quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
Diferença
Ela havia bebido demais. Eu a coloquei em meu carro e fomos, juntos, em direção à casa onde nos instalaríamos pelo próximo período indeterminado de tempo. Entrei com o carro na garagem, para que nenhum vizinho me visse puxando uma garota desacordada para dentro. Descemos as escadas e eu a coloquei no colchão onde ela ficaria. Fechei a porta e coloquei o armário na frente, para que, se houvesse visitas, eu não fosse descoberto. No dia seguinte, eu a alimentei com cenouras e maçãs. Eu só queria ter uma boneca. Achei que ela ia chorar, desconsolada. Deve ter chorado, mas não me deixava ver. Ela me pediu um lápis e uma borracha, e, um dia depois, havia desenhado o quarto inteiro. Desenhava pessoas em cenas mórbidas, frias, desconsoladas. Demônios e situações desesperadoras. Um dia, resolveu gritar, mas ninguém a escutava. O quarto era à prova de som. Tentava sair, mas o armário que ficava na frente da porta continha centenas de livros. Ela morava numa prisão mental, que eu criara cuidadosamente. Já aceitara que, se saísse, coisas terríveis aconteceriam. Aceitara que, de qualquer modo, não conseguiria sair. E só se prende uma presa fisicamente enquanto o psicológico dela está sendo trabalhado. Àquele ponto, eu poderia soltá-la no meio da rua, e ela voltaria para mim. Houve um só dia em que resolvi me deitar ao seu lado, mas ela não me quis. Tentei abraçá-la, aquecê-la, e ela me olhava com rancor. Fez carinho na minha cabeça. Sorriu ironicamente. Cravou alguma coisa no meu abdômen e falou:
- Existe uma diferença entre um homem safado e um homem doente.
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E existe uma infinidade de elogios pra você, Bianca.
ResponderExcluirEsse deve ser o comentário que mais levantou meu ego em toda a minha vida!
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