O esgoto cheirava a... Esgoto. Ele estava com as roupas molhadas de andar por lá. Era nojento, escuro, frio, malcheiroso e cheio de insetos e roedores. Mas, bem, escolhera ser detetive porque gostava de sair da rotina. Não é todo dia que se entra em um esgoto à procura de rastros de um adolescente sequestrado há dois dias. Não é todo dia, também, que se recebe um telefonema oferecendo milhões de reais "pelo trabalho do melhor profissional da área".
Ele andava, munido apenas de uma lanterna, quando tropeçou e se molhou dos pés à cabeça na água cheia de resíduos. Aliás, se é que aquilo podia ser chamado de água. Ficou um tempo sentado, chafurdando, quando começou a escutar movimento. Era intenso demais para ser causado por roedores. Incorporou todos os detetives de cinema que conhecia, fez uma cara bem séria, colocou um dedo por cima da luz da lanterna para diminuir sua intensidade e moveu-se vagarosa e silenciosamente em direção ao som. À medida que avançava, ele ficava mais alto, mais constante. Quando beirou o insuportável, o detetive soube que estava perto. Parecia vir de dentro da parede. Obviamente, não era uma parede. "Ah", pensou, "que truque batido".
Tudo aconteceu num piscar de olhos. Ele havia encontrado a entrada, a porta de madeira - como não a vira antes? - se abriu, ele estava seco, cheiroso, num ambiente totalmente diferente. Alguma coisa curvilínea se movia em sua direção. Ela o tocou, espalhou seu perfume no corpo dele e, quando o detetive viu, os olhos mais azuis do mundo se divertiam, cheios de malícia. Helena era sua paixão desde sempre. Ela beijava seu pescoço, o acariciava e revirava os olhos. "Oh, Guilherme, eu senti muito a sua falta..", ela sussurrava, sedutora, em seu ouvido, enquanto o empurrava para uma superfície macia.
Guilherme era o melhor detetive que conhecia. Sempre desvendava os casos e nunca se prendia a futilidades. Mas Helena.. Ele não podia escapar. Fechou os olhos, deixou-se envolver, respirou o mais puro perfume, tocou os sedosos cabelos e beijou o pescoço mais macio do mundo. Sentiu o chão tremer, a cabeça girar e Helena parecia se distanciar. Alguma coisa o atingiu na cabeça. Abriu os olhos. Ela sumira, a cama também. O lugar fedia, era um buraco. Ainda estava com roupas molhadas cercado por roedores. Ao invés da moça, um homem de máscara sorriu amargamente.
"Bem-vindo ao inferno."
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