quinta-feira, 28 de junho de 2012

A menina e o Leão

Uma criancinha de uns seis, sete anos, em uma visita ao zoológico, encarava o leão adormecido, com o rosto encostado no vidro. O Rei da Selva (leia-se da jaula) acordou, deu uma ajeitada na juba ruiva e veio sentar-se para encarar a menina.
Ela era tão pequena, tão dependente e tão indefesa, e ele, tão grande, imponente, independente e forte. E ela estava tão livre, e ele, tão preso. A jaula do Rei da Selva, aquele quadrado de vidro com uma vaga lembrança que ele tinha das selvas verdadeiras, e a jaula daquele filhote de humano que, mesmo adulto, nunca chegaria ao seu tamanho, tão grande e infinita.
Devia haver algum motivo verdadeiro para prender um Rei em um quadrado de vidro, o leão pensava consigo mesmo. Encostou sua enorme pata nos dedinhos dela e pensou se algum dia os animais estariam observando, com curiosidade, humanos presos, em visitas a antropológicos.
Ela beijou o vidro e foi embora. E o Rei voltou a dormir em um dos cantos do quadrado de vidro.



Cada Rei na sua selva. Prender animais silvestres é crime!

Gato versus Monstros Verdes

Só pra rir!



Mais vídeos de gatos, aqui.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Onde os sonhos se tornam realidade



Estavam na Disneylândia, presente dele de seis anos de namoro. Vinte e cinco dias, dos quais oito haviam passado. Houve a briga, cada um foi para um canto do parque. Ela, chorando, e ele, chutando as latinhas jogadas pelo chão. Trocaram silêncio durante algumas horas, ao voltar para o hotel, e a cama de casal pareceu grande demais naquela noite. Acordar sem um beijo de bom-dia era como estar na Antártida e não ter um casaco. De novo, não andaram juntos.
Ela estava na frente do Castelo quando sentiu o abraço por trás.
- Sabe por que eu te trouxe aqui? - Ele perguntou.
Não houve resposta.
- É onde os sonhos se tornam realidade. Casa comigo.

domingo, 17 de junho de 2012

Opções

Deixar a pele queimar, o cabelo ressecar, as cutículas ficarem quase do tamanho das unhas e ter preguiça de fazer depilação, ou fazer as unhas, hidratar o cabelo e esfoliar a pele? Rabo-de-cavalo ou trança? Trança raiz ou trança espinha-de-peixe? Short, saia, calça ou vestido? Macaquinho ou macacão? Tênis ou salto? Pulseira ou relógio? Duas latas de brigadeiro ou um prato de salada? Samba ou valsa? Lente ou óculos? Namorar ou ficar? Malhar ou dormir? Vestido tubinho, baloné ou acinturado? Salto anabela, fino, quadrado ou plataforma? Biquíni ou maiô? Unhas desenhadas, foscas ou lisas? Ah, ser mulher é ter infinitas opções e ficar bem com todas.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Dia dos Namorados

Feliz dia dos namorados! O post de hoje é curtinho, porque já, já, vou sair com o meu. Vagabundando pesquisando na internet, encontrei isso:



Achei lindo, fim do post. Aqui tem bem mais, todos lindos.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Abrir a Caixa

Um homem qualquer, um dia, acordou com vontade de colocar um gato dentro de uma caixa. Dentro dessa caixa, havia um contador Geiger com substância radioativa, que, dependendo das circunstâncias, liberaria uma descarga, que soltaria um martelo, que estilhaçaria um pequeno frasco de ácido cianídrico. Dependendo das circunstâncias novamente, o gato estaria morto. Ou vivo. Ou os dois, simultaneamente.
Este homem, então, criou um termo chamado entrelaçamento. Todas as circunstâncias dependem uma da outra e todos os acontecimentos resultam da combinação de todas as circunstâncias: tudo está entrelaçado. Ele escreveu, sobre isso, que uma incerteza antes somente relacionada a um felino dentro de uma caixa poderia se transformar em uma indeterminação macroscópica, e o único jeito de descobrir o que acontecera era abrir a caixa.
O contador seria acionado, ou não. O martelo bateria ou não no frasco e o frasco se quebraria, ou não. O gato morreria ou continuaria vivo. E abrir a caixa alteraria a possibilidade de vida do gato. E se não se pode identificar o estado de um corpo, diz-se que ele está em todos os estados, já que seria impossível que ele não estivesse em estado nenhum, uma vez que está dentro da caixa e não pode ter desaparecido magicamente.
Uma indeterminação macroscópica. Qualquer indeterminação. Qualquer incerteza pode ser relacionada a este gato. As coisas acontecem, ou não. Elas têm consequências, ou não. Arca-se com as consequências, ou não. E o único jeito de saber é fazer as coisas. E, bem, se o gato estiver morto, basta enterrá-lo, não é mesmo?

