domingo, 23 de outubro de 2011

Eu te Amo



- Sabe de uma coisa?
- Não.
- Eu te amo - Ele falou devagar, com clareza, como se estivesse lendo ou houvesse ensaiado antes. A espontaneidade foi óbvia, tanto quanto o brilho no olhar. Houve um momento de silêncio. Ela olhou para baixo, incrédula. Fechou os olhos. Houve um clarão, um sentimento de serenidade e vitória. Ela riu. Não conseguia dizer nada, mas riu, feliz, como havia muito tempo não fazia. Seu coração batia tão forte e as palavras, todas, sumiram da sua cabeça com tanta rapidez que chegava a ser levemente desesperador. Ela o abraçou intensamente, ainda rindo e transbordando de felicidade. Acariciou-o de leve, fitou-o ternamente e, finalmente, conseguiu falar.
- Eu te amo também.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Totalmente

Eu a chamara para sair de novo - estava com tanta vontade de vê-la de novo! Pedi a Victória que a chamasse e ela foi; eram vizinhas, além de xarás. Só eu sei a ansiedade que senti, ficaria até um pouco sem jeito em expressá-la para meus amigos, eles me chamariam de gay. O telefone tocou, era Victória.
- Alô - eu falei, com a voz que dedicava a ela.
- Breno? É a Vitória. Vitória, Vitória.
- Ah - era ela. Suspirei um pouco quando reconheci a voz e suavizei o tom - oi..
- Então, eu não sei se vou.. Saí de casa, quando voltei meu pai não estava aqui e, enfim, já faz meia hora que estou esperando!
- Não tem problema, não.
E ela disse 'falou, falou' e desligou.
Tentei não criar expectativas, mas falhei e imaginei como seria abraçá-la de novo. Depois de tudo que passara antes que a encontrasse, eu mereciao jeito que ela me tratava. Merecia um recomeço tão bom.
Sentei-me, sozinho, no restaurante, e tomei um suco de pêssego. Foi quando senti as mãos geladas tampando meus olhos e ouvi o riso divertido, baixinho. Puxei as mãos e sorri para ela. Nos cumprimentamos e ela sentou. Estava linda. Nos beijamos. Lá pelas tantas, eu iniciei uma conversa.
- Tem alguma coisa que eu tenho vontade de te dizer há algum tempo.
- O quê? - ela retesou-se, nervosa.
- Existe uma... Possibilidade... Não tão remota.. De que eu esteja.. Bem apaixonado por você.
Ela fez silêncio. Eu fiquei sério.
- Existe 100% de chance de eu estar totalmente apaixonada por você. Totalmente.
- Totalmente?
- Totalmente! Até mais que isso!
- Ainda bem. Eu sinto a mesma coisa. Estava com medo da sua reação. Estou totalmente apaixonado por você também.
- "Totalmente?"
- "Totalmente! Até mais que isso!"

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Belos e Malditos



Por favor, cliquem no player acima para escutar a canção Belos e Malditos e aguardem alguns segundos para ler o texto enquanto a escutam. Obrigada!

Eram lindos, como anjos. Tinham feições diferentes de todas as outras, eram elegantes, perfumados. Todos os aspectos daqueles quatro homens que, durante o dia, trabalhavam em escritórios e usavam ternos e sorrisos amigáveis, atraíam as pessoas. As mulheres bradavam-nos belos, e os homens, malditos.
Quando a noite chegava - não a noite que vinha logo depois do entardecer, e sim a que vinha antes da madrugada - eles sentavam-se nas cadeiras do bar Vinho Tinto e tomavam bebidas azuis. As mulheres logo se aproximavam, e eles sorriam, estendiam os braços, e as conquistavam; sumiam sempre antes do amanhecer. Eles eram acostumados a ouvir palavras de amor, sentir carinhos e receber olhares apaixonados - sabiam fazer isso sem sentir nada além do prazer de iludi-las.
De jeito nenhum, aparentavam ser tão multifacetados. Distribuíam toques suaves, beijos doces e olhares angelicais. Ao entrarem no bar, sem os ternos e as gravatas e com as camisas sociais cuidadosamente desarrumadas, ouviam as pessoas sussurrarem, os homens bufarem e as mulheres suspirarem. Eram anjos demoníacos, o lado escuro do paraíso, belos e malditos.

