sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
Misteriosa - Parte II
Ela foi apelidada de Misteriosa, depois daquela noite. E ganhou mais fama, também; além de todos os lugares ocupados, como de costume, o teatro dourado agora tinha multidões à porta, querendo, a todo custo, ver, mais uma vez, a máscara. Mas nunca mais aquilo se repetiu. Misteriosa entrava, se apresentava e saía. E a multidão continuava batendo palmas para o palco vazio, dia após dia.
Em outra dessas noites, ela entrou e entoou uma nova canção. Não era o que estava no setlist, não era o combinado, mas todos ficaram boquiabertos. As portas, lá fora, se abriram, e a multidão entrou e assistiu em pé. A música chamava-se Canção da Despedida, lembrei-me depois. Era uma melodia dolorida, intensa, cheia de pesar. Ela caminhava pelo palco, enquanto cantava, amargamente, e as pessoas choravam. Ouvia-se a música e os soluços.
O fato curioso foi que aquela apresentação durou até o dia amanhecer, ininterruptamente. E, no fim, Misteriosa ficou parada no palco, sentindo as palmas. Esperou-se que ela mostrasse a máscara de novo, mas nada aconteceu. Quando o barulho cessou, ela foi embora. E passou direto, em vez de ir para o camarim, ou para qualquer outro lugar, ela dirigiu-se à saída.
E o teatro silenciou-se durante as 47 noites que se seguiram.
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