O aniversário de 15 anos da minha filha foi a coisa mais linda que se pode imaginar. Eu insisti para que ela viajasse, mas ela preferiu fazer uma festa. Convidou catorze amigas e organizou uma valsa. Quis descer das escadas de aço e quis que eu trocasse suas sapatilhas brancas por sapatos de salto prateados. Eu conhecia o procedimento, na teoria, mas nunca tinha tido uma filha que fizesse uma festa de 15 anos como a dela. Como se tivesse outras filhas além dela.
Todas as luzes se apagaram e tudo ficou invisível. Um holofote de luz branca se acendeu e lá estava ela, como uma princesa, sorrindo, parada antes de descer as escadas. Desceu-as devagar, como quem brinca, aproveitando para ser criança. Quando seus pés tocaram o chão, já era uma mulher.
Seu olhar me atingiu. Olhos marcados por muita maquiagem, castanho-avermelhados fortíssimos e transbordando personalidade. Ela se aproximou. Todos esperavam que se sentasse, mas, antes, se inclinou e me deu um beijo no rosto.
Depois dizem que gente grande não sabe mais o que é magia.
domingo, 18 de setembro de 2011
O Amor
A vida de Pablo pode ser dividida em dois períodos: A.V. e D.V.; Antes de conhecer Valéria era uma pessoa, e depois de tê-lo feito, era outra. Se não continuasse com o mesmo rosto seria irreconhecível. Foi como se tivesse nascido de novo. Ele era racional, equilibrado, centrado, nunca demonstrou muita emoção. Era rude e difícil de lidar. Mas aí ele a conheceu e amou tanto, mas tanto, que tornou-se um tolo apaixonado e tagarela. Ria por tudo. Isso é uma coisa estranha, mas maravilhosamente nobre, o amor.
sábado, 17 de setembro de 2011
Esperar pelo Futuro
Ela não esperava nada. Nem uma mensagem, nem ligação, nem cartas.. Não depois daquela briga horrível que tivera com ele. Xingou-o e depois passou noites chorando.
Mas naquele dia, recebeu uma mensagem na qual ele dizia que a perdoava. E ele conversou com ela no msn, e fez com que ela conversasse com ele também. Como se nada nunca tivesse acontecido. Como se todas as brigas e lágrimas tivesses sumido e eles se conhecessem a vida inteira, como melhores amigos.
Ela chorou quando se lembrou do perfume dele. Tinha saudade de receber um sms de 'bom dia' todas as manhãs e um telefonema de 'boa noite' antes de dormir. Ela tinha planejado seguir em frente e já estava com meio caminho andado quando ele apareceu e fê-la retroceder.
Ela não queria aquilo que fazia. Ela queria o impossível, queria ele. Queria um abraço e um beijo dele. Mas sabia que um não cabia na vida do outro.
Conversaram pelo telefone e ele sabia exatamente como ela se sentia. Ela desligou rapidamente e refletiu sobre a vida. Ocorreu-lhe que talvez aquele fosse o destino dos dois: conhecer-se, separar-se, seguir em frente e depois encontrar-se de novo. Quando isso acontecesse, não haveria mais obstáculos. Ela seria maior de idade e ele estaria formado na faculdade. Tudo voltaria ao normal. Ela sabia que ele era o que deveria ser e sabia que ele o seria para sempre. Por isso, decidiu esperar pelo futuro.
Mas naquele dia, recebeu uma mensagem na qual ele dizia que a perdoava. E ele conversou com ela no msn, e fez com que ela conversasse com ele também. Como se nada nunca tivesse acontecido. Como se todas as brigas e lágrimas tivesses sumido e eles se conhecessem a vida inteira, como melhores amigos.
Ela chorou quando se lembrou do perfume dele. Tinha saudade de receber um sms de 'bom dia' todas as manhãs e um telefonema de 'boa noite' antes de dormir. Ela tinha planejado seguir em frente e já estava com meio caminho andado quando ele apareceu e fê-la retroceder.