Inspirado na música homônima da banda Capital Inicial.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Lembrança

- Nossa, Clara, você não vai acreditar!
- Bom dia, amiga. Conta. O que aconteceu?
- Fomos ao shopping, sábado. Foi aniversário dele. Sentamos um ao lado do outro, eu tava nervosa, inquieta, sem jeito. Sempre fico assim perto dele. Daí ele pegou minha mão e me deu um beijo todo confiante! Eu disse no ouvido dele que isso ajudava um pouco, e ele sorriu. Passamos a noite conversando e ele me abraçou muito. Fazia tanto tempo que eu não sentia aquele frio na barriga! Bom dia, Letícia. Senta aí. Tava dizendo que fui ao shopping, no sábado...
- A professora chegou.
- Eu falo por bilhetinho.
- Tá.
- "Então, daí a gente tava se beijando e tocou aquela música super brega: 'nem o perfume de todas as rosas é igual à doce presença do teu amor...' e ele e eu começamos a cantar junto, foi muito lindo! P.S.: Clara, conta pra Letícia o que eu tinha te contado antes, por favor. "
- "Amiga, que partidão, hein?"
Contei detalhes de uma noite inimaginavelmente maravilhosa, encantadora, mágica e que vai entrar pra história das noites mais loucas e inesquecíveis da minha vida pras minhas amigas, e elas me dizem que o cara é um partidão. Se ele não o fosse, eu não estaria com ele. Elas não entendem porque não estavam lá. Só eu vou lembrar pra sempre de todos os detalhes com uma clareza enorme. Nem me importava se elas tavam prestando atenção ou não, eu só queria falar dele. Escrever o nome dele no meu caderno e encher de coraçõezinhos em volta, como se eu tivesse 12 anos. Repetir mil vezes o que aconteceu e ficar estremecendo quando lembro. Só queria fazer isso e não tava nem aí se o mundo tava prestando atenção ou não. Só queria me manter o mais agarrada possível à lembrança.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Sobre Humanidade


Sou o Sargento John Gebhardt, e sou superintendente da Vigésima Segunda Ala Médica da Base McConnell da Força Aérea Americana, no Kansas. Em Outubro de 2006, fui chamado para ir à Base Balad, no Iraque. Tenho uma experiência muito extensa, já ocupo meu cargo há alguns anos e, consequentemente, já vi todo tipo de horror que acontece às pessoas. Fui treinado para não me importar com isso, e me acostumei com o tempo, a sujar as mãos de sangue. Mas é absurdamente incrível como você pensa que já viu de tudo, que aguenta tudo, e aí encontra alguma coisa que nunca imaginou.
Eu estava andando com meus soldados, quando avistei algumas pessoas em um pequeno aglomerado ao longe. Aproximei-me, e vi uma garotinha no chão. Informaram-me que ela e sua família foram atacados, e assassinados a sangue frio, e a garotinha fora baleada várias vezes na cabeça e não morrera. 'Isso é que é a mão de Deus', pensei. Quando se faz o que eu faço, é preciso acreditar em alguma divindade.
As pessoas estavam assistindo a menina sangrar e esperando que ela morresse. Eu a peguei no colo e mandei alguém buscar ajuda. Ela foi levada para o hospital de Balad, onde eu estava. Passou bem pelas cinco cirurgias que fez, mas estava sempre estável. Nunca progredia. Um dia, eu fui ao seu leito e a peguei no colo. Levei-a para uma cadeira e cochilamos juntos. Fiz isso quatro noites seguidas: eu e ela andávamos pelo hospital o dia inteiro e, à noite, dormíamos, sempre juntos, na mesma cadeira. No quinto dia, eu a coloquei de volta no leito. Fui chamado pela enfermeira, e ela me informou que a garota tinha melhorado e estava quase pronta para ir embora.
Dizem que homem que é homem não chora - eu discordo e digo que homem que é homem chora quando vê o que eu vi. Humanos são humanos e tem vezes que nem todos os remédios e nem todas as cirurgias bastam. Humanos são humanos e sempre precisarão de outros humanos. Para a humanidade inteira, a melhor cura é sempre um abraço.

