Era enorme e tinha o corpo liso. Ficava olhando aquelas criaturinhas coloridas que andavam fora d'água e faziam todo o possível para serem aquáticas também. Às vezes, ela as via no céu, imitando os pássaros. Eles se chamavam humanos, ela sabia, e ficava ofendidíssima quando a chamavam de "baleia": uma tonelada e meia é um ótimo peso quando se tem cinco metros de comprimento.
Lá estava uma humana, voando, voando, planando. Mas o espaço aéreo pertence aos pássaros e não foi surpresa que um deles cruzasse o tecido que a mantinha no ar. E ela estava caindo, caindo, girando e esperneando. A baleia nadou, nadou e abriu a boca. A coisinha colorida e frágil caiu em cima de sua língua - caberiam mais umas setecentas daquela dentro da boca da baleia.
Ela se contorcia na boca da baleia, que não sentia nada além de cócegas e nadava tranquilamente em direção à costa, e às vezes ia até a superfície e abria a boca para que a moça pudesse ver que ainda estava viva e respirar um pouco. Foram alguns minutos de viagem, e a enorme baleia branca abriu a boca para que a moça pudesse sair em segurança na praia e ir embora, seguir em frente com a vida.
Mas o espaço terrestre pertence aos humanos e não foi surpresa que alguém com uma tonelada e meia e cinco metros de comprimento ficasse encalhada. E ela estava barbataneando (poderia espernear, mas não tinha pernas). A moça correu, correu e abriu os braços. Se esfregou no corpo molhado da baleia, e, em poucos minutos, vários humanos coloridos e frágeis estavam fazendo a mesma coisa. Vários, muitos, inúmeros.
Quando ela finalmente poderia ser levada pela correnteza, a moça mostrou todos os dentes. Não como faziam os tubarões, para morder; a baleia sabia que humanos faziam isso de felicidade (sempre ao contrário, esses humanos).
É sempre bom ver que alguns humanos se mancam de tentar dominar o mundo, pensou a baleia. Afinal, cabiam umas setecentas coisinhas daquela dentro de sua boca.
sexta-feira, 25 de maio de 2012
domingo, 20 de maio de 2012
Cinderela
Os pais de Nícolas e Júlia já eram amigos muitos anos antes de eles nascerem, e, coincidentemente, tornaram-se vizinhos. Os filhos nasceram na mesma época e cresceram juntos; passaram por todas as fases que crianças de sexos opostos passam: primeiro, a de não saber a diferença, depois, a de ter nojinho, e, aos poucos, a de perceber que pode vir muito a calhar ter um amigo do sexo oposto.
No aniversário de 5 anos de Júlia, ela ganhou de Nícolas uma casinha de plástico com a Cinderela e seu príncipe. Brincaram juntos com ele até os 12. Depois, brincavam de videogame, depois, de passear pela cidade, e um dia, finalmente, brincaram de se apaixonar. E noivaram.
Ela resolveu se casar de azul, sempre lembrando da Cinderela e do Príncipe, que faziam parte da história dos dois. Os meses se passaram, e uma semana antes do casamento, a única coisa que faltava era o enfeite do bolo. Júlia cansou de chamar e ficou magoada; que tipo de marido seria um noivo que não estava nem um pouco preocupado em comprar um enfeite para o bolo do próprio casamento? (Como toda mulher quando se chateia, ficou calada, zangada por ele não adivinhar o motivo.)
No dia do casamento, os noivos mal se falaram. Ele saiu cedo de casa e ela foi ao salão de beleza com as madrinhas e a mãe. Chorou desesperadamente porque não teria um enfeite para o bolo. Às oito da noite, mesmo assim, ela estava chegando à igreja, os cabelos loiros num coque e um vestido azul que fariam a verdadeira Cinderela ter uma crise de identidade. Dissimulava-se como Capitu, fingindo que estava totalmente realizada.
