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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Sobre um Fim

- Desde que Amanda se foi, eu caí. Estou magro, sem vontade de nada. Sem esperança. No fundo do poço.
- Deixe de se lamentar e vá lavar esse cabelo malcheiroso.
- Mas Amanda não vai me cheirar.
- Você não sente seu próprio cheiro? As moscas sentem.
- Bem que você podia parar de fazer piada.
- Bem que você podia se levantar e comer.
- Amanda fazia as melhores macarronadas do mundo.
- Amanda nunca mais vai fazer macarronada pra você, ouviu? Nunca mais. Por enquanto, você precisa imaginar que ela morreu. Tirar as coisas dela de todos os lugares da casa, concentrar tudo em uma caixa e enfiar em um armário até superar. Aí você encara como um término e joga tudo fora.
- Mas eu não sei como vou superar.
- Mas você sabe que, um dia, vai superar. É melhor do que estar dizendo "não vou conseguir". Você sabe que vai, só não sabe como. E nem se deu conta do que falou.
- Eu sinto falta dela.
- Você sempre vai sentir falta dela.
- Então como vou superar?
- Você pode começar tomando um banho.

domingo, 23 de outubro de 2011

Eu te Amo



- Sabe de uma coisa?
- Não.
- Eu te amo - Ele falou devagar, com clareza, como se estivesse lendo ou houvesse ensaiado antes. A espontaneidade foi óbvia, tanto quanto o brilho no olhar. Houve um momento de silêncio. Ela olhou para baixo, incrédula. Fechou os olhos. Houve um clarão, um sentimento de serenidade e vitória. Ela riu. Não conseguia dizer nada, mas riu, feliz, como havia muito tempo não fazia. Seu coração batia tão forte e as palavras, todas, sumiram da sua cabeça com tanta rapidez que chegava a ser levemente desesperador. Ela o abraçou intensamente, ainda rindo e transbordando de felicidade. Acariciou-o de leve, fitou-o ternamente e, finalmente, conseguiu falar.
- Eu te amo também.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Lembrança

- Nossa, Clara, você não vai acreditar!
- Bom dia, amiga. Conta. O que aconteceu?
- Fomos ao shopping, sábado. Foi aniversário dele. Sentamos um ao lado do outro, eu tava nervosa, inquieta, sem jeito. Sempre fico assim perto dele. Daí ele pegou minha mão e me deu um beijo todo confiante! Eu disse no ouvido dele que isso ajudava um pouco, e ele sorriu. Passamos a noite conversando e ele me abraçou muito. Fazia tanto tempo que eu não sentia aquele frio na barriga! Bom dia, Letícia. Senta aí. Tava dizendo que fui ao shopping, no sábado...
- A professora chegou.
- Eu falo por bilhetinho.
- Tá.
- "Então, daí a gente tava se beijando e tocou aquela música super brega: 'nem o perfume de todas as rosas é igual à doce presença do teu amor...' e ele e eu começamos a cantar junto, foi muito lindo! P.S.: Clara, conta pra Letícia o que eu tinha te contado antes, por favor. "
- "Amiga, que partidão, hein?"
Contei detalhes de uma noite inimaginavelmente maravilhosa, encantadora, mágica e que vai entrar pra história das noites mais loucas e inesquecíveis da minha vida pras minhas amigas, e elas me dizem que o cara é um partidão. Se ele não o fosse, eu não estaria com ele. Elas não entendem porque não estavam lá. Só eu vou lembrar pra sempre de todos os detalhes com uma clareza enorme. Nem me importava se elas tavam prestando atenção ou não, eu só queria falar dele. Escrever o nome dele no meu caderno e encher de coraçõezinhos em volta, como se eu tivesse 12 anos. Repetir mil vezes o que aconteceu e ficar estremecendo quando lembro. Só queria fazer isso e não tava nem aí se o mundo tava prestando atenção ou não. Só queria me manter o mais agarrada possível à lembrança.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Entre Augusto e Carolina