Feliz Aniversário

O céu estava límpido, o sol estava ardente e o dia estava digno de festa Ouvia-se passos pela casa, uma inquietação, algumas pessoas cantarolavam. Os balões coloridos cobriam o teto e algumas bandejas com docinhos - principalmente brigadeiro - estavam cuidadosamente arrumadas sobre a mesa. Nós tiramos um bolo da geladeira. Abrimos todas as cortinas de todas as janelas para que a luz entrasse e ela coloriu a casa inteira ao ser refletida nos balões. Todos nós ficamos parados alguns instantes, admirando aquela cena. Então, a mãe dele abriu a porta do seu quarto e me deixou entrar. Acordei-o com um beijo.
- Feliz aniversário, bebê.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Entre Augusto e Carolina

Augusto: Pois acredita que em amor possa haver felicidade?
Carolina: Às vezes.
Augusto: Acaso, já tem a senhora amado?
Carolina: Eu?!... e o senhor?!
Augusto: Comecei a amar há poucos dias.
A virgem guardou silêncio e o mancebo, depois de alguns instantes, perguntou
tremendo:
Augusto: E a senhora já amou também?
Novo silêncio; ela pareceu não ouvir, mas suspirou. Ele falou menos baixo:
Augusto: Já ama também?...
Ela abaixou ainda mais os olhos e com voz quase extinta disse:
Carolina: Não sei... talvez...
Augusto: E a quem?
Carolina: Eu não perguntei a quem o senhor amava.
Augusto: Quer que lhe diga?...
Carolina: Eu não pergunto.
Augusto: Posso eu fazê-lo?
Carolina: Não... Não lho impeço.
Augusto: É a senhora.
D. Carolina fez-se cor-de-rosa e só depois de alguns instantes pôde perguntar,
forcejando um sorriso:
Carolina: Por quantos dias?
Augusto: Oh! para sempre!... respondeu Augusto, apertando-lhe vivamente o braço.
Depois ainda continuou:
Augusto: E a senhora não me revela o nome feliz?...
Carolina: Eu não... não posso...
Augusto: Mas por que não pode?
Carolina: Porque não devo.
Augusto: E nunca o dirá?!
Carolina: Talvez um dia.
Augusto: E quando?...
Carolina: Quando estiver certa que ele não me ilude.
Augusto: Então... ele é volúvel?...
Carolina: Ostenta sê-lo...
Augusto: Oh!... pelo céu!... acabe de matar-me!... basta o nome pronunciado bem em segredo, bem no meu ouvido, para que ninguém o possa ouvir, nem a brisa o leve... Pelo céu!...
Carolina: Senhor!...
Augusto: Um só nome que peço!...
Carolina: É impossível... eu não posso!...
Augusto: Se eu perguntasse?...
Carolina: Oh!... não!...
Augusto: Serei eu?...
A vigem tremeu toda e não pôde responder. Augusto lhe perguntou ainda, com fogo e ternura:
Augusto: Serei eu?...
A interessante Moreninha quis falar... Não pôde, mas, sem o pensar, levou o braço do mancebo até ao peito e lhe fez sentir como o seu coração palpitava.
Augusto: Serei eu?... perguntou uma terceira vez Augusto, com requintada ternura. A jovenzinha murmurou uma palavra que pareceu mais um gemido que uma resposta, porém que fez transbordar a glória e entusiasmo na alma do seu amante. Ela tinha dito somente:
Carolina: Talvez.

A Moreninha, Capítulo XXI (Segundo Domingo: Brincando com Bonecas, Parte I) - Joaquim Manoel de Macedo

Destino Final

Eu já não tinha mais medo, receio ou curiosidade. Estava conformada com o destino que julgava ser meu. Andava, decidida, com passos firmes e frios. Aproveitava todos os meus sentidos. Meus pés tocavam com carinho a areia, meu nariz ardia um pouco com o cheiro salgado, meus olhos se aproximavam do enorme despenhadeiro e meus ouvidos percebiam, a cada passo, o fim me chamando. Cheguei ao fim do caminho, entre a areia e o mar, só havia meu corpo. Despi-me, para que alguém, que, no futuro, me procurasse, soubesse onde eu estava. Balancei-me perigosamente, peguei todo o impulso possível e saltei, cheia de malícia.
Eu estava voando, o vendo era gelado e o barulho da velocidade era inconfundível. O dourado de meus cabelos não se misturava bem à paisagem cinzenta. Aproveitei o vento e a queda livre para me mexer um pouco e soltar uma última gargalhada. Por fim, retesei o corpo e fechei os olhos. A água era meu destino final.

Difícil

Luísa e Murilo estavam sentados na calçada, enrolados em sorrisos e conversas cheias de indiretas. O pôr-do-sol era violeta e dava espaço a uma lua cheia e amarela.
Luísa tentou abraçar Murilo, e ele se afastou, brincando. Ela se virou, torceu o nariz e disse que, ah, não queria, mesmo. Ele a deitou em seu colo e beijou seu pescoço.
Da janela, Celso assistia. Esperou os dois irem embora e, quando Luísa estava sozinha, ele a abordou. Falou de sua ex-namorada, e que, na presença de Luísa, a esquecia. Disse que queria vê-la de novo, mas não daquele jeito. Não rapidamente, com comprometimento. Queria que ela estivesse disponível para ele. Colocou seu rosto entre as mãos e encenou uma tentativa de beijo. Ela o empurrou e correu. Por que tudo tinha que ser tão difícil?

