sábado, 3 de dezembro de 2011
Misteriosa - Parte III (Valquíria)
Por favor, cliquem no player acima para escutar a canção Die Walküre e aguardem alguns segundos para ler o texto enquanto a escutam. Obrigada!
"Os lucros do Teatro Dourado diminuíram em quase 200% desde a saída de Misteriosa" era a manchete do jornal daquele dia. Ela nunca mais aparecera, de fato, e o teatro estava acinzentado. Sobravam lugares. Todos descontaram em mim, não sei por que motivo, mas eu já havia superado aquela fase. Misteriosa parecia ter aparecido como um fantasma, e fora embora tão repentinamente quanto havia chegado, e, enquanto todas as outras pessoas sofriam pela decadência do teatro, eu já aceitara o fato de que ela não voltaria.
Era uma noite de lua minguante e eu resolvi ir a um novo bar. Sentei-me no balcão e pedi uma vodca.
E quando me dei conta, já estava nos braços de alguém. Era embriagante, perfumada, confortável. Tinha uma voz baixa e rouca, e cabelos macios e escuros. Usava roupas claras, leves e folgadas, de modo que escondia os contornos do próprio corpo. Não me lembro como conheci Valquíria, mas a amei no instante em que a vi. E tornei-a minha quando vi o céu inteiro em seus olhos. Fomos para a casa dela, juntos. Um lugar minúsculo, aconchegante, arrumado. Cama de solteiro, lençóis vermelhos, parede branca, abajur alaranjado. Cortinas vermelhas. Armário e piso de madeira marrom. Tapete redondo, laranja, desbotado. Ela me empurrou até a cama, que pareceu incrivelmente grande. Era tão intensa. Deixei-me levar.
E estávamos abraçados, assistindo o sol nascer, lilás, púrpura e alaranjado. Ela cantava intensamente em meu ouvido uma música chamada "Die Walküre", enquanto tamborilava as unhas vermelhas na mesa de cabeceira.
Quando levantei-me para ir embora, ela disse que guardara minhas roupas no armário. Quando o abri, vi uma única peça de roupa: uma capa preta. E a última coisa da qual me lembro são as palavras dela:
- Sabe o que significa "Valquíria"?
- Não.
- "Aquela que escolhe os que vão morrer".
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