Juro a vocês que foi coincidência, que ninguém sabia de nada. Quando Júlia-Cinderela entrou pela porta, espantou-se tanto quanto Nícolas-Príncipe: Ele, ao ver a personificação da Cinderela; ela, ao ver que o bolo tinha um enfeite, mas não qualquer enfeite: os noivinhos eram os bonecos de plástico com os quais ele a presenteara dezoito anos antes, a surrada Cinderela e o desbotado Príncipe. Naquele momento, eles souberam que pertenceriam um ao outro para sempre.
domingo, 13 de maio de 2012
Mãe
O que eu sou, há quinze anos, seis meses e sete dias, é da minha mãe, sou dela; tenho sido dela durante todo esse tempo, sempre fui e sempre serei. Minha mãe merece todo o amor desse mundo - nada mais justo, já que essa é a quantidade de amor que ela me dá - e muito mais. Eu a levaria para todos os lugares aonde fosse, todos. Eu a teria sempre do meu lado, sempre numa redoma, imortal, intocável, imune a qualquer tipo de dor e qualquer coisa que não fosse linda, perfumada e colorida. Eu a protegeria de tudo e de todos. Desejo que nada nunca possa machucar, incomodar ou entristecer minha mãe. Desejo que ela realize todos os desejos e seja a pessoa mais feliz desse mundo e que ela se orgulhe de mim como me orgulho dela, meu norte, minha heroína, meu parâmetro. Há quinze anos, seis meses e sete dias, ela tem sido minha mentora; desde o dia em que meu coração bateu pela primeira vez até o dia em que ele bater pela última vez.
E quando eu não tiver mais a companhia dela, não sei como vou viver. Como dormir sem mil beijos de boa noite? Como acordar sem mil beijos de bom dia? Quem eu vou chamar quando alguma coisa der errado? Com quem vou comemorar quando alguma coisa der certo? Pelo que eu viveria se não houvesse a minha mãe pra me dar um abraço quando eu chegasse em casa?
Minha mãe não vai viver pra sempre (pensar nisso me faz chorar, desde sempre), mas eu fui educada de acordo com os princípios dela, sou sangue, sotaque e trejeitos dela, e isso vai ficar pra sempre. Quinze, vinte, cem anos. Minha mãe não vai viver pra sempre, mas ela é eterna.
(Feliz dia das mães às mães, avós e às filhas que um dia serão mães e avós)
E quando eu não tiver mais a companhia dela, não sei como vou viver. Como dormir sem mil beijos de boa noite? Como acordar sem mil beijos de bom dia? Quem eu vou chamar quando alguma coisa der errado? Com quem vou comemorar quando alguma coisa der certo? Pelo que eu viveria se não houvesse a minha mãe pra me dar um abraço quando eu chegasse em casa?
Minha mãe não vai viver pra sempre (pensar nisso me faz chorar, desde sempre), mas eu fui educada de acordo com os princípios dela, sou sangue, sotaque e trejeitos dela, e isso vai ficar pra sempre. Quinze, vinte, cem anos. Minha mãe não vai viver pra sempre, mas ela é eterna.
(Feliz dia das mães às mães, avós e às filhas que um dia serão mães e avós)
domingo, 29 de abril de 2012
Aviação
A aviação sempre foi um dos ramos mais glamourosos de todos, ou deveria ser. Principalmente no Brasil, onde há uma deficiência de pilotos. Isso acontece porque o curso de ciências aeronáuticas é caro, e as horas de voo, mais caras ainda. O fato de o Brasil ser um país em desenvolvimento, com alta circulação de turistas nos grandes centros, torna ridículo o fato de que a aviação e os aeroportos brasileiros são grandes bostas.
Quem conhece o aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília, sabe a raiva que se passa lá, quando, 100% das vezes, o portão de embarque é trocado na última hora, sabe que os horários dos voos são tão mal administrados, que, muitas vezes, as pessoas não têm onde sentar. O aeroporto de Santa Genoveva, em Goiânia, é outro grande lixo. Isso sem falar no aeroporto Atlas Brasil Cantanhede, de Boa Vista, em que a quase inexistente praça de alimentação fecha às 2h da madrugada e um dos dois (sim, DOIS!) voos diários chega às 4h e os passageiros ficam sem ter o que comer.
