sábado, 13 de agosto de 2011

O Mendigo

Eu e minha madrinha fomos ao supermercado, a duas quadras do nosso hotel. Eram quase 21h. Na volta, cada uma de nós carregava duas sacolas de plástico. Um senhor chegou e nos pediu dinheiro para comprar comida para seus filhos.
E ela parou. Sozinha, comigo, em uma rua deserta, na Grande São Paulo, às nove da noite, ela parou e abriu a bolsa.
Mexe, remexe, ela tirou algumas moedas de um bolso e entregou nas mãos do senhor, que abriu um grande sorriso - desprovido, quase totalmente, de dentes - e desejou que Deus nos abençoasse.
Continuamos andando, e ela começou a conversar comigo:
- Bia, eu vou embora essa noite, mas deixei umas esfihas do Zattar no balcão. Também tem o macarrão que você fez, a sopa, arroz e um frango. Se você não for comer essas coisas, embala num saquinho e dá pro primeiro mendigo que aparecer. Se você tiver medo, bota em qualquer cantinho que eles pegam. Essa gente pega comida do lixo, quando você entrega comida boa pra eles é como se eles ganhassem na loteria.. E pra gente tem a recompensa da realização espiritual, a sensação de fazer uma boa ação é maravilhosa. Nesse Brasil tem muita gente passando fome, principalmente aqui em São Paulo. E a gente, que tem tanta coisa, tem nas mãos a obrigação de não deixar faltar comida pra eles. Pode deixar faltar tudo, menos comida.
O mendigo para quem ela tinha dado as moedas passou por nós, correndo, com uns pães em um saco plástico.
- Muito obrigado, moça! Deus lhe dê todas as suas riquezas em dobro!
Minha madrinha vai para o céu.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Banquete

Era uma vez uma senhora de 37 anos, divorciada, com uma filha, advogada e psicóloga formada, e que entendia a vida como ninguém. Ela morava em São Paulo.
Um dia, a senhora foi em um restaurante conceituado chamado Lellis. Ela comeu um bife à milanesa, e, nesse lugar, por causa das enormes porções, é um costume levar o resto da comida para viagem. Assim a senhora fez.
Dois dias depois, ela abriu a geladeira e viu o mesmo bife. Embalou-o num saco plástico e saiu de casa, indo a caminho do metrô. Carregava o bife na mão. Na calçada, ela passou por um humilde senhor que varria todos os dias, com uma surrada vassoura, o lugar que chamava de cama - uma folha de papelão.
A senhora se aproximou, estendeu a mão com a embalagem disse ao senhor que tinha um bife com torradas e batatas. Perguntou se ele queria.
O humilde senhor sorriu, com os olhos brilhando e o coração acelerado, as mãos trêmulas estendidas para o que, naquela noite gelada na grande cidade, chamaria de banquete.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A Casa do Artista