Ela não queria aquilo que fazia. Ela queria o impossível, queria ele. Queria um abraço e um beijo dele. Mas sabia que um não cabia na vida do outro.
Conversaram pelo telefone e ele sabia exatamente como ela se sentia. Ela desligou rapidamente e refletiu sobre a vida. Ocorreu-lhe que talvez aquele fosse o destino dos dois: conhecer-se, separar-se, seguir em frente e depois encontrar-se de novo. Quando isso acontecesse, não haveria mais obstáculos. Ela seria maior de idade e ele estaria formado na faculdade. Tudo voltaria ao normal. Ela sabia que ele era o que deveria ser e sabia que ele o seria para sempre. Por isso, decidiu esperar pelo futuro.
Nunca Acaba
Ela tinha ido acampar com os amigos. Estava no meio do nada, em uma fazenda a algumas horas de casa, deitada em uma lona estendida na grama do lado de sua barraca. Jogava no celular.
Ele saiu da barraca e perguntou por que ela estava deitada do lado de fora se estava jogando no celular. Ela respondeu que gostava do céu.
- Como pode você gostar do céu e estar virada de costas pra ele bem na hora em que as estrelas aparecem?
- ...Estrelas?
Ele se deitou ao lado dela. Ela guardou o celular e ficou maravilhada na hora em que viu o céu, repleto de estrelas. Não era o céu preto que se via em São Paulo. Era um céu com pontinhos brancos e brilhantes e que se estendia até o infinito.
- Isso é bem melhor que um celular - ela disse.
- Se existir vida em outro planeta, esse céu que estamos vendo agora é o mesmo que as pessoas de lá vêem. Essa é a beleza de olhar pro céu: não saber onde acaba, saber que nunca acaba.
Ele saiu da barraca e perguntou por que ela estava deitada do lado de fora se estava jogando no celular. Ela respondeu que gostava do céu.
- Como pode você gostar do céu e estar virada de costas pra ele bem na hora em que as estrelas aparecem?
- ...Estrelas?
Ele se deitou ao lado dela. Ela guardou o celular e ficou maravilhada na hora em que viu o céu, repleto de estrelas. Não era o céu preto que se via em São Paulo. Era um céu com pontinhos brancos e brilhantes e que se estendia até o infinito.
- Isso é bem melhor que um celular - ela disse.
- Se existir vida em outro planeta, esse céu que estamos vendo agora é o mesmo que as pessoas de lá vêem. Essa é a beleza de olhar pro céu: não saber onde acaba, saber que nunca acaba.
Prélude à L'Après-midi d'un Faune
Ela tinha acabado de ler Crepúsculo e só queria ser que nem a Bella. Passou a usar shampoo de morango e queria gostar de Claude Debussy. Estava numa farmácia que tinha uma prateleira de CDs e resolveu botar pra tocar um deles. Não era nada demais, só música clássica. Só um compositor.
E aí ela ouviu Prélude à L'Après-midi d'un Faune. E Debussy deixou de ser um compositor para se tornar mágico. A música clássica deixou de ser só isso para se tornar emoção. E hoje em dia, toda vez que ela escuta essa música, chora.
Debussy, sim, é um artista. Essa é a verdadeira arte: saber emocionar. Não é só uma melodia bonita, é uma música que arrepia. E quem tem alma de artista sabe reconhecer os verdadeiros artistas.
E aí ela ouviu Prélude à L'Après-midi d'un Faune. E Debussy deixou de ser um compositor para se tornar mágico. A música clássica deixou de ser só isso para se tornar emoção. E hoje em dia, toda vez que ela escuta essa música, chora.
Debussy, sim, é um artista. Essa é a verdadeira arte: saber emocionar. Não é só uma melodia bonita, é uma música que arrepia. E quem tem alma de artista sabe reconhecer os verdadeiros artistas.
