sexta-feira, 15 de julho de 2011

O Príncipe e a Bailarina - Primeiras Linhas

acordei com o som da leve chuva que caía do céu na diagonal, tamborilando no vidro da minha janela. Levantei, calcei as pantufas e andei em direção à sala de banho. Escovei os dentes, lavei o rosto e voltei ao quarto. Abri a porta. Ainda meio grogue, desci o primeiro lance de escadas em direção à ala norte do palácio. Alguns passos depois estava na enorme cozinha.
- Vossa Alteza não deveria estar aqui... - ouvi Jeanna murmurando atrás de mim.
- Desculpe. Acordei com fome, mas não queria dar trabalho a você - respondi sem jeito, colocando uma mão no ombro direito dela.
- Vá para a mesa e eu levo seu café.
Jeanna cuidava de mim desde que eu era um bebê. Ela conhecera todas as minhas ficantes e todos os meus amigos. Sabia de tudo que se passava pela minha cabeça. Se fosse religioso, eu diria que ela era meu anjo da guarda.
Abri mais algumas portas e sentei-me em meu lugar à majestosa mesa de 60 lugares que tinha mais de 300 anos e pertencia à minha família desde que fora fabricada. Era a única exemplar no mundo inteiro.
Jeanna, que tinha a pele morena à brasileira e grandes olhos castanhos, trouxe frutas, pão e uma colher de chá de mel que me dava todos os dias.
- Trouxe achocolatado - ela disse sorrindo.
- Obrigado. Você é mesmo incrível - sorri de volta.
Eu devia ser o único príncipe no mundo que tomava achocolatado e tinha vergonha desse hábito. Nunca havia contado para ninguém sobre isso.
- E como você ficou com Tereza?
- Não estamos mais juntos há algum tempo...
- Eu sei. Você ainda tem sentimentos por ela?
- Acho que não. Quer dizer, talvez. Mas ela não é a mulher da minha vida.
- Como você tem tanta certeza?
- Porque quando conhecer a mulher da minha vida não vou ter nenhuma dúvida de que é ela..
Jeanna riu e retirou-se. Ouvi passos. Mamãe entrou na sala.
- Bom dia, Guilherme.
- Bom dia, mamãe.
Cristina entrou na sala, nos desejou bom dia e puxou a cadeira para que mamãe se sentasse.
- O que Vossa Alteza Real deseja comer hoje?
- Não estou bem-disposta, Cristina. Hoje, traga-me suco de fruta e alguns daqueles brioches que Lorde Anderrau trouxe ontem, por favor.
Ela saiu da sala.
- Lavínia!
- Bom dia, Delfim.
- Por que o jardineiro está mexendo no meu pomar?
- Porque o pomar é propriedade pública e precisa ser podado. Agora, deixe de reclamar. Sente-se e venha tomar café. As meninas devem estar descendo.
- Bom dia, Guilherme.
- Bom dia, papai.
Minhas irmãs entraram por último.
- Bom dia, flores do dia! - Amábile disse.
- Bom dia, Amábile. - todos respondemos.
- Bom dia, Guilherme. - Eloísa falava com um de cada vez, sempre.
- Bom dia, Eloísa.
- Bom dia, papai.
- Bom dia, filha.
- Bom dia, mamãe.
- Bom dia, querida.
E durante aquele momento, nós éramos uma família comum reunida para o café da manhã.
- Mamãe - Amábile foi a primeira a romper o silêncio.
- Sim?
- Eloísa e eu decidimos aprender a dançar.
- Dançar o que?
- Ballet e valsa. Todas as princesas hoje em dia dançam.
- E como vocês pretendem fazer isso?
- Queremos contratar um professor.
- Mas como vamos encontrar um professor?
- Eloísa, me ajude aqui..
- Mãe, é só espalhar alguns anúncios pela cidade. As pessoas virão se apresentar e nós iremos escolher o que mais nos agrada.
Enquanto mamãe, Eloísa e Amábile discutiam, eu e papai observávamos. Mas ele se intrometeu.
- Um professor, não.
- O quê? - Eloísa pareceu surpresa.
- Professora. Uma professora, e não um professor.
- Por quê? - Perguntou Amábile.
- Porque não quero que nenhuma de vocês duas contrate um professor só para se apaixonar. Não quero problemas, vocês sabem como funciona nessa família, sabem que não podem se apaixonar por qualquer um. Então, para evitar problemas, uma professora.
- E Guilherme? - Amábile rebateu.
- O que tem eu? - Perguntei.
- Você se apaixonaria pela professora.
- Guilherme tem Tereza.
- Na verdade, pai, faz meses que eu e Tereza não estamos mais juntos. Mas não vou me apaixonar por ninguém..
- Você também quer aprender a dançar ballet e valsa, Guilherme? - Papai pareceu bravo.
- Algum problema se eu quiser?
- São danças femininas.
Aquilo irritou Eloísa, que era extremamente artística.
- Danças não têm sexo, papai. Homens podem dançar ballet tanto quanto mulheres podem praticar dança de rua.
- Não se intrometa, Eloísa! - Papai esbravejou.
- Você quer dançar ballet e valsa, Guilherme?
- Sim, papai.
- Então comprometa-se a não se apaixonar.
- Eu me comprometo a não me apaixonar - repeti.
- Então, parece que precisamos de alguns panfletos. Subam, tomem banho, se arrumem e desçam. Cristina?
Cristina entrou na sala.
- Sim?
- Ligue para uma gráfica.
- Sim, Vossa Alteza Real.
Jenna me alcançou no corredor.
- Você vai aprender a dançar ballet e valsa?
- Claro que não. São danças femininas!
- Então por que disse que ia?
- Para irritar papai.
- Você não tem jeito.. - Ela bagunçou meu cabelo. - Agora vá se arrumar.


Essas são as primeiras linhas de 'O Príncipe e a Bailarina'. Ainda não estão perfeitas, precisam de vááários ajustes, mas eu já me envolvi tanto com essa história que não pude deixá-la continuar sendo só um rascunho no meu blog. Tomara que agrade.

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