Hoje ensina-se a posição dos planetas e a composição química dos organismos. Ensina-se a deduzir fórmulas para obter valores. "Latim é uma língua extinta", "Plutão é pequeno demais para ser considerado um planeta", "algarismos romanos não são mais usados convencionalmente". Ensina-se o certo: há alguns anos atrás, ensinava-se que a Terra era quadrada, que os outros planetas giravam em torno da Terra e que a democracia era uma forma falha de governo. Ensinava-se o outro certo. E mais alguns anos atrás, ensinava-se a guerra como forma de demarcar limites e que povos com outras culturas eram bárbaros. Já se ensinou que o modo certo de honrar alguém após a morte é a mumificação, e que o nomadismo é a forma certa de viver, e que os homens devem ser caçadores, e as mulheres, colhedoras. Em todas essas épocas, desde o surgimento do homem até os dias de hoje, os ensinamentos são o certo. O certo, que está e sempre esteve em constante mutação.
Hoje, exige-se que as pessoas saibam distinguir o certo do errado. E os métodos usados para determinar o que é certo e o que é errado são palavras e números que a própria humanidade inventou.
Daqui a dez mil anos, ensinar-se-á o certo. "Todos os 1540 planetas da via láctea giram em torno de Plutão, o planeta mais quente do sistema Plutonar", "Inglês é uma língua extinta", "Naquela época, os carros tinham rodas".
Somos uma sociedade estudiosa, aprendendo o certo sem questionar. Temos dentes na boca porque esse é o certo. E se, amanhã, alguém descobrir que o certo de verdade é ter só a gengiva, e que os dentes são uma anomalia da nossa geração? E se alguém descobrir que água é uma substância tóxica? E se todos os estudos sobre química e física forem falhos?
E se ninguém nunca descobrir nada que contradiga o que sabemos hoje, o certo ainda será considerado mutável?