Eu fui ao teatro hoje e sentei no lugar onde quase ninguém quer sentar: a primeira cadeira da primeira fileira, no canto esquerdo. Mas é por causa da alma de artista, que não quer assistir só a peça, e sim o que fica por trás dela. De onde me sentei, no vão entre a cortina e a parede, podia ver a melhor parte de uma peça de teatro aos olhos de um artista: os bastidores. Graças a isso, eu sabia quando os atores cantavam com playback ou com as próprias cordas vocais, quem fazia mais de um personagem e quem estava usando cinta. Acompanhava expressões faciais e maquiagens malfeitas. Para quem tem alma de artista, isso é bem mais excitante que ver uma peça escrita por Luís Fernando Veríssimo - é como participar dela.
Estava eu, sentada, observando em primeira mão os últimos momentos antes de a peça começar, com os olhos brilhando de emoção e pouco me lixando se minha mãe achava meu lugar o pior de toda a sala de teatro ou não. Porque, naquele momento, só existíamos o teatro e eu. E os atores - meros coadjuvantes - me mostravam seu universo: o universo da arte. Do glorioso momento em que as cortinas se abriram até a hora em que elas se fecharam, eles estavam ali, a meio metro do meu corpo, e cantavam, dançavam, atuavam e interagiam entre si por mim e para mim.
O teatro, local onde tantos contruíram uma reputação e tantos outros viram ruírem seus sonhos, é a casa de todo artista. Representa, desde a Grécia Antiga - talvez até antes disso, quem sabe? - a expressão livre, tanto do autor da peça quando do ator que dá a vida a um personagem. Representa a imaginação que pode ir aonde quiser, desde os mais simples comentários sobre coisas do cotidiano até os mais fantasiosos universos paralelos.
Um artista é como um cão-guia. Não é qualquer um. É uma criatura cativante, prestativa, social, curiosa, empolgada, empolgante. E, acima de tudo, uma mente fértil. Sonhadora, que brota como mato e dá frutos maravilhosos. A indústria artística é a que paga os mais altos salários, tem os mais altos cachês e a que dá mais reconhecimento. Você pediria um autógrafo a Drauzio Varella ou Michael Jackson?
O artista mais puro e apaixonado pela arte é aquele que acorda feliz por estar indo para o trabalho, fica chateado quando não pode ir e não anseia por férias - simplesmente porque, para ele, não existe diferença entre o trabalho e o hobby: os dois se misturam. Ele se apiaxona pelo próprio trabalho, se orgulha das criações e cuida delas como se fossem seus filhos. O artista reside na própria imaginação, esteja ela atenta aos bastidores de um teatro ou perdida em uma galáxia que nenhum outro ser vivo sonha em encontrar.

domingo, 7 de agosto de 2011

Amor físico

Guilherme entra com Ana Luísa. Ele carrega uma rosa. Ela usa um vestido cor-de-rosa-envelhecido e espadrilhas creme. Seus cabelos estão soltos. Ele está de jeans, tênis e uma camiseta azul de mangas longas. Eles estão conversando, de mãos dadas.
Do outro lado do cenário, dividido por uma parede, está Clara, em cima de uma cama, no computador. Ela é sobrinha da melhor amiga de Ana Luísa.
Guilherme entrega a rosa à namorada e eles se beijam. Estão um de frente para o outro, no meio do palco. Ana Luísa diz que o ama. Eles de abraçam. Clara fecha o computador e rola na cama. As luzes se apagam.
Guilherme abre a porta e cumprimenta Clara. Ela corre e lhe dá um abraço. Ele a gira no ar.
- Vim ser sua babá hoje.
- Antes você do que a Carolina!
- Então, vamos brincar de Uno?
- Nessas horas você esquece de dizer que tem dez anos a mais que eu...
- Ah, já que você não quer... Eu ligo a televisão.
Ela pula em cima dele.
- Eu não disse que não queria!
Ele sorri.
- Eu também não.
As luzes se apagam.
Clara está deitada. Guilherme está sentado ao lado da cama, observando. Ele levanta. Ela abre os olhos.
- Gui?
- Sim?
- Fique aqui.
Ele volta.
- Eu estou aqui.
Ela se senta.
- Sente aqui.
Ele obedece. Clara sorri.
- Então, volte a tentar dormir.
- Não estou com sono...
- Seu pijama está furado.
- Eu sei. Vamos conversar...
- Clara, eu não tenho assunto. Vamos jogar Uno?
- Como é a sensação?
- De quê?
- Da Ana. De um beijo, um abraço, um namoro.. Como é a sensação?
- A Ana é super carinhosa.
- ... Isso não responde minha pergunta.
- É estranho falar com você sobre isso. Você é muito nova.
- Não sou tão nova assim.
- Você tem treze anos.
- E você tem vinte e três.
- Exatamente. Sou bem mais velho que você.
- Guilherme.
- Sim.
- Eu sempre gostei de caras mais velhos.
- Clara, não vamos falar dis...
Clara o beija. Ele se solta.
- O que você está fazendo? Você é tão nova!
- Te beijando. Não sou tão nova assim.
- Clara, você é nova demais pra alguém como eu!
- Amor não tem idade.
- E a Ana?
- Eu te amo bem mais que ela.
- Você é tão nova que não deveria nem saber como se faz.
- Como se faz o quê?
- Isso.
Ele a beija. Passa uma mão em sua cintura e a outra em sua nuca. Ela segura o rosto dele entre as duas mãos. Ela se arrasta até seu colo e senta. Guilherme a segura com intensidade. Ela para e o abraça. Ele está ofegante.
- O que eu estou fazendo, é isso que não sei...
- A gente pensa nisso depois. Agora só existimos eu e você.
E eles se beijam novamente. Com a intensidade e a paixão dobradas. E agora, não são mais um jovem comprometido e uma criança curiosa - são um homem e uma mulher vivenciando o amor físico.
As luzes se apagam.