Construção do Mundo

Como pedreiros constroem casas, os Deuses construíram o mundo, só que em maiores dimensões. Primeiro, um pouquinho de pó-de-estrela. Depois, mágica; não mágica mundana, mágica que era realmente mágica. Juntou-se matéria verde e matéria azul. Ficou como uma massinha de modelar, mole; então, um sopro mágico endureceu a verde até que sua superfície ficasse crocante, e a azul até que ficasse cremosa.
O próximo passo foi fazer seres viventes. Primeiro, o molde foi errado. Ficaram pequenos demais, então, ganharam barbatanas e se chamaram peixes. Depois, ficaram grandes demais, então juntaram-se à massa de modelar crocante e tornaram-se montanhas. Deuses também erram, sabe?
Finalmente, fizeram seres no tamanho certo. Eles podiam se desenvolver dentro do corpo de uma progenitora e atingir um tamanho adequado depois. Podiam interagir, podiam dar continuidade a todo o trabalho dos Deuses. Então foram lançados ao mundo.
As primeiras raças desses seres eram mutáveis até demais. Aquelas que pegaram sol ficaram da cor da terra, e aqueles que vieram da neve ficaram claros, da cor das nuvens de chuva. Os que viviam nas florestas ficaram vermelhos, para que pudessem se camuflar; por fim, a raça do oriente do recém-criado mundo ficaram amarelos, da cor do sol nascente.
Os Deuses desceram ao mundo que criaram para supervisionar e acabaram se tornando parte desta criação. Eles esqueceram de dar aos seres humanos o dom de ser imortais, de ter para sempre sua carne. Sofreram do mesmo mal. Seus corpos mundanos faleceram e eles voltaram a ser Deuses, prometendo aos humanos que sempre estariam por perto observando. Então, tornaram-se estrelas.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Baleia

Era enorme e tinha o corpo liso. Ficava olhando aquelas criaturinhas coloridas que andavam fora d'água e faziam todo o possível para serem aquáticas também. Às vezes, ela as via no céu, imitando os pássaros. Eles se chamavam humanos, ela sabia, e ficava ofendidíssima quando a chamavam de "baleia": uma tonelada e meia é um ótimo peso quando se tem cinco metros de comprimento.
Lá estava uma humana, voando, voando, planando. Mas o espaço aéreo pertence aos pássaros e não foi surpresa que um deles cruzasse o tecido que a mantinha no ar. E ela estava caindo, caindo, girando e esperneando. A baleia nadou, nadou e abriu a boca. A coisinha colorida e frágil caiu em cima de sua língua - caberiam mais umas setecentas daquela dentro da boca da baleia.
Ela se contorcia na boca da baleia, que não sentia nada além de cócegas e nadava tranquilamente em direção à costa, e às vezes ia até a superfície e abria a boca para que a moça pudesse ver que ainda estava viva e respirar um pouco. Foram alguns minutos de viagem, e a enorme baleia branca abriu a boca para que a moça pudesse sair em segurança na praia e ir embora, seguir em frente com a vida.
Mas o espaço terrestre pertence aos humanos e não foi surpresa que alguém com uma tonelada e meia e cinco metros de comprimento ficasse encalhada. E ela estava barbataneando (poderia espernear, mas não tinha pernas). A moça correu, correu e abriu os braços. Se esfregou no corpo molhado da baleia, e, em poucos minutos, vários humanos coloridos e frágeis estavam fazendo a mesma coisa. Vários, muitos, inúmeros.
Quando ela finalmente poderia ser levada pela correnteza, a moça mostrou todos os dentes. Não como faziam os tubarões, para morder; a baleia sabia que humanos faziam isso de felicidade (sempre ao contrário, esses humanos).
É sempre bom ver que alguns humanos se mancam de tentar dominar o mundo, pensou a baleia. Afinal, cabiam umas setecentas coisinhas daquela dentro de sua boca.

