quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Lorraine

Lorraine era conhecida na escola como Rain, por ser cinzenta e tristonha. Desde pequena, não parecia conhecer a vida de verdade, e sim, viver em um universo paralelo. Seus pais, no início, acharam que ela era autista, mas, mais tarde, ela foi diagnosticada como psicopata. Entendia o amor, a felicidade, o ciúmes e outros sentimentos em geral, mas não os tinha dentro de si. Ela não sentia nada. Sua mãe sofria muito por isso.
Um dia, Rain sumiu. Foi a uma festa e não voltou mais. Seus pais chamaram todas as unidades de investigação possíveis, espalharam cartazes pela França inteira, mas não encontraram a filha. Os meses passavam, as esperanças de todos diminuíam, e a menina não aparecia. Nem uma única pista. Nem uma digital, nem um fio de cabelo, nem pegadas, marcas de pneu, fios de roupas, objetos perdidos. Nada.
Um belo dia, seis meses depois, os Louis e Vivianne Sabin chegaram em casa e se depararam com a filha sentada no sofá da sala. Abraçaram-na, incrédulos e chorosos, mas quando perguntaram a Rain onde ela estivera, a resposta foi:
- Minha vida está condicionada à ignorância de vocês em relação a isso.
Eles aceitaram, hesitantes, mas conformados. Com as semanas, Vivianne percebeu que Rain não era mais uma gota de chuva inconsistente, e sim, um raio de sol sólido e brilhante, estava cheia de vida como se nunca houvesse deixado de sentir nada.
Ela subiu as escadas de madeira, entrou no quarto onde o marido cochilava, acendeu a luz e bateu a porta violentamente.
- Céus, Vivianne, por que tanto alarde?
- Lorraine não é psicopata.
- Não vamos falar disso de novo...
- Ela sente, Louis! Ela sente!
- Não. Escute, ela não sente.
- Eu sei onde ela esteve durante esses seis meses.
Louis levantou, alarmado, com as pupilas dilatadas e as mãos trêmulas.
- Onde?
- Descobrindo o amor.

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