Sobre amor e obras de arte

Ela nascera no Brasil, filha de japoneses. Tinha pais ricos que construíram um império de grife de roupas femininas e um talento artístico que botava no chinelo Angela Hewitt.
Ele era belga, filho de pais da mesma nacionalidade e de origem humilde, que viviam do plantio de algumas frutas, legumes e hortaliças vendidas de porta em porta pela vizinhança.
Ela cresceu, sempre rodeada de oportunidades profissionais. Cantava, tocava vários instrumentos e era ótima atriz. A única habilidade que lhe faltava era a de desenhar roupas, para que pudesse dar continuidade ao trabalho dos pais.
Ele passava seus dias ajudando os pais com a fonte de renda da família, e, no tempo livre, ia à loja de presentes local e desenhava nas embalagens.
Um dia, um casal muito bem-vestido e com ar de superioridade entrou na loja e ele, como nunca tinha visto pessoas tão glamourosas, pediu gentil e timidamente para fazer um desenho dos dois. Ao terminar, entregou-lhes a obra. E eles sorriram e foram embora.
Alguns dias depois, ela estava no aeroporto esperando que os pais chegassem. Eles haviam ido ao Afeganistão, maior exportador de tecidos do mundo, e à Bélgica, por puro prazer. Trouxeram-lhe um presente de uma pequena loja em um bairro humilde de uma pequena cidade. Era um pequeno amuleto entalhado à mão. E a embalagem tinha um curioso desenho do mesmo amuleto que ela havia ganhado.
Alguns meses depois, ele estava de volta à loja, desenhando as mãos do dono do lugar na caixa registradora. E o casal entrou, com uma folha de papel da mão. Ofereceram-lhe uma pequena fortuna para ir ao Brasil dar aulas de desenho para sua filha. Nunca haviam visto um desenho que lhes causasse a vontade de desenhar.
O tempo passou e a menina aprendia a representar cada vez mais a realidade do jeito que ela deve ser vista - com os sentimentos que causam ao artista, e não com os olhos que se vê - até o dia em que ele lhe pediu que desenhasse a felicidade.
Ela passava os dias rabiscando e apagando, rabiscando e apagando. E ele a observava, parado, em uma cadeira no canto da sala, todo dia na mesma posição. Depois de nove dias, ela lhe trouxe um desenho.
O mestre pegou a folha e viu um milhão de sentimentos, como toda boa arte deve mostrar. A iluminação calorosa, as proporções minuciosas, as feições indubitavelmente humanas. Olhos expressivos vigilantes e atentos. Era ele, sentado, observando enquanto a discípula desenhava seu conceito de... Felicidade.
Ele levantou-se. Ela, com um hábil impulso de suas pernas, alcançou seus lábios e deu-lhe um beijo. Um beijo que demonstrava todas as emoções de uma obra de arte e as emoções de uma vida real, acentuadas pela situação.
E a obra de arte estava completa.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

