Augusto: Pois acredita que em amor possa haver felicidade?
Carolina: Às vezes.
Augusto: Acaso, já tem a senhora amado?
Carolina: Eu?!... e o senhor?!
Augusto: Comecei a amar há poucos dias.
A virgem guardou silêncio e o mancebo, depois de alguns instantes, perguntou
tremendo:
Augusto: E a senhora já amou também?
Novo silêncio; ela pareceu não ouvir, mas suspirou. Ele falou menos baixo:
Augusto: Já ama também?...
Ela abaixou ainda mais os olhos e com voz quase extinta disse:
Carolina: Não sei... talvez...
Augusto: E a quem?
Carolina: Eu não perguntei a quem o senhor amava.
Augusto: Quer que lhe diga?...
Carolina: Eu não pergunto.
Augusto: Posso eu fazê-lo?
Carolina: Não... Não lho impeço.
Augusto: É a senhora.
D. Carolina fez-se cor-de-rosa e só depois de alguns instantes pôde perguntar,
forcejando um sorriso:
Carolina: Por quantos dias?
Augusto: Oh! para sempre!... respondeu Augusto, apertando-lhe vivamente o braço.
Depois ainda continuou:
Augusto: E a senhora não me revela o nome feliz?...
Carolina: Eu não... não posso...
Augusto: Mas por que não pode?
Carolina: Porque não devo.
Augusto: E nunca o dirá?!
Carolina: Talvez um dia.
Augusto: E quando?...
Carolina: Quando estiver certa que ele não me ilude.
Augusto: Então... ele é volúvel?...
Carolina: Ostenta sê-lo...
Augusto: Oh!... pelo céu!... acabe de matar-me!... basta o nome pronunciado bem em segredo, bem no meu ouvido, para que ninguém o possa ouvir, nem a brisa o leve... Pelo céu!...
Carolina: Senhor!...
Augusto: Um só nome que peço!...
Carolina: É impossível... eu não posso!...
Augusto: Se eu perguntasse?...
Carolina: Oh!... não!...
Augusto: Serei eu?...
A vigem tremeu toda e não pôde responder. Augusto lhe perguntou ainda, com fogo e ternura:
Augusto: Serei eu?...
A interessante Moreninha quis falar... Não pôde, mas, sem o pensar, levou o braço do mancebo até ao peito e lhe fez sentir como o seu coração palpitava.
Augusto: Serei eu?... perguntou uma terceira vez Augusto, com requintada ternura. A jovenzinha murmurou uma palavra que pareceu mais um gemido que uma resposta, porém que fez transbordar a glória e entusiasmo na alma do seu amante. Ela tinha dito somente:
Carolina: Talvez.
A Moreninha, Capítulo XXI (Segundo Domingo: Brincando com Bonecas, Parte I) - Joaquim Manoel de Macedo
Nenhum comentário:
Postar um comentário