Augusto: Pois acredita que em amor possa haver felicidade?
Carolina: Às vezes.
Augusto: Acaso, já tem a senhora amado?
Carolina: Eu?!... e o senhor?!
Augusto: Comecei a amar há poucos dias.
A virgem guardou silêncio e o mancebo, depois de alguns instantes, perguntou
tremendo:
Augusto: E a senhora já amou também?
Novo silêncio; ela pareceu não ouvir, mas suspirou. Ele falou menos baixo:
Augusto: Já ama também?...
Ela abaixou ainda mais os olhos e com voz quase extinta disse:
Carolina: Não sei... talvez...
Augusto: E a quem?
Carolina: Eu não perguntei a quem o senhor amava.
Augusto: Quer que lhe diga?...
Carolina: Eu não pergunto.
Augusto: Posso eu fazê-lo?
Carolina: Não... Não lho impeço.
Augusto: É a senhora.
D. Carolina fez-se cor-de-rosa e só depois de alguns instantes pôde perguntar,
forcejando um sorriso:
Carolina: Por quantos dias?
Augusto: Oh! para sempre!... respondeu Augusto, apertando-lhe vivamente o braço.
Depois ainda continuou:
Augusto: E a senhora não me revela o nome feliz?...
Carolina: Eu não... não posso...
Augusto: Mas por que não pode?
Carolina: Porque não devo.
Augusto: E nunca o dirá?!
Carolina: Talvez um dia.
Augusto: E quando?...
Carolina: Quando estiver certa que ele não me ilude.
Augusto: Então... ele é volúvel?...
Carolina: Ostenta sê-lo...
Augusto: Oh!... pelo céu!... acabe de matar-me!... basta o nome pronunciado bem em segredo, bem no meu ouvido, para que ninguém o possa ouvir, nem a brisa o leve... Pelo céu!...
Carolina: Senhor!...
Augusto: Um só nome que peço!...
Carolina: É impossível... eu não posso!...
Augusto: Se eu perguntasse?...
Carolina: Oh!... não!...
Augusto: Serei eu?...
A vigem tremeu toda e não pôde responder. Augusto lhe perguntou ainda, com fogo e ternura:
Augusto: Serei eu?...
A interessante Moreninha quis falar... Não pôde, mas, sem o pensar, levou o braço do mancebo até ao peito e lhe fez sentir como o seu coração palpitava.
Augusto: Serei eu?... perguntou uma terceira vez Augusto, com requintada ternura. A jovenzinha murmurou uma palavra que pareceu mais um gemido que uma resposta, porém que fez transbordar a glória e entusiasmo na alma do seu amante. Ela tinha dito somente:
Carolina: Talvez.

A Moreninha, Capítulo XXI (Segundo Domingo: Brincando com Bonecas, Parte I) - Joaquim Manoel de Macedo

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Redes Sociais

- Estamos conversando pelo bate-papo do Facebook, pelo Orkut pelo Msn.
- Conversar com você, se não for ao vivo, tem que ser por todas as redes sociais possíveis. Vamos, me mande uma mention no Twitter!
- Deixe disso e vamos ao cinema.
- Você sabe que não posso.
- Porque te faltam quinze reais. Me deixe pagar.
- Não!
- Ah, você é tão cabeça dura..
- Não sou não. Você que é.
- Por que não estamos conversando pela webcam?
- Porque eu não estou em casa.
- Hugo, onde você está?
- ...
- Hugo!
- Na frente da sua casa. Agora deixe de mimimi e vamos ao cinema. Conversar ao vivo é muito melhor que conversar em todas as redes sociais simultaneamente.

sábado, 1 de outubro de 2011

Breve, mas eterno

- (...) Acho que estou te reconhecendo.
- De onde, mesmo?
- Da internet. Seu nome não é Beatriz?
- É, sim.
- Eu li várias vezes o seu blog.
- Ah, você gosta?
- E muito!
- Eu já olhei o seu Facebook várias vezes.
- 'Ah, você gosta?'
- 'E muito.'
- Você não acha que estamos enrolando demais? (Beija-a.)
- Estávamos mesmo.
- Você está com uma cara estranha.
- É que é muita coincidência eu ter encontrado você aqui. Sabe, ainda não estou acreditando.
- Foi tão surreal que a gente podia tentar de novo.