Quando se compara a aviação brasileira dos anos 80 e 90 e a atual, é vergonhoso. Eu me lembro de comer em louça de verdade, com talheres Tramontina de aço inoxidável cunhados com o símbolo da Varig em dourado e de ganhar, das aeromoças, livrinhos de colorir e lápis-de-cor do Variguinho. Aeromoças essas, que, por sinal, eram lindas, educadas e tinham o inglês perfeito. O único detalhe é que Boa Vista - São Paulo, nessa época, custava cinco mil reais. Hoje em dia se consegue por até duzentos, mas, por outro lado, os talheres e livrinhos de colorir foram substituídos por guardanapos finos, barrinhas de cereal e bebidas de má qualidade. Comparando o público, também, percebe-se que, antigamente, as viagens de avião eram só para a crème de la crème brasileira, a alta sociedade. Hoje, qualquer um pode viajar. Houve uma popularização dos preços e da aviação de tal modo que a falta de educação que se vê nos aviões é revoltante e não é, de modo algum, justificável, mesmo que o Brasil seja um país de terceiro mundo. Ser de origem humilde é bem diferente de ser porco e mal-educado.
Isso nos traz a um outro assunto importante: a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos que o Brasil sediará. Na minha opinião, antes de reformar os estádios de futebol e pensar se deveríamos ou não autorizar a venda de cachaça neles, deveríamos nos preocupar em reformar a aviação. Os turistas não vão chegar no Brasil pelo Maracanã, eles vêm de avião. Eles precisam entender o inglês que as aeromoças falam - se é que aquilo pode ser chamado de inglês - e precisam conseguir se mover nos aeroportos, sem mudanças súbitas de portões (e os idosos e deficientes? Já vi muitos que perderam voos porque não se locomovem rápido o suficiente), sem maus tratos dos tripulantes e, principalmente, sem atrasos, cancelamentos e overbooking. Quanto às ruas das grandes cidades e blá blá blá, pouco me importa; o que sei é que aconselho todos os brasileiros a comprarem vassouras para viajar em 2014 e 2016.
Quem conhece o aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília, sabe a raiva que se passa lá, quando, 100% das vezes, o portão de embarque é trocado na última hora, sabe que os horários dos voos são tão mal administrados, que, muitas vezes, as pessoas não têm onde sentar. O aeroporto de Santa Genoveva, em Goiânia, é outro grande lixo. Isso sem falar no aeroporto Atlas Brasil Cantanhede, de Boa Vista, em que a quase inexistente praça de alimentação fecha às 2h da madrugada e um dos dois (sim, DOIS!) voos diários chega às 4h e os passageiros ficam sem ter o que comer.
Quando se compara a aviação brasileira dos anos 80 e 90 e a atual, é vergonhoso. Eu me lembro de comer em louça de verdade, com talheres Tramontina de aço inoxidável cunhados com o símbolo da Varig em dourado e de ganhar, das aeromoças, livrinhos de colorir e lápis-de-cor do Variguinho. Aeromoças essas, que, por sinal, eram lindas, educadas e tinham o inglês perfeito. O único detalhe é que Boa Vista - São Paulo, nessa época, custava cinco mil reais. Hoje em dia se consegue por até duzentos, mas, por outro lado, os talheres e livrinhos de colorir foram substituídos por guardanapos finos, barrinhas de cereal e bebidas de má qualidade. Comparando o público, também, percebe-se que, antigamente, as viagens de avião eram só para a crème de la crème brasileira, a alta sociedade. Hoje, qualquer um pode viajar. Houve uma popularização dos preços e da aviação de tal modo que a falta de educação que se vê nos aviões é revoltante e não é, de modo algum, justificável, mesmo que o Brasil seja um país de terceiro mundo. Ser de origem humilde é bem diferente de ser porco e mal-educado.
Isso nos traz a um outro assunto importante: a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos que o Brasil sediará. Na minha opinião, antes de reformar os estádios de futebol e pensar se deveríamos ou não autorizar a venda de cachaça neles, deveríamos nos preocupar em reformar a aviação. Os turistas não vão chegar no Brasil pelo Maracanã, eles vêm de avião. Eles precisam entender o inglês que as aeromoças falam - se é que aquilo pode ser chamado de inglês - e precisam conseguir se mover nos aeroportos, sem mudanças súbitas de portões (e os idosos e deficientes? Já vi muitos que perderam voos porque não se locomovem rápido o suficiente), sem maus tratos dos tripulantes e, principalmente, sem atrasos, cancelamentos e overbooking. Quanto às ruas das grandes cidades e blá blá blá, pouco me importa; o que sei é que aconselho todos os brasileiros a comprarem vassouras para viajar em 2014 e 2016.