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Retrospectiva

BEM VINDOS À CENTÉSIMA POSTAGEM DO BLOG!

Estou morta de orgulho. Prometi que, quando chegasse a 100 postagens, ia fazer uma retrospectiva das outras 99 e tal, e aqui estou eu.
O blog começou porque eu tenho, e sempre tive, mania de blog. Até um dia desses, tinha 5 blogs. Estava na casa da Virgínia - toda vez que ia lá criava um novo - e resolvi criar o Bianca Quintella. Mas um blog com meu nome ficaria sem graça, então, me espelhei no nome do dela, I'll Keep it With Mine, e batizei de I'll Share it With You.
Com um blog criado e batizado, só faltava uma postagem pra chamar de minha. A Virgínia tava lendo o Ñ Intendo, e abrimos o joguinho da semana, NerveJangla. Acabamos nos viciando, eu não queria esquecer o link nem o nome do jogo, e criei a postagem chamada Game!. Como vocês podem ver, o nível de conteúdo dela é um pouco baixo. As postagens eram um tanto escassas, assim como minha inspiração, até que, em meados desse ano, eu conheci meu heartbrother, Felipe Cruz, e seus contos. Ele me inspirou a reativar meu blog. Obrigada, irmão!
Nunca imaginaria ter mais de 30 visualizações em um dia só - muito menos, em mais de uma postagem por semana. Setecentas visitas em um mês? Nossa, nem nos meus mais profundos sonhos. E não quero dar uma de famosa, mas obrigada a quem lê. Graças a vocês, eu fico toda emocionada quando abro a página de estatísticas e vejo meu gráfico todo cheio de curvas. Ainda tenho muito a crescer e a postar, mas adoro quando a inspiração vem e eu tenho algum lugar pra escrever que não seja uma folha de papel. Adoro partilhar idéias e opiniões sem me preocupar se alguém vai prestar atenção e depois ver que todo mundo prestou. Um acerto em cheio na minha vida é esse blog. Prometo continuar tornando públicas as minhas palavras.

Passado

É muito, muito bom, olhar pra trás e ver o que deixei no passado. Eu acreditava que vivia uma coisa, enquanto, na verdade, vivia outra, e, só agora, enxergo isso. Bem que as pessoas me diziam, mas é que a minha realidade era outra. Hoje eu estava me lembrando, e tenho um conselho para dar a vocês: coloquem-se no lugar das outras pessoas. Se todo mundo fizesse isso, o mundo seria totalmente diferente. Nada é melhor para entender uma pessoa do que ver a vida através dos olhos dela. A gente deve encarar a vida com brandura, aceitar se curvar, e, ao mesmo tempo, ser confiante. Acho incrível fazer uma retrospectiva dos últimos anos e ver o quanto eu mudei, o que deixei passar, as coisas que encarei. Meu passado foi bom, feliz, mas eu não quero ele de volta de jeito nenhum. Estou numa fase muito 'eu'. Amo a mim mesma, cuido de mim, vivo para mim. Não vou mais construir minha vida em torno da vida dos outros, e sim do lado dela. Nada do que se funde é bom, porque uma hora tem que difundir. O passado passou e eu estou superando, se é que não já superei. E o que deixei lá, deixei por um motivo. Meu passado nunca, jamais, se tornará presente de novo. E eu acabo, aqui, com todas as esperanças vivas, de qualquer um, que, um dia, meu passado volte a ter um futuro promissor - ele não tem. O passado é história pra contar.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Que seja Doce

Lúcia era tão doce quanto o nome que recebera. Vivera a vida à procura do homem da sua vida, o primeiro beijo que se tornasse o primeiro namorado, e que, alguns anos depois, se tornaria marido, fruto de um singelo casamento à beira-mar. Achou, e não foi bem como ela esperava. Depois disso, decidiu que não planejaria mais nada: se o coração batesse mais forte, ela deixaria de ser teimosa e obedeceria a ele. Como Caio Fernando Abreu, repetiu sete vezes "que seja doce, que seja doce, que seja doce..." e se jogou à nova experiência que acabara de encontrar.
Abraçada à... Experiência... Ela imaginava como era bom não ter planejado nada, não ter um roteiro, não saber exatamente o que vai acontecer. Amava o descontrole súbito, sem ter ensaiado antes, sem saber como ia ser, improvisando. Aprendeu a preferir espontaneidade. "Que seja doce", pensou. Estava sendo doce como uma balinha de menta.

