sábado, 31 de março de 2012

Sete - Parte V

Deu um pulo da cama, e, em cinco minutos, estava no escritório, sozinha. Mais alguns minutos, e estava tocando a campainha de Serafim desesperadamente.
- Carolina, o que é que você quer? São oito da manhã, pelo amor de Deus!
- Elas passaram o Carnaval em Salvador. Juntas, no mesmo hotel.
- Chame as mães.
Luísa fora sozinha, tinha família na cidade. Mariana estava acompanhada de duas amigas que haviam sido interrogadas, mas não se lembravam de muita coisa, porque passaram a noite do Carnaval bebendo como se não houvesse amanhã. Mesmo assim, Carolina fez questão de chamar Maria Clara, uma delas, que parecia um tanto omissa.
- Já disse que não lembro de nada - ela rebatia todas as perguntas com a mesma resposta.
- Você não bebe. Seu namorado disse que você não bebe. Ou você está mentindo para ele, ou para nós, e, se for para nós, isso é crime.
- Não lembro muito bem que horas saímos do hotel. Eu, Mariana e Letícia. A gente foi à praia e depois foi direto pular carnaval. Tinha muita gente, mal dava pra ficarmos juntas, então resolvemos que a primeira que chegasse ao hotel de volta ligaria para as outras. Eu não bebo, mesmo, fiquei dançando até amanhecer. Mas teve uma hora em que fui passear um pouco e saí do meio da multidão. Encontrei Letícia, ela estava meio bêbada, mas continuava sozinha. Nenhuma de nós viu Mariana, até o amanhecer, mais ou menos cinco e meia, seis horas.. Já estávamos juntas de novo, mas ela tinha sumido. Fomos comprar umas bebidas e ouvimos ela gritando. Quando nos aproximamos, ela estava brigando com um homem e uma mulher, não sabíamos quem eram, não interferimos. Fomos embora, voltamos pro hotel e ligamos pra ela. Uma hora depois, ela chegou e contou que estava de rolo com ele pela internet há alguns meses, e eles tinham combinado de se encontrar em Salvador no carnaval, mas quando ela o reconheceu ele estava ficando com outra garota.
- Ela disse o nome dessa outra garota?
- Acho que era Luísa.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Mateusinho

Há alguns dias, na academia, encontrei uma velha amiga dos meus pais, que conheço desde que... Desde que me conheço por gente. Ela tem três filhos, uma menina e dois meninos, dos quais me lembro perfeitamente, há dez, treze anos atrás, correndo no meio do mato que a cidade era. Infelizmente, eu e essa família perdemos o contato, já faz algum tempo, até que (não tão) coincidentemente, o caçula, Mateus, foi meu colega de sala, em 2008. Ele fazia natação, eu me lembro, e, durante esse ano, fomos bons amigos.
Ele foi morar em Natal, em 2009. Fiquei sabendo que, agora, mora no Rio de Janeiro, em uma república, porque foi contratado para nadar profissionalmente pelo Botafogo. Não nos falamos mais, então achei que ficaria meio estranho dar os parabéns do nada, mas estou muito, muito feliz por ele. Mateusinho sempre foi um ótimo nadador, ótima pessoa, ótimo amigo. Ele merece isso tudo e muito mais. E esse "muito mais", sei que vai conseguir.

domingo, 25 de março de 2012

Poema

Andando na rua, conheci um poema. Ele era muito organizado e estava sempre em forma. Falava em rimas e me fazia refletir. Tornamo-nos bons amigos e ele me apresentou para muitos outros poemas. Alguns eram tão organizados que pareciam ter algum tipo de TOC, e outros, nem tanto. Havia os gagos, os cultos, os antigos, os bem novinhos, alguns inacabados e outros enormes. Moravam todos juntos, em um livro, que os humanos chamavam de "coletânea", mas que eles chamavam de "república". Depois que conheci todos os poemas daquela república, eles me apresentaram aos amigos estrangeiros. Conheci franceses, holandeses, alemães, neozelandeses, mexicanos. Eles se gabavam: "fui escrito por Shakespeare", "fui escrito por Camões", "sou de Lorenzo de Médici". Às vezes, enquanto conversava com algum deles, eu me cansava e dormia em seu colo. Viajávamos juntos, frequentemente; eles me mostravam coisas, pessoas e lugares incríveis, e depois, me deixavam de volta na república. Vagarosamente, eu voltava à realidade.
Andando na rua, conheci uma canção..