uma luta de boxe

eu não sei explicar como estou me sentindo. Sabe o fundo de uma panela de brigadeiro, que você raspa até a colher se dissolver? Estou espremendo meus sentimentos. Não sei se é amor. Não sei se é rejeição, se era só uma paixonite e não sei do meu futuro. Não gosto do meu corpo, não me sinto livre e não estou satisfeita com a minha vida. Antes eu construía minha vida em função de outras vidas, agora quero construir minha vida ao lado de outras. Quando se amarra os pés de duas aves, mesmo com as asas soltas, elas não voam. Então eu preciso mudar. Estudar. Parar de comer chocolate como se fosse água e começar a beber água como se fosse chocolate. Parar de confundir liberdade com libertinagem e querer sassaricar por aí, porque, com esse corpo gordo, essa cara cheia de espinhas e o papo ruim, tá difícil. E eu já tenho uma árvore pra encostar, embora ela esteja implicando pra me dar sombra. Parar de querer ser, e simplesmente me concentrar no que um dia, de um jeito ou de outro, vai me fazer ser de verdade. Ser aplicada, ser dedicada. Não estou levando ao máximo meu potencial e isso tá me levando pro fundo do poço. Resoluções pra 2011.2: 1)emagrecer vários quilos. 2) tirar 100 nas matérias que só passei porque milagres acontecem. 3) fazer mais amigas. 4) cuidar do cabelo, porque como tá não rola. 5) sorte no amor. E muita. Sendo esse o último tópico porque é o mais importante, e é o primeiro no qual eu vou investir. Nada é instantâneo, é preciso assumir os erros e corrigir eles. Aprender, e não decorar. E que fique registrado nesse blog: agora minha vida é um vale-tudo. E eu tô prestes a me tornar uma boxeadora profissional.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Embaixo d'Água

Underwater foi a primeira história que eu escrevi. Esse é o texto da minha prova bimestral de redação, que leva o mesmo título, traduzido. É só uma pequena parte da história e está resumida e um pouco mudada pra atender às exigências da proposta.

Meu nome é Marinne Harrinton. Morava na Flórida com minha mãe e meu padrasto, jogador de beisebol , milionário que sempre me odiara. Quando comecei a confrontá-lo, minha mãe me mandou para morar com o irmão dela em uma província na Califórnia, cuja população era onze vezes menor que o número de turistas que a Disney recebe por mês.
Eu era conhecida por ser fissurada por água e por sempre querer contato com ela. Meu tio Alan, com quem eu morava, havia sofrido um acidente e estava em coma, me deixando sozinha. Eu me culpei por isso e estava em depressão. Fui até a farmácia depois de jantar, comprar um picolé, mas acabei perdendo a noção do tempo e vagando pela rua sem vontade de nada.
Meia noite. Cansada e com sono, eu ivnha caminhando pela rua deserta quando, de repente, ouvi umas pisadinhas leves atrás de mim. Senti frio no estômago.