sábado, 21 de abril de 2012
Sábados
Quando a chuva bate forte na janela, quando meus pés ficam gelados, quando o travesseiro não me abraça de volta. Quando acordo de manhã, quando chego na escola, quando volto para casa. Quando estou no trânsito. Quando sinto cheiro de tinta fresca. Quando alguém me fala de futuro. Quando passo o dia inteiro me arrumando e experimento um milhão e meio de roupas (previamente escolhidas) antes de sairmos e digo que, ah, tomei um banho rápido e vesti qualquer coisa. Quando ensaio conversas. Qualquer minuto que eu passe sozinha. Quando as flores desabrocham, quando as manhãs são de sol, quando o vento faz os cabelos voarem. Quando quase reclamo da vida. Quando estou na internet e ninguém está cantando para mim. Nos sábados à noite, nos sábados de manhã, nos sábados à tarde, bem como em todos os outros dias, e em todas as outras horas, eu me lembro de você.
sábado, 31 de março de 2012
Sete - Parte V
Deu um pulo da cama, e, em cinco minutos, estava no escritório, sozinha. Mais alguns minutos, e estava tocando a campainha de Serafim desesperadamente.
- Carolina, o que é que você quer? São oito da manhã, pelo amor de Deus!
- Elas passaram o Carnaval em Salvador. Juntas, no mesmo hotel.
- Chame as mães.
Luísa fora sozinha, tinha família na cidade. Mariana estava acompanhada de duas amigas que haviam sido interrogadas, mas não se lembravam de muita coisa, porque passaram a noite do Carnaval bebendo como se não houvesse amanhã. Mesmo assim, Carolina fez questão de chamar Maria Clara, uma delas, que parecia um tanto omissa.
- Já disse que não lembro de nada - ela rebatia todas as perguntas com a mesma resposta.
- Você não bebe. Seu namorado disse que você não bebe. Ou você está mentindo para ele, ou para nós, e, se for para nós, isso é crime.
- Não lembro muito bem que horas saímos do hotel. Eu, Mariana e Letícia. A gente foi à praia e depois foi direto pular carnaval. Tinha muita gente, mal dava pra ficarmos juntas, então resolvemos que a primeira que chegasse ao hotel de volta ligaria para as outras. Eu não bebo, mesmo, fiquei dançando até amanhecer. Mas teve uma hora em que fui passear um pouco e saí do meio da multidão. Encontrei Letícia, ela estava meio bêbada, mas continuava sozinha. Nenhuma de nós viu Mariana, até o amanhecer, mais ou menos cinco e meia, seis horas.. Já estávamos juntas de novo, mas ela tinha sumido. Fomos comprar umas bebidas e ouvimos ela gritando. Quando nos aproximamos, ela estava brigando com um homem e uma mulher, não sabíamos quem eram, não interferimos. Fomos embora, voltamos pro hotel e ligamos pra ela. Uma hora depois, ela chegou e contou que estava de rolo com ele pela internet há alguns meses, e eles tinham combinado de se encontrar em Salvador no carnaval, mas quando ela o reconheceu ele estava ficando com outra garota.
- Ela disse o nome dessa outra garota?
- Acho que era Luísa.
- Carolina, o que é que você quer? São oito da manhã, pelo amor de Deus!
- Elas passaram o Carnaval em Salvador. Juntas, no mesmo hotel.
- Chame as mães.
Luísa fora sozinha, tinha família na cidade. Mariana estava acompanhada de duas amigas que haviam sido interrogadas, mas não se lembravam de muita coisa, porque passaram a noite do Carnaval bebendo como se não houvesse amanhã. Mesmo assim, Carolina fez questão de chamar Maria Clara, uma delas, que parecia um tanto omissa.
- Já disse que não lembro de nada - ela rebatia todas as perguntas com a mesma resposta.
- Você não bebe. Seu namorado disse que você não bebe. Ou você está mentindo para ele, ou para nós, e, se for para nós, isso é crime.
- Não lembro muito bem que horas saímos do hotel. Eu, Mariana e Letícia. A gente foi à praia e depois foi direto pular carnaval. Tinha muita gente, mal dava pra ficarmos juntas, então resolvemos que a primeira que chegasse ao hotel de volta ligaria para as outras. Eu não bebo, mesmo, fiquei dançando até amanhecer. Mas teve uma hora em que fui passear um pouco e saí do meio da multidão. Encontrei Letícia, ela estava meio bêbada, mas continuava sozinha. Nenhuma de nós viu Mariana, até o amanhecer, mais ou menos cinco e meia, seis horas.. Já estávamos juntas de novo, mas ela tinha sumido. Fomos comprar umas bebidas e ouvimos ela gritando. Quando nos aproximamos, ela estava brigando com um homem e uma mulher, não sabíamos quem eram, não interferimos. Fomos embora, voltamos pro hotel e ligamos pra ela. Uma hora depois, ela chegou e contou que estava de rolo com ele pela internet há alguns meses, e eles tinham combinado de se encontrar em Salvador no carnaval, mas quando ela o reconheceu ele estava ficando com outra garota.