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
A Árvore e a Coruja
Era uma vez uma árvore solitária e uma coruja errante.
Um dia, a coruja pousou na árvore, que convidou-lhe a morar lá. A coruja negou e disse que apenas pernoitaria, porque ia para a casa da prima. A árvore se ofereceu para contar-lhe uma história para dormir. A coruja aceitou. A história era assim:
"Era uma vez uma árvore solitária e uma coruja errante.
Um dia, a coruja pousou na árvore, que convidou-lhe a morar lá. A coruja negou e disse que apenas pernoitaria, porque ia para a casa da prima. A árvore se ofereceu para contar-lhe uma história para dormir. A coruja aceitou. A história era assim..."
Quando a coruja perguntou pelo fim da história, a árvore disse que ela teria que ficar para saber, porque era uma história de vida e a vida não pode ser contada antes de ser escrita. Assim, a árvore ganhou uma companheira e a coruja ganhou uma lição de vida.
Um dia, a coruja pousou na árvore, que convidou-lhe a morar lá. A coruja negou e disse que apenas pernoitaria, porque ia para a casa da prima. A árvore se ofereceu para contar-lhe uma história para dormir. A coruja aceitou. A história era assim:
"Era uma vez uma árvore solitária e uma coruja errante.
Um dia, a coruja pousou na árvore, que convidou-lhe a morar lá. A coruja negou e disse que apenas pernoitaria, porque ia para a casa da prima. A árvore se ofereceu para contar-lhe uma história para dormir. A coruja aceitou. A história era assim..."
Quando a coruja perguntou pelo fim da história, a árvore disse que ela teria que ficar para saber, porque era uma história de vida e a vida não pode ser contada antes de ser escrita. Assim, a árvore ganhou uma companheira e a coruja ganhou uma lição de vida.
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
Desmoronamento
Eles estavam juntos há dois meses - aquele começo fresquinho e super apaixonado. Não faziam outra coisa além de pensar um no outro.
Trabalhavam juntos, no terceiro e último andar de um prédio. Um escritório. Naquela manhã, eles não se falaram - haviam brigado na noite anterior. Apenas se entreolhavam.
Ela estava preparando café para o chefe e ele estava arrumando a papelada. De repente, escutaram um barulho alto. Um estrondo. Uma nuvem de poeira. Gritos. Tudo ficou cinza.
Ouviram o chamado para evacuar o prédio. Correram para as escadas. Ela bem na frente, ele entre os últimos a sair. O prédio começou a tremer quando algumas pessoas já tinham saído, mas os dois ainda estavam lá dentro.
Ele correu para baixo de uma mesa de aço. Ela se viu sozinha no meio da recepção do prédio prestes a desmoronar. Em uma fração de segundos, tudo caiu. Ela fechou os olhos e esperou a morte.
Quando ela abriu os olhos, estava nos braços dele. Se abraçaram. Foi eterno.
Trabalhavam juntos, no terceiro e último andar de um prédio. Um escritório. Naquela manhã, eles não se falaram - haviam brigado na noite anterior. Apenas se entreolhavam.
Ela estava preparando café para o chefe e ele estava arrumando a papelada. De repente, escutaram um barulho alto. Um estrondo. Uma nuvem de poeira. Gritos. Tudo ficou cinza.
Ouviram o chamado para evacuar o prédio. Correram para as escadas. Ela bem na frente, ele entre os últimos a sair. O prédio começou a tremer quando algumas pessoas já tinham saído, mas os dois ainda estavam lá dentro.
Ele correu para baixo de uma mesa de aço. Ela se viu sozinha no meio da recepção do prédio prestes a desmoronar. Em uma fração de segundos, tudo caiu. Ela fechou os olhos e esperou a morte.