- Marinne - a voz me chamava.
Meu coração acelerou e eu fui inundada pela adrenalina que me fez correr. Mas fui alcançada. Alguém com o corpo quente pulou sobre mim e me abraçou ferozmente, apesar da minha insistência.
- Marinne, amanhã Leonard Lucca e seus amigos vão à praia jogar vôlei e te chamaram, lembra? Você se lembra? Responda! - Ele me chacoalhou.
- Sim - respondi baixinho, gaguejando e quase sem ar.
- Compareça. A vida de Alan depende disso.
Ele me soltou e desapareceu.
Eu amava Leonard e iria a qualquer lugar com ele. O amava desde o primeiro dia em que nos vimos e sabia que ele sentia o mesmo, mas éramos ambos tímidos demais para admitir.
Choveu a noite toda, mas no dia seguinte o sol e o céu azul me convidaram a jogar. Eu estava deitada quando o telefone tocou. Era Leonard.
- Nim - ele me chamava pelo apelido - você vai à praia?
- Vou - respondi.
- Vou buscar você. Meia hora?
- Claro.
- Nos vemos lá.
Eu fui me arrumar. Vesti um biquíni vermelho e uma canga azul que realçava meus olhos. Naquele dia a depressão esmagava violentamente todos os meus outros sentimentos.
Leonard me levou até a praia, tentando, sem sucesso, me animar.
O vôlei teria sido maravilhoso se eu não estivesse deprimida. Os gritos das pessoas me lembraram do acidente que eu e meu pai havíamos sofrido havia 3 anos e que o havia matado, e o sol fazia minhas cicatrizes arderem. No fim, estava tão perturbada que tomei uma decisão que mudou tudo.
Ia me suicidar.
A adrenalina tomou conta de mim de novo, e, após me despedir de todos, eu corri. Pulei com toda a força do despenhadeiro de 800 metros sobre o qual a cidade crescera. Ouvi gritos.
Atingi a água com força. Se meu corpo não estivesse reto e retesado, eu teria morrido na queda. Meu nariz se encheu de sal e meus pulmões imploravam por ae. Aos poucos, afundei e fiquei com sono.
Quando estava prestes a desmaiar, uma luz grudou em mim. E outra. E mais uma. De repente, eu estava coberta de luz, girando e descendo, num rodamoinho. Perdi a consciência.
Quando acordei estava deitada e vi Leonard Lucca ao meu lado, sem camisa, gritando loucamente em uma língua estranha, que, para minha surpresa, eu entendia. Tentei gritar, mas não houve som - apenas bolhas de um ar que eu não sabia que tinha.
Bolhas?
Algas. Peixes. Bolhas. Eu estava no fundo do mar. Sentei-me repentinamente e senti dificuldade em mexer as pernas. Leonard parou e me olhou. Um olhar piedoso, talvez até... Apaixonado. Me perdi um pouco, mas olhei para suas pernas e vi uma cauda. De peixe. Uma cauda enorme e cheia de escamas. E o homem ao seu lado tinha as mesmas características. E eu tinha também uma enorme cauda, reluzente e comprida como a de Leonard. Arfei e entendi.
Eu era uma sereia.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