- Ela disse o nome dessa outra garota?
- Acho que era Luísa.
segunda-feira, 26 de março de 2012
Mateusinho
Há alguns dias, na academia, encontrei uma velha amiga dos meus pais, que conheço desde que... Desde que me conheço por gente. Ela tem três filhos, uma menina e dois meninos, dos quais me lembro perfeitamente, há dez, treze anos atrás, correndo no meio do mato que a cidade era. Infelizmente, eu e essa família perdemos o contato, já faz algum tempo, até que (não tão) coincidentemente, o caçula, Mateus, foi meu colega de sala, em 2008. Ele fazia natação, eu me lembro, e, durante esse ano, fomos bons amigos.
Ele foi morar em Natal, em 2009. Fiquei sabendo que, agora, mora no Rio de Janeiro, em uma república, porque foi contratado para nadar profissionalmente pelo Botafogo. Não nos falamos mais, então achei que ficaria meio estranho dar os parabéns do nada, mas estou muito, muito feliz por ele. Mateusinho sempre foi um ótimo nadador, ótima pessoa, ótimo amigo. Ele merece isso tudo e muito mais. E esse "muito mais", sei que vai conseguir.
Ele foi morar em Natal, em 2009. Fiquei sabendo que, agora, mora no Rio de Janeiro, em uma república, porque foi contratado para nadar profissionalmente pelo Botafogo. Não nos falamos mais, então achei que ficaria meio estranho dar os parabéns do nada, mas estou muito, muito feliz por ele. Mateusinho sempre foi um ótimo nadador, ótima pessoa, ótimo amigo. Ele merece isso tudo e muito mais. E esse "muito mais", sei que vai conseguir.
domingo, 25 de março de 2012
Poema
Andando na rua, conheci um poema. Ele era muito organizado e estava sempre em forma. Falava em rimas e me fazia refletir. Tornamo-nos bons amigos e ele me apresentou para muitos outros poemas. Alguns eram tão organizados que pareciam ter algum tipo de TOC, e outros, nem tanto. Havia os gagos, os cultos, os antigos, os bem novinhos, alguns inacabados e outros enormes. Moravam todos juntos, em um livro, que os humanos chamavam de "coletânea", mas que eles chamavam de "república". Depois que conheci todos os poemas daquela república, eles me apresentaram aos amigos estrangeiros. Conheci franceses, holandeses, alemães, neozelandeses, mexicanos. Eles se gabavam: "fui escrito por Shakespeare", "fui escrito por Camões", "sou de Lorenzo de Médici". Às vezes, enquanto conversava com algum deles, eu me cansava e dormia em seu colo. Viajávamos juntos, frequentemente; eles me mostravam coisas, pessoas e lugares incríveis, e depois, me deixavam de volta na república. Vagarosamente, eu voltava à realidade.
Andando na rua, conheci uma canção..
Andando na rua, conheci uma canção..
Sete - Parte IV
Não parecia haver qualquer conexão entre Luísa e Mariana, a segunda vítima. Não moravam no mesmo bairro, não estudavam na mesma escola, não tinham amigos em comum, não frequentavam os mesmos lugares.. Nada. Mas ninguém faz nada aleatoriamente, pensava Carolina.
Não houve mais bilhetes, nem houve mais vítimas.
O delegado geral, chefe dos detetives, Eduardo Mendonça, entrou, batendo as portas.
- Teles, Fontes, venham até a minha sala.
A porta se fechou sozinha depois que os dois entraram.
- Há alguma relação entre os casos Sete? - ele falou, referindo-se a Luísa, Mariana e ao assassino.
- Até agora, não descobrimos nada, mas estamos procurando - Serafim respondeu prontamente.
- O caso será arquivado. Já faz seis semanas e temos outros casos para investigar.
- Mas o que diremos às famílias?
