sábado, 3 de agosto de 2013

Odiava a si mesmo

Era uma besta, de dois metros e dez de altura e duzentos quilos. Ele tinha cicatrizes no corpo todo e a pele áspera e impenetrável. Não podia mais andar na rua porque as pessoas ficavam apavoradas ao ver tamanha aberração. Era um homem extremamente infeliz, por ser tão diferente de todos os outros, tão fora do padrão. Odiava Deus fervorosamente por tê-lo feito passar por essa vida tão medíocre e condenada ao anonimato ou a testes laboratoriais e manchetes sensacionalistas chamando-o de monstro.
Certo dia, encontrou uma moça delicada e pequenininha que, sorridente, dizia que amava homens altos, fortes e com cicatrizes de guerra. 
Ao ganhar um beijo dela, ele se transformou em um homem como todos os outros, de estatura, peso e aparência medianos. Sua pele ficou macia e suas cicatrizes sumiram. A moça ficou desiludida com o que ele era e o que passou a ser e o abandonou.
Era um ser humano, de um metro e oitenta e noventa quilos. Ele tinha uma pele suave e macia. Quando andava na rua, as mulheres ficavam encantadas.
Era um homem extremamente infeliz, por ser tão igual a todos os outros, tão dentro do padrão e principalmente por ter perdido o amor de sua vida. Odiava Deus fervorosamente por tê-lo feito passar por essa vida tão medíocre e condenada a ter a aparência que sempre quis e, ainda assim, viver uma vida vazia.
Odiava a si mesmo e às circunstâncias de sua vida, por ter desejado mudar sem perceber que aquela característica que ele odiava era o que o tornava tão especial para alguém.

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