O nome dela era Tábata e desde que me conheço por gente na escola onde estudavávamos, todos os meninos e algumas meninas a queriam. Ela era, realmente, muito bonita. Carioca, alta, com cabelos e olhos negros como a noite e a pele clara como a lua.
Dançamos juntas uma vez, e eu preciso admitir que ela dança muito bem. Simpática, ela me elogiou. Fiquei maravilhada. Começamos a nos falar casualmente.
Um dia desses, ela apareceu com um namorado. Só sei porque olhei seu Facebook. Ele era bonito e descendente de alemães.
Um dia desses eu entrei em um curso de reforço. No primeiro dia, ela estava lá. De vestido amarelo, à la Crème de la Crème carioca, discutia com uma amiga sobre química.
De repente, um cara de camiseta azul, jeans e Havaianas puxou uma cadeira e sentou do lado dela, já desmotivada. Ele sorriu.
- É tetravalente. Ele faz quatro ligações.
Ela apagou a conta quilométrica e recomeçou.
- Obrigada.
A partir daquele momento, ele começou a lhe dar uma aula sobre química, cheia de sorrisos. Tratavam-se por "amor". Um relacionamento visivelmente novo.
Chegou um momento em que a sala estava lotada e a concentração estava ausente. Ele observava atento como um pai que observa uma filha andando de bicicleta pela primeira vez. Ela escreveu e apagou. E escreveu de novo. E apagou. Fez isso várias vezes. Perto da nona vez, ele segurou a borracha.
- Você esqueceu um elétron.
- Onde?
- O nox do manganês aumenta, e o número de elétrons diminui. Mas, no cloro, o nox diminui e o número de elétrons aumenta. Você esqueceu esse elétron aqui - ele explicou, fazendo um desenho na folha.
- Nossa, eu não acredito. Como pude ser tão estúpida?
Naquele momento, eu vi que o olhar daquele homem mudou. Quase que instintivamente, ele beijou os cabelos negros de Tábata.
- Não diga isso, você não é estúpida. Einstein ficou reprovado em matemática.
- Einstein não tinha o pai que eu tenho.
- De qualquer jeito, seu pai não vai ter motivos para brigar com você, porque você vai tirar uma nota muito boa em química. Eu estou aqui para isso.
Ela corou e sorriu.
- Só que essa conta está errada, amor.
- Não, ela não está.
- Está sim. Isso aqui é penteno.
- Pentano. Não teime comigo..
Ela apagou a conta e rabiscou um pouco. Ele ficou calado, observando. Ela desistiu.
- É, estava certa.
- Eu sei. Você precisa confiar mais em mim. Eu disse que essa conta estava certa e você se apressou em refazê-la. Podíamos ter feito uma prova real e te poupado de todo esse trabalho. Qual o sentido de uma relação sem confiança?
- Eu discordei de você e recomecei o cálculo e você quer discutir a relação..?
- Porque eu te amo e, se não firmarmos nossa base agora, daqui a dez anos é que não vai ser.
- Você o quê? - As palavras saíram meio distorcidas por causa do enorme sorriso.
- Porque.. Eu te amo. - Ele repetiu, hesitante.
Sem dúvida, era a primeira vez que ela ouvia isso. Dele, pelo menos.
A sala tinha quarenta pessoas e um professor bravo com o barulho e ela não pensou duas vezes antes de lhe dar um beijo agradecido.
- Tábata! - O professor gritou - Se você e seu namorado querem continuar na aula, lembrem-se que isso não é um motel.
- Certo, desculpe. - Ela respondeu.
Os dois viraram as cabeças para baixo e riram juntos.
E eles foram felizes juntos, conversando juntos, aprendendo química juntos, e, às vezes, ela ganhava um beijo na cabeça. Vendo coisas assim, a gente pensa como é fácil ser feliz. O mundo podia desabar, enquanto existissem aqueles dois e o caderno de química de Tábata. Eu imagino.. Será que o amor e a felicidade andam de mãos dadas?
Para eles, estava clara a resposta.
Não foi fraquinho. Cadê seu espírito romântico? Haha
ResponderExcluirAgora me diz onde fica essa classe de química que tou precisando de uns beijos na cabeça e umas aulas de química. Não necessariamente nessa ordem.