- Isso não é meu trabalho, é, Teles?
E ele saiu da sala e bateu a porta de novo. Carolina estava com uma cara horrível, como se, a qualquer momento, fosse sair atrás dele e lhe passar um sermão.
O dia seguinte era um sábado, que passou vazio, assim como o domingo, já que o caso Sete estava arquivado. A segunda-feira foi um dia chuvoso daqueles em que a cama parece bem mais aconchegante do que habitualmente. Carolina levantou, relutante, tomou banho, se vestiu e pegou uma maçã. Quando abriu a porta, um bilhete caiu aos seus pés.
"Sete"
Ela decidira ser detetive por causa de horas como aquela, em que a adrenalina percorria seu corpo. Encontrou Serafim no escritório e eles se sentaram para analisar o papel.
Havia uma digital. O banco de dados a associou a um presidiário, Marcos Gomes. Ele fora declarado morto havia dois dias.
Não houve mais bilhetes, nem houve mais vítimas.
O delegado geral, chefe dos detetives, Eduardo Mendonça, entrou, batendo as portas.
- Teles, Fontes, venham até a minha sala.
A porta se fechou sozinha depois que os dois entraram.
- Há alguma relação entre os casos Sete? - ele falou, referindo-se a Luísa, Mariana e ao assassino.
- Até agora, não descobrimos nada, mas estamos procurando - Serafim respondeu prontamente.
- O caso será arquivado. Já faz seis semanas e temos outros casos para investigar.
- Mas o que diremos às famílias?
- Isso não é meu trabalho, é, Teles?
E ele saiu da sala e bateu a porta de novo. Carolina estava com uma cara horrível, como se, a qualquer momento, fosse sair atrás dele e lhe passar um sermão.
O dia seguinte era um sábado, que passou vazio, assim como o domingo, já que o caso Sete estava arquivado. A segunda-feira foi um dia chuvoso daqueles em que a cama parece bem mais aconchegante do que habitualmente. Carolina levantou, relutante, tomou banho, se vestiu e pegou uma maçã. Quando abriu a porta, um bilhete caiu aos seus pés.
"Sete"
Ela decidira ser detetive por causa de horas como aquela, em que a adrenalina percorria seu corpo. Encontrou Serafim no escritório e eles se sentaram para analisar o papel.
Havia uma digital. O banco de dados a associou a um presidiário, Marcos Gomes. Ele fora declarado morto havia dois dias.
sábado, 10 de março de 2012
Sete - Parte III
O bilhete do segundo dedo dizia "o sétimo dia", e Serafim supôs que deveria esperar até que sete dias houvessem se passado desde que Luísa morrera, mas foi repreendido por Carolina, que disse que detetives nunca esperam e que aquilo podia ser a data da morte da próxima vítima. Sem sucesso, eles passaram os cinco dias seguidos procurando mais pistas.
Quando o sétimo dia chegou, Serafim recebeu uma visita da mãe de Luísa, Eloá, que falava palavras sem nexo e estava em prantos. Depois de algum tempo, ela revelou aos detetives que entrara no quarto da filha para fazer uma faxina e encontrara um dedo decomposto embaixo do travesseiro. Em minutos, estavam de volta à casa, Carolina recolhendo o dedo e Serafim procurando o terceiro bilhete.
"7"
- Esse cara deve ter uma fixação pelo número sete - ele resmungou. - Que diabos ele quer que eu entenda com isso aqui?
- Venha, vamos voltar, deve haver alguma explicação racional e eu aposto como você vai sonhar com ela hoje.
Deixaram a casa e voltaram ao escritório, entregando o dedo ao legista e sentando-se para analisar o bilhete. Carolina foi até sua mesa buscar uma lupa, e, ao abrir a gaveta - a mesma em que encontrara o primeiro dedo - encontrou uma folha de papel inteira, ao contrário das outras.
"6"
- Para ter colocado isso aqui, ele deveria saber que eu voltaria ao escritório e que abriria essa mesma gaveta - refletiu. Analisaram o bilhete e levantaram hipóteses improváveis por mais algum tempo, até que Serafim se cansou e resolveu ir tirar o atraso de sono. Abriu o armário para buscar o casaco, e o que encontrou foi outra folha de papel.
"5"
- CAROLINA!
Então ela entendeu tudo.
- Quanto tempo faz desde que saímos da casa de Eloá?