Depois da chuva

O céu se abriu num estio da chuva que caíra a madrugada inteira e deixara a cidade toda molhada. Peguei a mão de Fábio e saímos correndo pelas poças - amávamos o cheiro de grama molhada. Acabara de amanhecer e o sol ainda estava alaranjado, relutante, saindo detrás das nuvens vagarosamente. Aposto como as pessoas dentro dos carros não entendiam o que eu e meu irmão estávamos fazendo. Elas estavam ocupadas demais com suas vidas caóticas, falando nos celulares, buzinando, indo em direção ao trabalho, se desentendendo no meio das ruas e cheias de stress por causa da correria diária. Eu ria de ter um momento de correria calma com meu irmão. Tinha tanta gente apressada e que há tanto tempo não sabia o que era aproveitar as coisas simples da vida, que me senti muito mais do que privilegiada. Às vezes, é bom sair por aí, sem destino, molhando os pés e achando graça no ato de estar vivo. É bom sempre se lembrar que, depois da chuva, vem o sol.

sábado, 8 de outubro de 2011

Único

Eram olhos negros profundos e enigmáticos que eu vivia tentando decifrar. Eles estavam sempre tão perto de mim! Às vezes fechados, às vezes abertos, às vezes revirados ou me analisando - mas nunca falhavam em me deixar imaginando o que enxergavam. Olhos únicos.
Era um rosto que eu reconheceria a vários quilômetros de distância. Bastava aquele rosto se virar para mim e eu ficava sem ação, encabulada e sorridente. Tentava disfarçar, mas acho que ele percebia. Era um rosto que tinha pele pálida e lábios bem delineados que faziam meu coração bater mais forte. Era um rosto de alguém que eu considerava único.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Helena

Continuação de "Bem Vindo ao Inferno"

"Helena? Onde está Helena?", o detetive perguntou. "Não importa. Mais uma palavra e você morre" foi a resposta obtida. O Detetive Guilherme Licarião era apenas Guilherme quando se tratava da amada. De repente, ele se lembrou do próprio ofício e que não ganharia milhões de reais para salvar Helena. Guilherme, finalmente, entendeu: tinha sido sequestrado.
O vento naquele lugar era gelado, e Guilherme estava molhado, sujo, fedendo, enjoado e embriagado por ter visto sua menina dos olhos. Ele não sabia muito bem o que fazer, então sentou-se e pensou. Esperaria o sequestrador voltar. Adormeceu. Acordou com o clarão: era a hora. Alguma coisa foi jogada para dentro do cômodo. Uma cenoura?
"Espere!", o detetive gritou. O homem apenas parou, sem se virar. "Como é seu nome?"
''Helena."

A velha senhora e o passarinho amarelo

Era uma vez um passarinho amarelo que morava em uma casinha de madeira no pico de uma montanha. Um dia, uma senhora mal-encarada e sombria se mudou para lá. Ela passava o dia carrancuda e nunca olhava para o passarinho.
A senhora estava sentada no jardim, sozinha, comendo biscoitos de mel, quando o passarinho pousou ao seu lado e cantou para ela uma linda melodia, encantadora e arrepiante. Pela primeira vez, ela sorriu. Ofereceu-lhe biscoitinhos e eles dividiram o lanche todos os dias a partir daquele. Viraram inseparáveis. A melhor coisa do mundo não é a música, não são os biscoitos: é a amizade.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O Dia em que Marcelo chorou

Eu cheguei na escola, encontrei minhas amigas e fomos buscar água, juntas. Quando estávamos no bebedouro, meu melhor amigo chegou, cabisbaixo. Meu melhor amigo, Marcelo, que tem um ombro maravilhoso pra quando se quer chorar, que tem ouvidos ótimos pra ouvir meus problemas, que tem um abraço que é reconfortante como nenhum outro. Além disso, ele nunca estava cabisbaixo. Claro que tinha alguma coisa errada. Disse às minhas amigas que ia dar colo para ele e o puxei pelo braço esquerdo até a arquibancada.
- Me conta o que aconteceu.
- Meu pai fica falando besteira. Ele chegou de viagem agora e eu contei pra ele que tava namorando.. Hoje ia lá com a Patrícia antes da aula, e ele fez questão de me levar para a escola de carro e passar na frente da escola dela. Ela tava lá na frente e me viu, só que eu não pude parar.. O máximo que pude fazer foi mandar um beijo pra ela.
E ele chorou. Meu melhor amigo, de 1,82m, chorando. O que eu ia dizer?
Pra mim, choro pede abraço. Abracei Marcelo e ele chorou mais ainda. Ficamos assim, sentados, ele com a cabeça no meu ombro e eu com as mãos nas costas dele, por um tempo. Depois fomos à pia, eu pedi a ele que lavasse o rosto e o levei até sua sala de aula.
Poucas coisas na vida me partiram tanto o coração quanto ver meu melhor amigo - que para mim era tão forte, inatingível e experiente - chorando.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Steve está morto

