segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Rosas Mordiscadas



Ele tinha a sorte de morar na frente de um campo de rosas vermelhas, e tinha a delicadeza de dedicar, todos os dias, uma parcela do seu tempo a elas. Tomava café-com-leite na varanda ao amanhecer. Sempre fora assim, sozinho, mas nunca solitário, graças à companhia das mil e cinquenta flores.
Certo dia, andando por entre as plantas, percebeu algo diferente nelas. Abaixou-se e analisou. Estavam mordiscadas. Quem era a criatura doentia que morderia rosas? Eram dentes humanos, perfeitamente enfileirados. A partir de então, ele passou a fazer a mesma análise, sempre, e, cada vez que o fazia, encontrava mais uma pétala mordida em cada flor.
Resolveu, então, acordar alguns minutos mais cedo, e, em vez de ir tomar café na varanda, simplesmente se esconder e observar.
E foi tempo suficiente para ver a criatura fantasmagórica, toda vestida de branco, andando e mordendo pétala por pétala, uma de cada flor, parecendo dançar, sem nunca esbarrar ou pisar em nenhuma delas. Estranhamente, fazia-o com carinho, de um jeito quase mecânico, como se, em vez de ver as rosas, rastreasse-as.
Ele estava sem fôlego com o que via. Nunca imaginara uma cena tão surreal. Pegou uma rosa em suas mãos e a segurou, como se a oferecesse para a criatura, e esperou que ela mordiscasse cada uma das outras até chegar à última.
Os lábios gelados dela tocaram as mãos quentes e trêmulas dele, e os dois deram um pequeno pulo para trás. Ela levantou a cabeça e o sol nascente permitiu que ele visse seu semblante: humano, mas não vivaz. Ela tinha cabelos da cor das rosas e usava um vestido rendado, branco e longo. Seus olhos eram claros, mas por causa da cegueira. Ela realmente não enxergava as rosas. Como numa obsessão, mordeu rapidamente a rosa da mão do homem, aterrorizado. E correu, dançando, até desaparecer.

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