Quando ela abriu os olhos, estava nos braços dele. Se abraçaram. Foi eterno.
sábado, 10 de setembro de 2011
(Sacaneando com) Cristóvão

Oi, eu sou o Cristóvão. No post anterior, contei a vocês a versão da minha história que é fiel à história que contam pra vocês na escola. Bem, aquela história é pra rinoceronte dormir. Vou contar a história de verdade e, bem, prometam que não vão colocar isso nas provas de vocês.
Eu nasci em Gênova, na Itália. Queria tornar-me navegador e descobrir outro continente, então sugeri aos governantes do meu país que me deixassem navegar alguns meses em linha reta, já que a Terra era redonda. Algum dia chegaria em algum lugar. Eles riram na minha cara e me mandaram ir dormir. Fiquei puta-revolts e vazei pra Espanha. A linda da rainha de lá vendeu as jóias dela e me deu três caravelas.
Fui.
A viagem demora, sabe como é não, não sabe porque hoje existem aviões. A gente tem tempo pra pensar em coisas absurdas. Mas eu, homem centrado e futuro descobridor de continente, pensei em que nome daria à minha descoberta. Pensei em Colômbia, pra combinar com meu sobrenome. Pensei em Colombo. Mas "descobrir Colombo" não fica muito sonoro. Cristoviana, Novo Cristóvão, Cristóvã. Cristóvã, a terra do futuro. Cristóvã, o novo mundo. Cristóvã. Poderia repetir isso mil vezes por dia.
O tempo passou, a comida acabou, um monte de gente morreu. Estavam organizando um motim. E daí? Eu seria o descobridor da Cristóvã. FO-DAM-SE.
Eles iam me matar mesmo e tal! Mas aí um dos manos gritou "Terra à vista!" e tudo mudou. Alguém perguntou se tinham jogado areia nos olhos dele. DELS, que piada péssima.
Descemos, comemos umas frutas e umas minas, cheiramos umas coisas, bebemos água pura e cristalina. Eram selvagens valentes que viviam de caça, pesca, frutas, raízes e sementes. E talz. Bando de pretos.
Parei e dei um grito. "BEM-VINDOS AO NOVO MUNDO! VOCÊS ESTÃO PRESENCIANDO O DESCOBRIMENTO DA CRISTÓVÃ!" /UAAAAAL, vomitei arco-íris
Aí, do nada, chegou um branco.
"Olá, bem-vindos à América."
COMAÇIM AMÉRICA? É CRISTÓVÃ, MERMÃO
"Como assim, senhor? Meu nome é Cristóvão Colombo e eu acabei de descobrir a Cristóvã."
"Bem, seu Calombo, como pode o senhor ter descoberto um novo continente se eu já estava aqui e já cartografei as áreas próximas? Meu nome é Américo Vespúcio e eu descobri a América, que por acaso é esse continente que o senhor está agora."
É COLOMBO, PORRA. CALOMBO É O QUE EU VOU FAZER NESSA SUA BOCHECHA ROSADA
Fazer o que, né? Gente civilizada - leia-se "gente daquela época" - não ia pra porrada. Aceitava e xingava a mãe, as tias, primas, avós, avôs, papagaio, periquito, basilisco e/ou dragão bem baixinho.
Então, eu voltei da viagem obsoleta com minhas caravelas obsoletas, minha tripulação obsoleta e a minha bosta de vida obsoleta que não fazia mais sentido, já que aquele português do Américo Vespúcio roubou meu continente.
Americanos, a partir de agora, saibam que essa é a história de verdade. Autodenominem-se Cristovianos. Assumam suas origens. Mas, de novo, não coloquem isso nas provas de vocês.
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
Cristóvão
Meu nome é Cristóvão e eu nasci na Itália. Na minha época, mal se sabia que a Terra era redonda. Eu cresci admirando o mar e tornei-me um navegador.
Queria descobrir novas terras - quando isso acontecesse, minha missão na Terra estaria completa. Dirigi-me aos governantes de meu país.