O Príncipe e a Bailarina - Primeiras Linhas

acordei com o som da leve chuva que caía do céu na diagonal, tamborilando no vidro da minha janela. Levantei, calcei as pantufas e andei em direção à sala de banho. Escovei os dentes, lavei o rosto e voltei ao quarto. Abri a porta. Ainda meio grogue, desci o primeiro lance de escadas em direção à ala norte do palácio. Alguns passos depois estava na enorme cozinha.
- Vossa Alteza não deveria estar aqui... - ouvi Jeanna murmurando atrás de mim.
- Desculpe. Acordei com fome, mas não queria dar trabalho a você - respondi sem jeito, colocando uma mão no ombro direito dela.
- Vá para a mesa e eu levo seu café.
Jeanna cuidava de mim desde que eu era um bebê. Ela conhecera todas as minhas ficantes e todos os meus amigos. Sabia de tudo que se passava pela minha cabeça. Se fosse religioso, eu diria que ela era meu anjo da guarda.
Abri mais algumas portas e sentei-me em meu lugar à majestosa mesa de 60 lugares que tinha mais de 300 anos e pertencia à minha família desde que fora fabricada. Era a única exemplar no mundo inteiro.
Jeanna, que tinha a pele morena à brasileira e grandes olhos castanhos, trouxe frutas, pão e uma colher de chá de mel que me dava todos os dias.
- Trouxe achocolatado - ela disse sorrindo.
- Obrigado. Você é mesmo incrível - sorri de volta.
Eu devia ser o único príncipe no mundo que tomava achocolatado e tinha vergonha desse hábito. Nunca havia contado para ninguém sobre isso.
- E como você ficou com Tereza?
- Não estamos mais juntos há algum tempo...
- Eu sei. Você ainda tem sentimentos por ela?
- Acho que não. Quer dizer, talvez. Mas ela não é a mulher da minha vida.
- Como você tem tanta certeza?
- Porque quando conhecer a mulher da minha vida não vou ter nenhuma dúvida de que é ela..
Jeanna riu e retirou-se. Ouvi passos. Mamãe entrou na sala.
- Bom dia, Guilherme.
- Bom dia, mamãe.
Cristina entrou na sala, nos desejou bom dia e puxou a cadeira para que mamãe se sentasse.
- O que Vossa Alteza Real deseja comer hoje?
- Não estou bem-disposta, Cristina. Hoje, traga-me suco de fruta e alguns daqueles brioches que Lorde Anderrau trouxe ontem, por favor.
Ela saiu da sala.
- Lavínia!
- Bom dia, Delfim.
- Por que o jardineiro está mexendo no meu pomar?
- Porque o pomar é propriedade pública e precisa ser podado. Agora, deixe de reclamar. Sente-se e venha tomar café. As meninas devem estar descendo.
- Bom dia, Guilherme.
- Bom dia, papai.
Minhas irmãs entraram por último.
- Bom dia, flores do dia! - Amábile disse.
- Bom dia, Amábile. - todos respondemos.
- Bom dia, Guilherme. - Eloísa falava com um de cada vez, sempre.
- Bom dia, Eloísa.
- Bom dia, papai.
- Bom dia, filha.
- Bom dia, mamãe.
- Bom dia, querida.
E durante aquele momento, nós éramos uma família comum reunida para o café da manhã.
- Mamãe - Amábile foi a primeira a romper o silêncio.
- Sim?
- Eloísa e eu decidimos aprender a dançar.
- Dançar o que?
- Ballet e valsa. Todas as princesas hoje em dia dançam.
- E como vocês pretendem fazer isso?
- Queremos contratar um professor.
- Mas como vamos encontrar um professor?
- Eloísa, me ajude aqui..
- Mãe, é só espalhar alguns anúncios pela cidade. As pessoas virão se apresentar e nós iremos escolher o que mais nos agrada.
Enquanto mamãe, Eloísa e Amábile discutiam, eu e papai observávamos. Mas ele se intrometeu.
- Um professor, não.
- O quê? - Eloísa pareceu surpresa.
- Professora. Uma professora, e não um professor.
- Por quê? - Perguntou Amábile.
- Porque não quero que nenhuma de vocês duas contrate um professor só para se apaixonar. Não quero problemas, vocês sabem como funciona nessa família, sabem que não podem se apaixonar por qualquer um. Então, para evitar problemas, uma professora.
- E Guilherme? - Amábile rebateu.
- O que tem eu? - Perguntei.
- Você se apaixonaria pela professora.
- Guilherme tem Tereza.
- Na verdade, pai, faz meses que eu e Tereza não estamos mais juntos. Mas não vou me apaixonar por ninguém..
- Você também quer aprender a dançar ballet e valsa, Guilherme? - Papai pareceu bravo.
- Algum problema se eu quiser?
- São danças femininas.
Aquilo irritou Eloísa, que era extremamente artística.
- Danças não têm sexo, papai. Homens podem dançar ballet tanto quanto mulheres podem praticar dança de rua.
- Não se intrometa, Eloísa! - Papai esbravejou.
- Você quer dançar ballet e valsa, Guilherme?
- Sim, papai.
- Então comprometa-se a não se apaixonar.
- Eu me comprometo a não me apaixonar - repeti.
- Então, parece que precisamos de alguns panfletos. Subam, tomem banho, se arrumem e desçam. Cristina?
Cristina entrou na sala.
- Sim?
- Ligue para uma gráfica.
- Sim, Vossa Alteza Real.
Jenna me alcançou no corredor.
- Você vai aprender a dançar ballet e valsa?
- Claro que não. São danças femininas!
- Então por que disse que ia?
- Para irritar papai.
- Você não tem jeito.. - Ela bagunçou meu cabelo. - Agora vá se arrumar.


Essas são as primeiras linhas de 'O Príncipe e a Bailarina'. Ainda não estão perfeitas, precisam de vááários ajustes, mas eu já me envolvi tanto com essa história que não pude deixá-la continuar sendo só um rascunho no meu blog. Tomara que agrade.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

