sábado, 7 de janeiro de 2012

Sobre Cotas

Não sou negra, sou branca. Não sou deficiente, nem física e nem mental. Não sou indígena. Em hipótese alguma, as leis federais me concedem o direito de ingressar numa faculdade fazendo o uso de cotas. Também não sou pobre e nem estudo em escola pública. E se eu fosse negra, mesmo sendo rica e tendo um alto nível de potencial, poderia usar as cotas para entrar em uma faculdade, só para me valer dessa facilidade. Se me faltasse um dedo, se eu tivesse uma perna mais curta que a outra, eu poderia usar as cotas também. Mas se eu fosse uma pessoa branca, em perfeitas condições físicas, e pobre, sem condições para pagar uma escola ou faculdade particular, não teria direito a cotas.
Não sei qual é o sentido que isso faz. Tem gente por aí que estuda nas escolas públicas do interior, e, independente da cor e da quantidade de dedos ou comprimento das pernas, é muito mais bem instruída do que gente que tem todas as condições financeiras necessárias para ter um nível de instrução astronomicamente maior. Porque quem quer estudar estuda em qualquer lugar.
As cotas devem existir, sim. Mas não do jeito que existem agora, para todos os negros e todos os indígenas e todos os deficientes. Desse jeito, elas não estão ajudando, e sim, atrapalhando. Estão abrindo brechas para quem quer se aproveitar da facilidade de não precisar passar em um vestibular para estar na faculdade. As cotas devem ser separadas de acordo com a renda mensal de cada um, independente da cor, porque não existem escolas próprias para negros ou brancos. E nem todo tipo de deficiência deveria ser admitido, pelo simples fato de que certas deficiências são sinônimos de incapacidade, e outras não. Se eu tivesse uma perna mais comprida que a outra, seria deficiente e teria minha vaga em muitas universidades garantida, sem ter nenhuma incapacidade. E isso seria extremamente injusto com quem realmente tem algum tipo de deficiência e que precisa das cotas.
A última frase do parágrafo anterior me fez pensar que ninguém realmente precisa de cotas. Afinal, deficientes mentais, que seriam incapazes de passar em um vestibular, seriam capazes de passar em todas as matérias da faculdade? E, mesmo se passassem, seriam eles capazes de exercer serviços de qualidade no mercado profissional? E os negros, que nunca tiveram condições de pagar por cursos de inglês e escolas particulares, não seriam capazes de pegar emprestados os livros de uma biblioteca municipal e estudar com base neles? Nos Estados Unidos, tem gente que nunca foi à escola, que foi educada em casa, e cresceu na vida tanto quanto ou até mais que quem foi. No Brasil, isso só não acontece porque é proibido.
Só posso afirmar, com certeza, uma coisa: quando as cotas não existiam, todo mundo ingressava na faculdade pelos mesmos meios, e só conseguiam os que eram capazes. E o nível de escolaridade e as condições financeiras não determinam o nível de informação.

O outro gume da faca está aqui.

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