- Sabemos que a Terra é redonda e os continentes são cheios de curvas. Ninguém nunca tentou navegar em linha reta para ver o que acontece - eu expliquei a eles.
- Isto é um absurdo. Se você navegar em linha reta, vai acabar chegando do outro lado da Itália.
Passei anos pensando no que poderia fazer. Decidi me mudar para a Espanha. Cheguei lá em 1492.
Fui ao encontro dos reis Fernando e Isabel, casados desde 1469.
- Sabemos que a Terra é redonda e os continentes são cheios de curvas. Ninguém nunca tentou navegar em linha reta para ver o que acontece.
- Está sugerindo que exista mais um continente a ser encontrado?
- Sem dúvida, Majestade.
- Você parte em alguns meses - A rainha Isabel me encorajou.
A rainha vendeu as próprias jóias e montou para mim uma frota com três lindas caravelas. Dia 3 de agosto do mesmo ano, eu estava partindo.
Foram meses navegando em linha reta. Meses que poderiam ter sido anos, séculos, milênios. Enfrentamos tempestades e calmarias, assistimos o sol nascer e se pôr. Muita gente morreu. Muita gente adoeceu. Várias vezes achei que as autoridades italianas estavam certas em dizer que não havia mais nada - afinal, já estavamos em 1492! O que mais poderia haver para se descobrir? - e pensei em desistir. Mas quando o sol nascia de novo, eu mudava de idéia.
O tempo infinito, por fim, passou. A comida estava acabando, as pessoas, adoecendo e morrendo, e a água potável, cada vez mais escassa.
- Vamos voltar - diziam meus marinheiros. Eu negava. Precisava haver alguma coisa. Mas os meses passavam e nada acontecia. Um dia, o bucaneiro João Henrique veio conversar comigo.
- Capitão, não há mais comida nem água.
- Eu sinto muito.
- Devemos voltar.
- Até chegarmos, estaremos mortos. Eu recuso-me a voltar sem descobertas.
- Voltará morto.
- Antes morto que fracassado.
- Seu desejo é uma ordem, Capitão.
Os outros formaram um círculo em volta de mim e eu percebi: era um motim.
Como se fosse cronometrado, quando eu estava prestes a experienciar a morte, ouvimos o grito:
- Terra à vista!
Todos ficaram imóveis, chocados.
A rebelião acabou e nós chegamos a uma ilha com árvores frondosas e latifoliadas, com frutas coloridas e animais de todos os tamanhos. Os nativos pintavam os rostos e dançavam alegremente. Mas a característica mais marcante era o ouro. Ouro e diamantes, tão comuns naquele lugar quanto pedras em Portugal. Mulheres curvilíneas. Eram humanos a alfabetizar e catequizar.
Coletamos riquezas, água e comida. Voltamos para casa. Fomos recolhidos com glória pelos reis. Doamos as riquezas a quem precisava. Não houve reconhecimento por parte da população.
Morri em 1506, no anonimato. Mas minha missão no planeta estava cumprida, porque eu descobri a América.
Queria descobrir novas terras - quando isso acontecesse, minha missão na Terra estaria completa. Dirigi-me aos governantes de meu país.
- Sabemos que a Terra é redonda e os continentes são cheios de curvas. Ninguém nunca tentou navegar em linha reta para ver o que acontece - eu expliquei a eles.
- Isto é um absurdo. Se você navegar em linha reta, vai acabar chegando do outro lado da Itália.
Passei anos pensando no que poderia fazer. Decidi me mudar para a Espanha. Cheguei lá em 1492.
Fui ao encontro dos reis Fernando e Isabel, casados desde 1469.
- Sabemos que a Terra é redonda e os continentes são cheios de curvas. Ninguém nunca tentou navegar em linha reta para ver o que acontece.
- Está sugerindo que exista mais um continente a ser encontrado?
- Sem dúvida, Majestade.
