sexta-feira, 9 de março de 2012

Sete - Parte II

Carolina esqueceu de toda a postura de detetive de Homicídios e soltou um grito estridente, tremendo e telefonando para Serafim.
O dedo viera acompanhado de um bilhete que dizia "a sétima a partir da sétima", em letras porcamente escritas, e, após uma análise, sem nenhuma digital, nem nada que levasse os detetives a chegar um pouco mais perto da solução do caso.
Estavam sentados no tapete do apartamento de Serafim, tomando uma(s) taças de vinho.
- Mas o que será "a sétima depois da sétima"? - Serafim pensava.
- Talvez seja a sétima vítima.
- Então é um assassino em série? Ele pretende matar catorze pessoas?
- Catorze?
- Sete, a partir da sétima. Contar sete vítimas a partir da sétima?
- Será que a décima quarta seria eu? - Carolina desesperou-se.
- Não sabemos ainda, calma, amanhã, procuraremos mais pistas.
Uma amizade de mais de oito anos dava a Carolina a obrigação de ajudar Serafim a arrumar a casa. Depois, despediram-se e ela desceu (convenientemente, moravam no mesmo prédio). Ele, solteiro e sozinho, se deu ao luxo de pular as fases de tomar banho e escovar os dentes e simplesmente se atirou na cama.
Acordou com um terrível pesadelo, às cinco da manhã. Ele estava dirigindo por cima da ponte Borges de Medeiros da av. Ibicuí, quando sentiu o carro dar um pulinho. Achou que houvesse atropelado alguma coisa e desceu para ver. Encontrou um dedo.
De repente, ele se sentiu como se houvesse encaixado uma peça dificílima em um quebra-cabeças. Na verdade, fizera exatamente isso. Dirigiu-se imediatamente à avenida, e, como não havia ninguém na rua, diminuiu a velocidade e começou a contar:
- Uma. Duas, três, quatro, cinco. Seis.. Sete.
Rua Coronel Cabrita. Luísa havia sido encontrada ali. Ele não parou, mas teve certeza de havia descoberto o sentido do bilhete que acompanhava o dedo.
- Uma. Duas, três, quatro.. Cinco.. Seis..
Mas não havia uma sétima rua depois da rua Nelci Fontoura Pedroso. Ela acabava em um beco, que, por instinto, Serafim resolveu investigar. Desceu do carro, armado e acompanhado da inseparável lanterna, já que ainda não amanhecera. O beco o levou a uma pequena aglomeração de árvores, que escondiam, sim, exatamente o que ele pensara: outra rua. Que não está nos mapas de lugar nenhum. Uma rua pequena, escura, sem casas, e que não leva a nada. Rua Maria Antonieta.
Serafim sorriu, orgulhoso. A lata de lixo estava lá, e estaria vazia, se não fosse pelo segundo dedo.

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