Ouviu os tiros, não reconheceu a direção da qual vinham, mas protegeu-se atrás do primeiro carro que viu e pegou seu revólver. Aquilo era sinal de guerra. Ainda bem que ele estava de colete salva-vidas. Detectou que o movimento vinha da sua frente, à direita, e, ao primeiro sinal de perigo, apertou rudemente o gatilho, quebrando vidros e acionando alarmes dos carros que estavam na rua. Agora precisava correr, porque já deixara-se descobrir.
Foi para trás do próximo carro e se abaixou, procurando a menininha sequestrada. Sua respiração estava descompassada e ele havia recebido uma descarga de adrenalina. Enquanto concentrava-se em encontrar a vítima, percebeu que levaria um tiro e tentou se esquivar, mas a bala passou de raspão e levou um pedacinho de seu sobretudo bege. A cada tiro que dava, ele trocava de lugar, cada vez chegando mais para a frente e mais para a esquerda. Até o momento em que viu o sequestrador, ao seu lado, porém longe, procurando- o e olhando para a frente. A sorte é que ele estava de lado.
Enquanto analisava onde daria o próximo tiro, ele aproximava-se silenciosamente, como um leão prestes a atacar uma presa, sempre se escondendo atrás de carros.
E o sequestrador deparou-se com um revólver .38 encostado em seu pescoço, e palavras seguras e rudes ordenando-lhe que colocasse a arma no chão. Ia tentar reagir, mas simplesmente não valia a pena ir contra Mário Fontes. Retirou-se e deixou-se levar pelos policiais.
A esposa de Mário sempre reclamava dos perigos da profissão que ele escolhera, mas ele sabia que a recompensa viria a seguir: do fundo de seus olhos verdes, a menina de seis anos agradeceu ao detetive por ter salvo sua vida e lhe deu um abraço. Não havia sensação mais gratificante. Era para isso que Mário vivia, ele tinha certeza. E os tiros que eventualmente levaria.. Eram ossos do ofício.
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