domingo, 20 de maio de 2012

Cinderela




Os pais de Nícolas e Júlia já eram amigos muitos anos antes de eles nascerem, e, coincidentemente, tornaram-se vizinhos. Os filhos nasceram na mesma época e cresceram juntos; passaram por todas as fases que crianças de sexos opostos passam: primeiro, a de não saber a diferença, depois, a de ter nojinho, e, aos poucos, a de perceber que pode vir muito a calhar ter um amigo do sexo oposto.
No aniversário de 5 anos de Júlia, ela ganhou de Nícolas uma casinha de plástico com a Cinderela e seu príncipe. Brincaram juntos com ele até os 12. Depois, brincavam de videogame, depois, de passear pela cidade, e um dia, finalmente, brincaram de se apaixonar. E noivaram.
Ela resolveu se casar de azul, sempre lembrando da Cinderela e do Príncipe, que faziam parte da história dos dois. Os meses se passaram, e uma semana antes do casamento, a única coisa que faltava era o enfeite do bolo. Júlia cansou de chamar e ficou magoada; que tipo de marido seria um noivo que não estava nem um pouco preocupado em comprar um enfeite para o bolo do próprio casamento? (Como toda mulher quando se chateia, ficou calada, zangada por ele não adivinhar o motivo.)
No dia do casamento, os noivos mal se falaram. Ele saiu cedo de casa e ela foi ao salão de beleza com as madrinhas e a mãe. Chorou desesperadamente porque não teria um enfeite para o bolo. Às oito da noite, mesmo assim, ela estava chegando à igreja, os cabelos loiros num coque e um vestido azul que fariam a verdadeira Cinderela ter uma crise de identidade. Dissimulava-se como Capitu, fingindo que estava totalmente realizada.
Juro a vocês que foi coincidência, que ninguém sabia de nada. Quando Júlia-Cinderela entrou pela porta, espantou-se tanto quanto Nícolas-Príncipe: Ele, ao ver a personificação da Cinderela; ela, ao ver que o bolo tinha um enfeite, mas não qualquer enfeite: os noivinhos eram os bonecos de plástico com os quais ele a presenteara dezoito anos antes, a surrada Cinderela e o desbotado Príncipe. Naquele momento, eles souberam que pertenceriam um ao outro para sempre.

domingo, 13 de maio de 2012

Mãe

O que eu sou, há quinze anos, seis meses e sete dias, é da minha mãe, sou dela; tenho sido dela durante todo esse tempo, sempre fui e sempre serei. Minha mãe merece todo o amor desse mundo - nada mais justo, já que essa é a quantidade de amor que ela me dá - e muito mais. Eu a levaria para todos os lugares aonde fosse, todos. Eu a teria sempre do meu lado, sempre numa redoma, imortal, intocável, imune a qualquer tipo de dor e qualquer coisa que não fosse linda, perfumada e colorida. Eu a protegeria de tudo e de todos. Desejo que nada nunca possa machucar, incomodar ou entristecer minha mãe. Desejo que ela realize todos os desejos e seja a pessoa mais feliz desse mundo e que ela se orgulhe de mim como me orgulho dela, meu norte, minha heroína, meu parâmetro. Há quinze anos, seis meses e sete dias, ela tem sido minha mentora; desde o dia em que meu coração bateu pela primeira vez até o dia em que ele bater pela última vez.
E quando eu não tiver mais a companhia dela, não sei como vou viver. Como dormir sem mil beijos de boa noite? Como acordar sem mil beijos de bom dia? Quem eu vou chamar quando alguma coisa der errado? Com quem vou comemorar quando alguma coisa der certo? Pelo que eu viveria se não houvesse a minha mãe pra me dar um abraço quando eu chegasse em casa?
Minha mãe não vai viver pra sempre (pensar nisso me faz chorar, desde sempre), mas eu fui educada de acordo com os princípios dela, sou sangue, sotaque e trejeitos dela, e isso vai ficar pra sempre. Quinze, vinte, cem anos. Minha mãe não vai viver pra sempre, mas ela é eterna.



(Feliz dia das mães às mães, avós e às filhas que um dia serão mães e avós)