- Hum.. Duas horas.
- Há duas horas encontramos o número sete. Então, encontramos o seis. E agora, suponho que tenha se passado mais uma hora, o cinco. Ou tem alguém brincando com a gente e tentando se passar pelo assassino, ou ele está aqui dentro.
- E se ele estiver aqui dentro e contando as horas, alguma coisa deve acontecer em cinco horas.
- A próxima vítima, só pode ser isso. Já temos os três dedos que faltavam em Luísa. Mas onde?
- Na sétima a partir da sétima! Na rua Maria Antonieta!
Dirigindo como um ás do volante, Serafim levou Carolina ao local onde encontrara o segundo dedo, mas a rua não estava mais lá. A rua Maria Antonieta sumira? Mas estivera ali, ele não podia tê-la imaginado, porque foi onde encontrou o segundo dedo de Luísa. Voltou, confuso, ao cruzamento da rua que descia o rio com a sétima, onde Luísa fora encontrada. Ia dobrar. À esquerda, não havia sete ruas. Dobrou à direita. Desceu até a quinta e última rua antes do rio, a av. Eurípedes B. Milano, e contou mais duas. A sétima. Estavam no Parque dos Aguateiros. Desceram, com as armas em punho.
E lá estava, nu, entre algumas árvores e embaixo de algumas folhas, enrolado em seus próprios cabelos e sem dois de seus dedos, o corpo da segunda vítima.
Quando o sétimo dia chegou, Serafim recebeu uma visita da mãe de Luísa, Eloá, que falava palavras sem nexo e estava em prantos. Depois de algum tempo, ela revelou aos detetives que entrara no quarto da filha para fazer uma faxina e encontrara um dedo decomposto embaixo do travesseiro. Em minutos, estavam de volta à casa, Carolina recolhendo o dedo e Serafim procurando o terceiro bilhete.
"7"
- Esse cara deve ter uma fixação pelo número sete - ele resmungou. - Que diabos ele quer que eu entenda com isso aqui?
- Venha, vamos voltar, deve haver alguma explicação racional e eu aposto como você vai sonhar com ela hoje.
Deixaram a casa e voltaram ao escritório, entregando o dedo ao legista e sentando-se para analisar o bilhete. Carolina foi até sua mesa buscar uma lupa, e, ao abrir a gaveta - a mesma em que encontrara o primeiro dedo - encontrou uma folha de papel inteira, ao contrário das outras.
"6"
- Para ter colocado isso aqui, ele deveria saber que eu voltaria ao escritório e que abriria essa mesma gaveta - refletiu. Analisaram o bilhete e levantaram hipóteses improváveis por mais algum tempo, até que Serafim se cansou e resolveu ir tirar o atraso de sono. Abriu o armário para buscar o casaco, e o que encontrou foi outra folha de papel.
"5"
- CAROLINA!
Então ela entendeu tudo.
- Quanto tempo faz desde que saímos da casa de Eloá?
- Hum.. Duas horas.
- Há duas horas encontramos o número sete. Então, encontramos o seis. E agora, suponho que tenha se passado mais uma hora, o cinco. Ou tem alguém brincando com a gente e tentando se passar pelo assassino, ou ele está aqui dentro.
- E se ele estiver aqui dentro e contando as horas, alguma coisa deve acontecer em cinco horas.
- A próxima vítima, só pode ser isso. Já temos os três dedos que faltavam em Luísa. Mas onde?
- Na sétima a partir da sétima! Na rua Maria Antonieta!
Dirigindo como um ás do volante, Serafim levou Carolina ao local onde encontrara o segundo dedo, mas a rua não estava mais lá. A rua Maria Antonieta sumira? Mas estivera ali, ele não podia tê-la imaginado, porque foi onde encontrou o segundo dedo de Luísa. Voltou, confuso, ao cruzamento da rua que descia o rio com a sétima, onde Luísa fora encontrada. Ia dobrar. À esquerda, não havia sete ruas. Dobrou à direita. Desceu até a quinta e última rua antes do rio, a av. Eurípedes B. Milano, e contou mais duas. A sétima. Estavam no Parque dos Aguateiros. Desceram, com as armas em punho.
E lá estava, nu, entre algumas árvores e embaixo de algumas folhas, enrolado em seus próprios cabelos e sem dois de seus dedos, o corpo da segunda vítima.
Assinar:
Postagens (Atom)