- Você parte em alguns meses - A rainha Isabel me encorajou.
A rainha vendeu as próprias jóias e montou para mim uma frota com três lindas caravelas. Dia 3 de agosto do mesmo ano, eu estava partindo.
Foram meses navegando em linha reta. Meses que poderiam ter sido anos, séculos, milênios. Enfrentamos tempestades e calmarias, assistimos o sol nascer e se pôr. Muita gente morreu. Muita gente adoeceu. Várias vezes achei que as autoridades italianas estavam certas em dizer que não havia mais nada - afinal, já estavamos em 1492! O que mais poderia haver para se descobrir? - e pensei em desistir. Mas quando o sol nascia de novo, eu mudava de idéia.
O tempo infinito, por fim, passou. A comida estava acabando, as pessoas, adoecendo e morrendo, e a água potável, cada vez mais escassa.
- Vamos voltar - diziam meus marinheiros. Eu negava. Precisava haver alguma coisa. Mas os meses passavam e nada acontecia. Um dia, o bucaneiro João Henrique veio conversar comigo.
- Capitão, não há mais comida nem água.
- Eu sinto muito.
- Devemos voltar.
- Até chegarmos, estaremos mortos. Eu recuso-me a voltar sem descobertas.
- Voltará morto.
- Antes morto que fracassado.
- Seu desejo é uma ordem, Capitão.
Os outros formaram um círculo em volta de mim e eu percebi: era um motim.
Como se fosse cronometrado, quando eu estava prestes a experienciar a morte, ouvimos o grito:
- Terra à vista!
Todos ficaram imóveis, chocados.
A rebelião acabou e nós chegamos a uma ilha com árvores frondosas e latifoliadas, com frutas coloridas e animais de todos os tamanhos. Os nativos pintavam os rostos e dançavam alegremente. Mas a característica mais marcante era o ouro. Ouro e diamantes, tão comuns naquele lugar quanto pedras em Portugal. Mulheres curvilíneas. Eram humanos a alfabetizar e catequizar.
Coletamos riquezas, água e comida. Voltamos para casa. Fomos recolhidos com glória pelos reis. Doamos as riquezas a quem precisava. Não houve reconhecimento por parte da população.
Morri em 1506, no anonimato. Mas minha missão no planeta estava cumprida, porque eu descobri a América.
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
Mais um Momento
Hoje eu sonhei com você. Um sonho assim, tranquilo, que me trouxe paz.
Estávamos em algum lugar com umas piscinas, e tinha um mar bravo e azul. Você me abraçava e nós conversávamos. Eu estava com a cabeça encostada no seu ombro, de modo que meu nariz ficasse em seu pescoço - como habitualmente.
Eu chorava em silêncio. Não era um choro de desespero, e sim de saudade. Um genuíno e dolorido choro de saudade. Molhei sua camiseta.
Você estava incrivelmente paciente e encarava o mar, apenas me abraçando. Então, rompeu o silêncio:
- Você já chorou todas as suas lágrimas?
Eu fechei os olhos, apreciando o som da sua voz.
- Ainda não.
Você encostou a cabeça em meu pescoço e vivemos juntos mais um momento.
Estávamos em algum lugar com umas piscinas, e tinha um mar bravo e azul. Você me abraçava e nós conversávamos. Eu estava com a cabeça encostada no seu ombro, de modo que meu nariz ficasse em seu pescoço - como habitualmente.
Eu chorava em silêncio. Não era um choro de desespero, e sim de saudade. Um genuíno e dolorido choro de saudade. Molhei sua camiseta.
Você estava incrivelmente paciente e encarava o mar, apenas me abraçando. Então, rompeu o silêncio:
- Você já chorou todas as suas lágrimas?
Eu fechei os olhos, apreciando o som da sua voz.
- Ainda não.
Você encostou a cabeça em meu pescoço e vivemos juntos mais um momento.
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