domingo, 18 de agosto de 2013

Livros-consciência

Houve uma época em que, ao nascer, cada pessoa ganhava um livro em branco. Assim que começasse a tomar as próprias decisões, o livro começava a escrever em si mesmo, e a história que ele continha era a da vida de seu dono, de modo que o final dela sempre seria o momento presente daquela pessoa. 
Cada decisão da história de todas as vidas, nessa época, era documentada, e para descobrir tudo sobre a vida e os pensamentos de alguém, bastava ter seu livro em mãos.
Estes livros, infelizmente, tornavam as pessoas muito influenciáveis. Como era possível prever as ações premeditadas de alguém, também era muito fácil saber como persuadi-las. A solução foi transferir seu conteúdo para algum lugar individual.
Assim, as próximas gerações deixaram de ganhar livros e passaram a ganhar consciências. Suas autobiografias agora eram pessoais e intransferíveis, intangíveis, de modo que só seriam compartilhadas com quem elas escolhessem. 
Em um futuro distante, cientistas descobriram a historia da origem das consciências e começaram uma busca pelos livros de antigamente.
Os livros-consciência, aparentemente, não tinham sido extintos: tinham sido adaptados para não revelar a identidade de seus donos e, depois, publicados. Cada um dos livros do mundo, então, era uma consciência. Todos os livros publicados seriam consciências de pessoas que não ligariam se fossem lidas e cujas idéias seriam repassadas para outras.
Por isso, se aconselha três coisas para cada humano: ter um filho, plantar uma árvore e.. Escrever um livro. Escrever uma consciência. Ser um livro aberto. O senso comum de todos os humanos se desenvolveu porque todos se fizeram a mesma pergunta quando souberam da historia das consciências: se nossas autobiografias se escrevessem sozinhas, o que estaria publicado nelas hoje?

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