A Ilha Desconhecida

Matias passara anos amando Clara em silêncio, mas naquele dia acordou respirando coragem.
- O que você quer para ficar comigo?
- Uma caravela - ela respondeu com toda a sinceridade.
Os dois tinham apenas treze anos. Matias não presenteou Clara devidamente bem, então nenhum romance aconteceu.
Matias foi ser piloto. Clara fez direito, No primeiro ano da faculdade, ele ainda não a havia esquecido. Contou a história ao melhor amigo, Leopoldo.
- Cara, você tem que ir atrás dela!
- Você acha que ela já não tem alguém?
- Tenta, cara. Tenta. Não vai se arrepender.
No dia seguinte, lá estava ele em um avião indo vê-la.
Não sabia nem onde ela morava; telefonou para um número antigo que tinha. Ela atendeu. Estava em audiência e o encontraria no Starbucks do shopping Leblon em quarenta minutos. Ele foi imediatamente; ela foi pontual. Sentou-se ao seu lado com um frappuccino de caramelo. Matias pediu para levá-la em casa. Pegaram um táxi até a rua Djalma Ulrich, onde ela morava. Clara se arriscou:
- Você quer entrar?
Não seria prudente contar o que aconteceu depois - basta dizer que as coisas deram certo para o casal.
Dois anos depois, os formandos estavam se casando, à beira-mar. Era de manhã. Beijaram-se.
- Eu tenho um presente para você - disse Matias. Ele guardara o melhor para o final.
Depois, o sol mal acabou de nascer, o homem e a mulher foram pintar na proa do barco, de um lado e do outro, em letras brancas, o nome que faltava dar à caravela. pela hora do meio dia, com a maré, A Ilha Desconhecida fez-se ao mar à procura de si mesmo.

Produzido em 12/05/11 sob a orientação da professora Tina Fraulob. O último parágrafo, em itálico, é um fragmento do conto A Ilha Desconhecida, de José Saramago.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Sala de Cinema

Ontem fui ao cinema com meu namorado assistir Transformers 3, e aceitei um exemplar da Sala de Cinema, revista 100% boa-vistense. Sentei ainda agora pra ler e senti a necessidade incontrolável de vir aqui, rezando pra que alguém que trabalha nessa revista ou conhece alguém que trabalha leia essa postagem.
Nossa senhora, essa revista é a pior que eu já li. É pior que as revistas que eu manufaturava quando tinha 10 anos de idade - sempre fui boa em concordância, ao contrário das pessoas da Sala de Cinema.
A resolução das imagens é péssima, as artes visuais são malfeitas, os textos são de um nível tão ruim que até cirnacinha escreve melhor. Isso pra não dizer que as imagens que eles pegam do GOOGLE são em inglês, pra uma revista brasileira. Não é uma revista informativa, é uma revista de fofoca. Com matérias como "Robert Pattinson dá toda a atenção às fãs na estreia de Água Para Elefantes", eles escrevem na capa da revista que é um INFORME. Ah, me poupe.
Tomara que alguém muito importante esteja lendo isso, tomara. As pessoas da Sala de Cinema têm a chance de mudar pra sempre a comunicação social, o jornalismo e a imagem da cidade de Boa Vista e do estado de Roraima e me fazem uma cagada dessas! Ah, me poupe, de novo. Me poupe MESMO.
Também quero dizer que a Sala de Cinema deveria destacar o cinema roraimense, porque não faltam veículos para destacar o cinema mundial. Festival de Cannes, Robert Pattinson, maiores casais do cinema, isso se digita no Google para saber e os resultados são muitos. Nos dias 18 e 19 de junho, foi exibido um filme local chamado O Estranho, no Cine Sesc Mecejana. Está em cartaz uma peça da companhia de teatro Criart, no Jaber Xaud. Alguém se lembrou de colocar isso na revista?
A revista Sala de Cinema podia ir nas escolas e pedir aos alunos que escrevessem redações sobre o cinema. Podia selecionar os melhores para fazerem uma matéria. Podia fazer concursos para motivar as pessoas a escrever. Podia fazer matérias sobre como os filmes chegam a Boa Vista, sobre como funciona o processo de filmagem ou exibição dos filmes, sobre como se faz uma revista sobre cinema. Podia destacar os cinegrafistas e cineastas locais. Podia fazer uma revolução, mas isso exige trabalho. Aqui está a notícia pra vocês, equipe Sala de Cinema: não é só dizer "eu participo de uma revista sobre cinema", é dizer "eu mudo alguma coisa na vida das pessoas roraimenses com uma revista sobre cinema."
Agora, se vocês me dão licença, eu vou ali jogar a minha Sala de Cinema no lixo.