Sete - Parte IV

Não parecia haver qualquer conexão entre Luísa e Mariana, a segunda vítima. Não moravam no mesmo bairro, não estudavam na mesma escola, não tinham amigos em comum, não frequentavam os mesmos lugares.. Nada. Mas ninguém faz nada aleatoriamente, pensava Carolina.
Não houve mais bilhetes, nem houve mais vítimas.
O delegado geral, chefe dos detetives, Eduardo Mendonça, entrou, batendo as portas.
- Teles, Fontes, venham até a minha sala.
A porta se fechou sozinha depois que os dois entraram.
- Há alguma relação entre os casos Sete? - ele falou, referindo-se a Luísa, Mariana e ao assassino.
- Até agora, não descobrimos nada, mas estamos procurando - Serafim respondeu prontamente.
- O caso será arquivado. Já faz seis semanas e temos outros casos para investigar.
- Mas o que diremos às famílias?
- Isso não é meu trabalho, é, Teles?
E ele saiu da sala e bateu a porta de novo. Carolina estava com uma cara horrível, como se, a qualquer momento, fosse sair atrás dele e lhe passar um sermão.
O dia seguinte era um sábado, que passou vazio, assim como o domingo, já que o caso Sete estava arquivado. A segunda-feira foi um dia chuvoso daqueles em que a cama parece bem mais aconchegante do que habitualmente. Carolina levantou, relutante, tomou banho, se vestiu e pegou uma maçã. Quando abriu a porta, um bilhete caiu aos seus pés.
"Sete"
Ela decidira ser detetive por causa de horas como aquela, em que a adrenalina percorria seu corpo. Encontrou Serafim no escritório e eles se sentaram para analisar o papel.
Havia uma digital. O banco de dados a associou a um presidiário, Marcos Gomes. Ele fora declarado morto havia dois dias.

sábado, 10 de março de 2012

Sete - Parte III

O bilhete do segundo dedo dizia "o sétimo dia", e Serafim supôs que deveria esperar até que sete dias houvessem se passado desde que Luísa morrera, mas foi repreendido por Carolina, que disse que detetives nunca esperam e que aquilo podia ser a data da morte da próxima vítima. Sem sucesso, eles passaram os cinco dias seguidos procurando mais pistas.
Quando o sétimo dia chegou, Serafim recebeu uma visita da mãe de Luísa, Eloá, que falava palavras sem nexo e estava em prantos. Depois de algum tempo, ela revelou aos detetives que entrara no quarto da filha para fazer uma faxina e encontrara um dedo decomposto embaixo do travesseiro. Em minutos, estavam de volta à casa, Carolina recolhendo o dedo e Serafim procurando o terceiro bilhete.
"7"
- Esse cara deve ter uma fixação pelo número sete - ele resmungou. - Que diabos ele quer que eu entenda com isso aqui?
- Venha, vamos voltar, deve haver alguma explicação racional e eu aposto como você vai sonhar com ela hoje.
Deixaram a casa e voltaram ao escritório, entregando o dedo ao legista e sentando-se para analisar o bilhete. Carolina foi até sua mesa buscar uma lupa, e, ao abrir a gaveta - a mesma em que encontrara o primeiro dedo - encontrou uma folha de papel inteira, ao contrário das outras.
"6"
- Para ter colocado isso aqui, ele deveria saber que eu voltaria ao escritório e que abriria essa mesma gaveta - refletiu. Analisaram o bilhete e levantaram hipóteses improváveis por mais algum tempo, até que Serafim se cansou e resolveu ir tirar o atraso de sono. Abriu o armário para buscar o casaco, e o que encontrou foi outra folha de papel.
"5"
- CAROLINA!
Então ela entendeu tudo.
- Quanto tempo faz desde que saímos da casa de Eloá?
- Hum.. Duas horas.
- Há duas horas encontramos o número sete. Então, encontramos o seis. E agora, suponho que tenha se passado mais uma hora, o cinco. Ou tem alguém brincando com a gente e tentando se passar pelo assassino, ou ele está aqui dentro.
- E se ele estiver aqui dentro e contando as horas, alguma coisa deve acontecer em cinco horas.
- A próxima vítima, só pode ser isso. Já temos os três dedos que faltavam em Luísa. Mas onde?
- Na sétima a partir da sétima! Na rua Maria Antonieta!
Dirigindo como um ás do volante, Serafim levou Carolina ao local onde encontrara o segundo dedo, mas a rua não estava mais lá. A rua Maria Antonieta sumira? Mas estivera ali, ele não podia tê-la imaginado, porque foi onde encontrou o segundo dedo de Luísa. Voltou, confuso, ao cruzamento da rua que descia o rio com a sétima, onde Luísa fora encontrada. Ia dobrar. À esquerda, não havia sete ruas. Dobrou à direita. Desceu até a quinta e última rua antes do rio, a av. Eurípedes B. Milano, e contou mais duas. A sétima. Estavam no Parque dos Aguateiros. Desceram, com as armas em punho.
E lá estava, nu, entre algumas árvores e embaixo de algumas folhas, enrolado em seus próprios cabelos e sem dois de seus dedos, o corpo da segunda vítima.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Sete - Parte II

