?
Estávamos jogando usando a regra do 9: toda vez que um desses é colocado na mesa, os jogadores têm que bater a mão em cima dele e o último a fazê-lo compra 4 cartas. Ele jogou. Só colocou a mão depois de mim, e minha prima e a irmã dele o fizeram em seguida. Quando elas retiraram as mãos, ele não fez o mesmo. Ficou com a mão, forte, em cima da minha, me prendendo. Ele me olhava e sorria, atento, um tanto ameaçador. Sua expressão não era mais de adolescente. Era quase como se fosse... Um assassino. Era agora um homem e estava me deixando muito apavorada. Não sei o que ele tem, mas estava olhando para mim e manifestando todos os sintomas da estranheza de ultimamente.
Tenho medo que algum dia Fabrício faça alguma coisa terrível.
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