Estávamos todos trabalhando, orgulhosos, em novos projetos. A sede da Apple não parava nunca, estava em constante renovação. Nunca havia parado, na verdade, até a hora em que Tim, o novo CEO havia um mês, escolhido a dedo pelo próprio Steve Jobs, entrou, pálido, na nossa sala.
- Steve está morto.
Foi a primeira vez que a Apple inteira parou. Todos estavam incrédulos. A gente nunca imagina que pessoas tão lendárias possam morrer, e, por isso, nunca estamos preparados quando acontece. Involuntariamente, mesmo sem conhecê-lo, eu chorei. Era, e continuo sendo, uma grande fã de Steve.
Lembro-me de, na adolescência, ter brincado de Adedonha com meus amigos da escola, e, quando escrevi Jobs em um dos quadrados, ter colocado entre parênteses o nome Steve. Todos riram. Mas o que mais me tocou foi ter chegado em casa e visto a homenagem a ele na página inicial do Google, no Facebook, muitos trending topics sobre ele no Twitter e vários subnicks no msn dedicados a ele. A sensação que eu tive foi que, embora Jobs não estivesse mais entre nós, ele estava ali, de algum jeito. Aí me toquei que estava com a mão no mouse - graças a ele. Tirei do bolso meu IPhone e digitei "RIP Steve Jobs. Você deixou marcas nas nossas mesas, ouvidos e mãos."

Mesmo assim, lá estava ele

Lembro-me do dia em que descobri que Steve Jobs existia como se fosse ontem. Lembro-me da primeira vez que vi um IPod e que não sabia como era possível que alguma coisa funcionasse sem teclas. Hoje teria sido um dia qualquer, se, do restaurante japonês onde eu estava, não tivesse acessado o Twitter - usando meu celular sem teclas - que ele estava morto. Acho que se tinha alguém no restaurante que não sabia, ficou sabendo, porque não consegui controlar minha reação:
- NÃO ACREDITO QUE O STEVE JOBS MORREU!
Preciso falar sobre ele porque, bem, todos estão falando. Mas mais do que isso, ele mudou o mundo. E mais ainda, ele integrou mouses aos computadores. Não me vejo usando um computador só com teclado. Enfim, vamos lá. A vida do Steve não foi fácil e todo mundo sabe. Mas, mesmo assim, lá estava ele. Nasceu e foi dado para adoção porque os pais biológicos não tinham condições financeiras de criá-lo. Desistiu da faculdade porque os pais adotivos não tinham condições de pagá-la. Mas, mesmo assim, lá estava ele. Uma vez - não foi hoje, no Globo News - ouvi alguém compará-lo a Thomas Edison, o cara que inventou a lâmpada. Tá, é uma boa comparação, mas a lâmpada só acende e apaga. Um computador, por outro lado.. Um Mac, ainda! Isso é muito mais que condução de corrente elétrica.
Não posso fazer a homenagem muito longa porque ainda quero fazer uma postagem sobre isso ao estilo Bianca, então, vou repetir os clichês usuais: Steve foi muito importante, mudou o mundo e foi até o fim. Com um câncer terminal, avançado e raríssimo, mesmo assim, lá estava ele.