Carolina esqueceu de toda a postura de detetive de Homicídios e soltou um grito estridente, tremendo e telefonando para Serafim.
O dedo viera acompanhado de um bilhete que dizia "a sétima a partir da sétima", em letras porcamente escritas, e, após uma análise, sem nenhuma digital, nem nada que levasse os detetives a chegar um pouco mais perto da solução do caso.
Estavam sentados no tapete do apartamento de Serafim, tomando uma(s) taças de vinho.
- Mas o que será "a sétima depois da sétima"? - Serafim pensava.
- Talvez seja a sétima vítima.
- Então é um assassino em série? Ele pretende matar catorze pessoas?
- Catorze?
- Sete, a partir da sétima. Contar sete vítimas a partir da sétima?
- Será que a décima quarta seria eu? - Carolina desesperou-se.
- Não sabemos ainda, calma, amanhã, procuraremos mais pistas.
Uma amizade de mais de oito anos dava a Carolina a obrigação de ajudar Serafim a arrumar a casa. Depois, despediram-se e ela desceu (convenientemente, moravam no mesmo prédio). Ele, solteiro e sozinho, se deu ao luxo de pular as fases de tomar banho e escovar os dentes e simplesmente se atirou na cama.
Acordou com um terrível pesadelo, às cinco da manhã. Ele estava dirigindo por cima da ponte Borges de Medeiros da av. Ibicuí, quando sentiu o carro dar um pulinho. Achou que houvesse atropelado alguma coisa e desceu para ver. Encontrou um dedo.
De repente, ele se sentiu como se houvesse encaixado uma peça dificílima em um quebra-cabeças. Na verdade, fizera exatamente isso. Dirigiu-se imediatamente à avenida, e, como não havia ninguém na rua, diminuiu a velocidade e começou a contar:
- Uma. Duas, três, quatro, cinco. Seis.. Sete.
Rua Coronel Cabrita. Luísa havia sido encontrada ali. Ele não parou, mas teve certeza de havia descoberto o sentido do bilhete que acompanhava o dedo.
- Uma. Duas, três, quatro.. Cinco.. Seis..
Mas não havia uma sétima rua depois da rua Nelci Fontoura Pedroso. Ela acabava em um beco, que, por instinto, Serafim resolveu investigar. Desceu do carro, armado e acompanhado da inseparável lanterna, já que ainda não amanhecera. O beco o levou a uma pequena aglomeração de árvores, que escondiam, sim, exatamente o que ele pensara: outra rua. Que não está nos mapas de lugar nenhum. Uma rua pequena, escura, sem casas, e que não leva a nada. Rua Maria Antonieta.
Serafim sorriu, orgulhoso. A lata de lixo estava lá, e estaria vazia, se não fosse pelo segundo dedo.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Sete - Parte I

A ligação chegou às 07h 07 da manhã ao departamento de Homicídios. Em poucos minutos, os detetives Serafim Teles e Carolina Fontes estavam no local do crime, onde uma adolescente nua e enrolada nos próprios cabelos estava, nada cuidadosamente, jazindo embaixo de uma das latas de um lixão abandonado.
O lugar já estava isolado, embora houvesse (não tão) pequena aglomeração de pessoas querendo saber o que acontecera. A mulher que parecia ser a mãe da vítima chegou, logo depois, aos prantos, no local. Serafim odiava esses momentos desconfortáveis em que era obrigado a ir conversar com ela, embora preferisse examinar a vítima.
Um dos peritos do local, algumas horas depois, entregou o relatório aos detetives.
- Ela só tem sete dedos. Não apresenta sinais de nenhum tipo de violência física. Está morta há, pelo menos, sete horas - disse Carolina, notando a perfeita e, provavelmente, recém-feita, francesinha nas unhas da vítima.
- Isso quer dizer que foi assassinada em torno da meia-noite. Ela se chamava Luísa. A última vez que a mãe a viu foi perto das três da tarde, quando deixou a filha na escola. A mãe diz que ela saiu com os amigos à noite, mas não sabe que amigos eram. Isso quer dizer que procuramos por fios de cabelo, digitais, sinais de envenenamento ou estupro e lesões internas.
O corpo cor de vela de Luísa foi levado ao necrotério para que o médico legista, Leandro, pudesse avaliá-la. Fora a mãe, ninguém a procurou. Serafim ficou investigando o local do crime, e Carolina voltou ao escritório para tentar reunir mais informações, em redes sociais, sobre a vítima.
Carolina, já exausta, quase meia-noite, decidiu que não sairia do escritório até encontrar alguma coisa para dizer à desamparada mãe no dia seguinte. Ia fazer café, tomar uma aspirina para curar a dor-de-cabeça e continuar procurando. Esse era o plano, e ele teria sido executado, se, ao abrir a gaveta, ela não houvesse encontrado um dedo humano com unhas quadradas e pintura à francesinha.

