Eu fui ao teatro hoje e sentei no lugar onde quase ninguém quer sentar: a primeira cadeira da primeira fileira, no canto esquerdo. Mas é por causa da alma de artista, que não quer assistir só a peça, e sim o que fica por trás dela. De onde me sentei, no vão entre a cortina e a parede, podia ver a melhor parte de uma peça de teatro aos olhos de um artista: os bastidores. Graças a isso, eu sabia quando os atores cantavam com playback ou com as próprias cordas vocais, quem fazia mais de um personagem e quem estava usando cinta. Acompanhava expressões faciais e maquiagens malfeitas. Para quem tem alma de artista, isso é bem mais excitante que ver uma peça escrita por Luís Fernando Veríssimo - é como participar dela.
Estava eu, sentada, observando em primeira mão os últimos momentos antes de a peça começar, com os olhos brilhando de emoção e pouco me lixando se minha mãe achava meu lugar o pior de toda a sala de teatro ou não. Porque, naquele momento, só existíamos o teatro e eu. E os atores - meros coadjuvantes - me mostravam seu universo: o universo da arte. Do glorioso momento em que as cortinas se abriram até a hora em que elas se fecharam, eles estavam ali, a meio metro do meu corpo, e cantavam, dançavam, atuavam e interagiam entre si por mim e para mim.
O teatro, local onde tantos contruíram uma reputação e tantos outros viram ruírem seus sonhos, é a casa de todo artista. Representa, desde a Grécia Antiga - talvez até antes disso, quem sabe? - a expressão livre, tanto do autor da peça quando do ator que dá a vida a um personagem. Representa a imaginação que pode ir aonde quiser, desde os mais simples comentários sobre coisas do cotidiano até os mais fantasiosos universos paralelos.
Um artista é como um cão-guia. Não é qualquer um. É uma criatura cativante, prestativa, social, curiosa, empolgada, empolgante. E, acima de tudo, uma mente fértil. Sonhadora, que brota como mato e dá frutos maravilhosos. A indústria artística é a que paga os mais altos salários, tem os mais altos cachês e a que dá mais reconhecimento. Você pediria um autógrafo a Drauzio Varella ou Michael Jackson?
O artista mais puro e apaixonado pela arte é aquele que acorda feliz por estar indo para o trabalho, fica chateado quando não pode ir e não anseia por férias - simplesmente porque, para ele, não existe diferença entre o trabalho e o hobby: os dois se misturam. Ele se apiaxona pelo próprio trabalho, se orgulha das criações e cuida delas como se fossem seus filhos. O artista reside na própria imaginação, esteja ela atenta aos bastidores de um teatro ou perdida em uma galáxia que nenhum outro ser vivo sonha em encontrar.
Inveja, nem tirou fotinhas :/
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