Lorraine

Lorraine era conhecida na escola como Rain, por ser cinzenta e tristonha. Desde pequena, não parecia conhecer a vida de verdade, e sim, viver em um universo paralelo. Seus pais, no início, acharam que ela era autista, mas, mais tarde, ela foi diagnosticada como psicopata. Entendia o amor, a felicidade, o ciúmes e outros sentimentos em geral, mas não os tinha dentro de si. Ela não sentia nada. Sua mãe sofria muito por isso.
Um dia, Rain sumiu. Foi a uma festa e não voltou mais. Seus pais chamaram todas as unidades de investigação possíveis, espalharam cartazes pela França inteira, mas não encontraram a filha. Os meses passavam, as esperanças de todos diminuíam, e a menina não aparecia. Nem uma única pista. Nem uma digital, nem um fio de cabelo, nem pegadas, marcas de pneu, fios de roupas, objetos perdidos. Nada.
Um belo dia, seis meses depois, os Louis e Vivianne Sabin chegaram em casa e se depararam com a filha sentada no sofá da sala. Abraçaram-na, incrédulos e chorosos, mas quando perguntaram a Rain onde ela estivera, a resposta foi:
- Minha vida está condicionada à ignorância de vocês em relação a isso.
Eles aceitaram, hesitantes, mas conformados. Com as semanas, Vivianne percebeu que Rain não era mais uma gota de chuva inconsistente, e sim, um raio de sol sólido e brilhante, estava cheia de vida como se nunca houvesse deixado de sentir nada.
Ela subiu as escadas de madeira, entrou no quarto onde o marido cochilava, acendeu a luz e bateu a porta violentamente.
- Céus, Vivianne, por que tanto alarde?
- Lorraine não é psicopata.
- Não vamos falar disso de novo...
- Ela sente, Louis! Ela sente!
- Não. Escute, ela não sente.
- Eu sei onde ela esteve durante esses seis meses.
Louis levantou, alarmado, com as pupilas dilatadas e as mãos trêmulas.
- Onde?
- Descobrindo o amor.

Redes Sociais

- Estamos conversando pelo bate-papo do Facebook, pelo Orkut pelo Msn.
- Conversar com você, se não for ao vivo, tem que ser por todas as redes sociais possíveis. Vamos, me mande uma mention no Twitter!
- Deixe disso e vamos ao cinema.
- Você sabe que não posso.
- Porque te faltam quinze reais. Me deixe pagar.
- Não!
- Ah, você é tão cabeça dura..
- Não sou não. Você que é.
- Por que não estamos conversando pela webcam?
- Porque eu não estou em casa.
- Hugo, onde você está?
- ...
- Hugo!
- Na frente da sua casa. Agora deixe de mimimi e vamos ao cinema. Conversar ao vivo é muito melhor que conversar em todas as redes sociais simultaneamente.

Nova Zelândia

- Calma, Babi, não precisa chorar. A dor passou. Estamos aterrizando na Oceania; lembra que você sempre quis ir lá? As areias são brancas e o mar é azul como o céu. E o céu é azul como seus olhos. A Nova Zelândia vai ser nossa primeira parada. Lá tem praia e neve o ano inteiro. Se você quiser, podemos ir à praia até suas bochechas ficarem rosadas e depois ir esquiar até seus lábios ficarem violeta. Você adora violeta. Depois podemos mergulhar bem fundo e ver os recifes de coral. Eles são enormes. Vamos observar milhares de peixinhos coloridos... Babi?
- Papai, eu te amo, mas podemos ir amanhã?
Senti o coração de minha filha parar de bater. A médica entrou, rapidamente, e declarou a hora do óbito. "Sinto muito", ela falou, e foi embora. Eu quase acreditara que chegaria com minha filha de 6 anos e um câncer em estágio terminal à Nova Zelândia.

Chuva

Eu acordei às 3h da manhã ontem - logo numa madrugada de segunda - com a chuva. Fiz questão que minha cama ficasse embaixo da janela para momentos como aquele. O barulho das gotinhas tamborilando no vidro da janela era tão reconfortante.. Meu cobertor estava quentinho e minha cama estava macia. Várias lembranças vieram à tona: a felicidade e os pulos de alegria quando passei na faculdade, o nascimento do meu irmão, o último dia de aula do terceiro ano, o último garoto que me arrancara suspiros. Aliás, virei para o lado e o abracei. A chuva era, realmente, muito reconfortante.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Axl

Todo mundo estava reclamando do atraso do Axl Rose e fazendo piadinhas. Eu,mesma, participei disso. Ele se atrasou, é verdade, e muito. Estava previsto para entrar no palco às 0h 40 e entrou 2h 50. Isso merece muitas piadinhas. Mas vaias...
Cara, pensem bem, é o Axl Rose. Ele tem mais tempo de carreira que eu e minha mãe juntas. Ele pode estar gordo, acabado, com cabelo ruim, capa de chuva ridícula, se sentindo uma estrela e duas horas - ou mais - atrasado, mas não deixa de ser quem é. Seu nome nunca vai se perder. Tanto é que as cem mil pessoas ainda estão ali. Mesmo com essa chuva torrencial.
É que é mágica, sabe? A música? Ah, a música... É bem assim que acontece. Ele não fez nada além de se atrasar. Acontece com todo mundo, é só uma questão de proporção. Por exemplo, você se atrasa quando tem uma pessoa esperando e ela fica com raiva porque você se atrasou mas estava ansiosa para te ver. O Axl se atrasa com cem mil pessoas esperando e, bem, o resultado, todos sabem.
Todo mundo que tava vaiando cala a boca e sente o arrepio, o aperto no coração, aquela emoção involuntária, por saber que a hora chegou. Todo mundo cala a boca porque é o Axl Rose e ele merece - além da indignação básica - muito barulho e aplausos até as mãos ficarem dormentes. Música é mágica, o Axl é mágico. A música que o Axl produz merece espera.