terça-feira, 6 de março de 2012

Desafio dos 50 Dias

Dia 50: Uma foto de alguém por quem você arriscaria sua vida

Nada mais justo que arriscar a minha vida pelas pessoas que me deram ela. E aqui acaba o desafio. (Finalmente, estava floodando o blog.)

domingo, 4 de março de 2012

Vice-versa

Ontem, quando acordei, meu cabelo estava de cabeça para baixo. Na verdade, a cama estava no teto e o lustre estava no chão. Isso significa que o chão agora era o teto e vice-versa. Calcei os sapatos nas minhas mãos e coloquei luvas nos pés, porque estava muito quente. Para evitar ficar molhada do sol, usei um enorme guarda-chuva. Os peixes estavam estressadíssimos dentro de seus carros por causa do engarrafamento e as camas reclamavam porque estavam se sentindo usadas pelas pessoas. Os telefones não aguentavam mais a vida em cima de mesas ou grudados em paredes e a loja de motos estava lotada, porque eles estavam fazendo empréstimos. Os pinguins da Antártida estavam dando uma grande festa, à qual compareceram todos os leões da África, araras do Brasil e pandas da China. Os iPods colocaram suas pessoas para carregar e passaram o dia escutando elas, enquanto os óculos de grau estavam fazendo bronzeamento artificial para ficar mais parecidos com os óculos de sol. A Lua começou a tomar suplementos e malhar para ficar do tamanho do Sol e Plutão resolveu trocar de lugar com Mercúrio. Os chinelos começaram a ter cadarços e os tênis resolveram ser feitos de borracha. O poste mudou seu nome para telefone e o telefone preferiu se chamar alho. O azul agora era verde, e o verde era amarelo, e qualquer cor podia ser o preto. Tartarugas dançavam ciranda-cirandinha em cima da mesa, que era feita de uvas enfileiradas, e bolinhas de gude resolveram morar em formigueiros. As nuvens eram coloridas e o céu também mudava de cor. Chovia chocolate. Alguém pichou uma carinha feliz no sol e colocou pulseiras em seus raios. O normal resolveu que queria ser diferente e vice-versa.

Desafio dos 50 Dias

Dia 48: Uma foto que represente algo que gostaria de cortar na sua vida

Gordura.


sábado, 3 de março de 2012

Catedral

São 3956 metros quadrados, construídos pelos incas em 1560, em ouro, prata e bronze. As cadeiras do Coral que canta em quíchua, dialeto peruano, vieram da França, feitas em mármore e veludo. A maior parte do material para esculpir e pintar os magníficos quadros tridimensionais veio da Europa. Os padres mais importantes têm seus ossos guardados em uma câmara no interior da Catedral de Cusco, a igreja mais bonita a que já fui. Precisei me levantar antes das cinco da manhã e aguentar o vento frio, mas não houve nenhum lugar que sobrasse. Até cachorros e galinhas (!) compareceram à missa naquela manhã na capital peruana. Eu não entendi uma palavra do que foi dito, mas era simplesmente arrepiante. Fotos não são permitidas, então tenho apenas a lembrança.
Mas há uma coisa, em especial, que chama a atenção de todos. Uma pessoa, na verdade. Uma santa, em um quadro. Ela é rodeada por ouro e seus olhos acompanham movimento. Eles são tridimensionais. Nunca vou conseguir descrever a experiência de andar ao redor dela, olhando em seus olhos, e ter meu olhar sustentado. Não fui para rezar, sabe? Fui para sentir. Não precisei acreditar nem desacreditar em nenhum tipo de divindade, nem nada, mas acho que deixei parte de mim naquela igreja. Tomara que algum dia possa voltar lá para fazer tudo de novo.

Foi aqui, sentada nesses bancos.

(Essa é ela, e, sim, isso é ouro puro, entalhado à mão.)


Desafio dos 50 Dias

Dia 47: Uma foto de alguém com quem você trocaria de vida, pra sempre

Acho que ser eu mesma tá bom.


Desafio dos 50 Dias

Dia 46: Alguma foto de onde você gostaria de morar

LA.


Desafio dos 50 Dias

Dia 45: Uma foto do seu jogo preferido

The Sims!


Desafio dos 50 Dias

Dia 44: Uma foto de sua comida preferida

Mate limão com biscoito Globo. Eu poderia viver só disso!

Desafio dos 50 Dias

Dia 43: Alguma figura que represente algo que você nunca faria

Fisiculturismo.


Desafio dos 50 Dias

Dia 42: Uma foto que represente sua música preferida

Basta ser deles.