sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Cristóvão

Meu nome é Cristóvão e eu nasci na Itália. Na minha época, mal se sabia que a Terra era redonda. Eu cresci admirando o mar e tornei-me um navegador.
Queria descobrir novas terras - quando isso acontecesse, minha missão na Terra estaria completa. Dirigi-me aos governantes de meu país.
- Sabemos que a Terra é redonda e os continentes são cheios de curvas. Ninguém nunca tentou navegar em linha reta para ver o que acontece - eu expliquei a eles.
- Isto é um absurdo. Se você navegar em linha reta, vai acabar chegando do outro lado da Itália.
Passei anos pensando no que poderia fazer. Decidi me mudar para a Espanha. Cheguei lá em 1492.
Fui ao encontro dos reis Fernando e Isabel, casados desde 1469.
- Sabemos que a Terra é redonda e os continentes são cheios de curvas. Ninguém nunca tentou navegar em linha reta para ver o que acontece.
- Está sugerindo que exista mais um continente a ser encontrado?
- Sem dúvida, Majestade.
- Você parte em alguns meses - A rainha Isabel me encorajou.
A rainha vendeu as próprias jóias e montou para mim uma frota com três lindas caravelas. Dia 3 de agosto do mesmo ano, eu estava partindo.
Foram meses navegando em linha reta. Meses que poderiam ter sido anos, séculos, milênios. Enfrentamos tempestades e calmarias, assistimos o sol nascer e se pôr. Muita gente morreu. Muita gente adoeceu. Várias vezes achei que as autoridades italianas estavam certas em dizer que não havia mais nada - afinal, já estavamos em 1492! O que mais poderia haver para se descobrir? - e pensei em desistir. Mas quando o sol nascia de novo, eu mudava de idéia.
O tempo infinito, por fim, passou. A comida estava acabando, as pessoas, adoecendo e morrendo, e a água potável, cada vez mais escassa.
- Vamos voltar - diziam meus marinheiros. Eu negava. Precisava haver alguma coisa. Mas os meses passavam e nada acontecia. Um dia, o bucaneiro João Henrique veio conversar comigo.
- Capitão, não há mais comida nem água.
- Eu sinto muito.
- Devemos voltar.
- Até chegarmos, estaremos mortos. Eu recuso-me a voltar sem descobertas.
- Voltará morto.
- Antes morto que fracassado.
- Seu desejo é uma ordem, Capitão.
Os outros formaram um círculo em volta de mim e eu percebi: era um motim.
Como se fosse cronometrado, quando eu estava prestes a experienciar a morte, ouvimos o grito:
- Terra à vista!
Todos ficaram imóveis, chocados.
A rebelião acabou e nós chegamos a uma ilha com árvores frondosas e latifoliadas, com frutas coloridas e animais de todos os tamanhos. Os nativos pintavam os rostos e dançavam alegremente. Mas a característica mais marcante era o ouro. Ouro e diamantes, tão comuns naquele lugar quanto pedras em Portugal. Mulheres curvilíneas. Eram humanos a alfabetizar e catequizar.
Coletamos riquezas, água e comida. Voltamos para casa. Fomos recolhidos com glória pelos reis. Doamos as riquezas a quem precisava. Não houve reconhecimento por parte da população.
Morri em 1506, no anonimato. Mas minha missão no planeta estava cumprida, porque eu descobri a América.

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