domingo, 2 de outubro de 2011

A Rosa

Foi uma noite maravilhosa. Ela o encontrou num bar, eles conversaram, dançaram e se beijaram muitas vezes. Depois, ela o levou para seu apartamento. Conversaram mais um pouco, beberam umas taças do melhor vinho que ela tinha em casa.
Quanto mais ela o observava, menos enxergava motivos para se separar dele. Era bonito, alto e muito carinhoso. Ele sorria e dava piscadelas. Perto das cinco da manhã, foram para o próximo nível. Ela tinha lençóis brancos, macios e aconchegantes, os quais ele elogiou.
Ela acordou com o sol batendo no rosto, e quando esticou o braço para tocar os cabelos dele, sentiu apenas o travesseiro e o cheiro de perfume. Abriu os olhos e viu-se sozinha na cama, com uma enorme rosa vermelha ao seu lado. O potencial amor de sua vida a havia deixado e levado seu coração.

sábado, 1 de outubro de 2011

É um alívio

Não tenho palavras para descrever minha indignação quando vejo alguém reclamar da vida. Às vezes, entendo, mas, mesmo assim, não consigo aceitar. O que mais seríamos?
a) Deuses
Vou pegar emprestado o raciocínio do meu irmão de heart, Felipe Cruz. Se fôssemos deuses, precisaríamos de que alguém acreditasse em nós para podermos existir. Logo, não é um alívio que sejamos humanos?
b) Animais
Ser um animal e depender de cuidados talvez seja pior que ser um deus e depender de crença. Quando se é um animal, tem-se duas opções: ser adotado por um humano ou não. A primeira opção significa que você será submetido às vontades do seu dono: "senta", "deita", "rola". Se ninguém te adota, todo mundo que passa 1) te acha repugnante ou 2) tem pena de você. Logo, não é um alívio que sejamos humanos?
c) Seres Inanimados
Tipo pedras. As pessoas dão topadas em seres inanimados e dizem "ah, foi só uma pedra." Ser chutado, atirado para longe, quebrado, comprado, vendido, mal cuidado, e, no final, alguém ainda dizer que você não presta e te deixar de lado.. Bem, isso não é para mim. Não é um alívio que sejamos humanos?
d) Extraterrestres
Talvez essa seja a melhor opção. Nunca se sabe, mas extraterrestres talvez vivam em condições muito melhores do que as nossas - aliás, isso me fascina de um jeito... -, em planetas bem cuidados e convivendo com outros seres muito mais desenvolvidos. Mas, bem, talvez eles nem existam. Acho que isso explica perfeitamente o porquê de eu preferir ser o que sou. Aliás, não é um alívio que sejamos humanos?
Não estou dizendo que as pessoas que reclamam da vida não têm nenhuma razão de reclamar, e sim, que ou se vive ou não se vive. E viver reclamando não adianta nada porque viver sem reclamar é muito melhor. Só isso. Eu mesma estava em uma situação em que achei que não tinha saída. Claro que doeu um pouco, mas hoje, quando dou colo para outras pessoas, sempre penso nisso. Existe, sim, uma saída. E não, não existem motivos para reclamação. É um alívio que sejamos humanos.

Breve, mas eterno

- (...) Acho que estou te reconhecendo.
- De onde, mesmo?
- Da internet. Seu nome não é Beatriz?
- É, sim.
- Eu li várias vezes o seu blog.
- Ah, você gosta?
- E muito!
- Eu já olhei o seu Facebook várias vezes.
- 'Ah, você gosta?'
- 'E muito.'
- Você não acha que estamos enrolando demais? (Beija-a.)
- Estávamos mesmo.
- Você está com uma cara estranha.
- É que é muita coincidência eu ter encontrado você aqui. Sabe, ainda não estou acreditando.
- Foi tão surreal que a gente podia tentar de novo.