Eu e minha madrinha fomos ao supermercado, a duas quadras do nosso hotel. Eram quase 21h. Na volta, cada uma de nós carregava duas sacolas de plástico. Um senhor chegou e nos pediu dinheiro para comprar comida para seus filhos.
E ela parou. Sozinha, comigo, em uma rua deserta, na Grande São Paulo, às nove da noite, ela parou e abriu a bolsa.
Mexe, remexe, ela tirou algumas moedas de um bolso e entregou nas mãos do senhor, que abriu um grande sorriso - desprovido, quase totalmente, de dentes - e desejou que Deus nos abençoasse.
Continuamos andando, e ela começou a conversar comigo:
- Bia, eu vou embora essa noite, mas deixei umas esfihas do Zattar no balcão. Também tem o macarrão que você fez, a sopa, arroz e um frango. Se você não for comer essas coisas, embala num saquinho e dá pro primeiro mendigo que aparecer. Se você tiver medo, bota em qualquer cantinho que eles pegam. Essa gente pega comida do lixo, quando você entrega comida boa pra eles é como se eles ganhassem na loteria.. E pra gente tem a recompensa da realização espiritual, a sensação de fazer uma boa ação é maravilhosa. Nesse Brasil tem muita gente passando fome, principalmente aqui em São Paulo. E a gente, que tem tanta coisa, tem nas mãos a obrigação de não deixar faltar comida pra eles. Pode deixar faltar tudo, menos comida.
O mendigo para quem ela tinha dado as moedas passou por nós, correndo, com uns pães em um saco plástico.
- Muito obrigado, moça! Deus lhe dê todas as suas riquezas em dobro!
Minha madrinha vai para o céu.
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