Estava tão deprimida ao acordar naquele dia cinza. Andou o dia inteiro, incessantemente, pelo apartamento de trinta metros quadrados. Não comeu nada, nem um grãozinho de arroz. Não atendeu nenhum dos telefonemas, seja lá de quem fossem. Não abriu a porta quando bateram. Não falou uma única palavra.
Às sete horas da noite, o pôr-do-sol iluminava em alaranjado a grande banheira branca, que ela deixou cheia de água fumegando. Estava com frio. Perfumou o cômodo com sua colônia preferida, de rosas, e jogou algumas pétalas na banheira.
Foi ao quarto e trouxe um secador de cabelos preto, grande e pesado. Ligou-o na tomada e deixou-o em cima da pia. Soltou o laço vermelho do fino robe de algodão branco com o qual passara o dia e ele caiu no chão do banheiro. Respirou fundo.
Não sei se existe um Deus, mas se existir, com certeza, foi Ele quem provocou o apagão na cidade inteira no exato momento em que ela puxou o secador de cabelos, ligado, para dentro da banheira, interferindo seu ritual quase fúnebre.
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