segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Sua

Eu estava sentada na cama, sem sorrir, há algum tempo, conversando com minha própria mente. O telefone tocou "J'en Connais", sua música. A doce voz de Carla Bruni me lembra de você - principalmente porque ela canta em francês, tocando violão.
Eu atendo, com a voz meio murcha, de propósito, fazendo manha, procurando consolo. O antigo você teria me consolado, mas o novo você, por mais que me doa dizer isso, é um idiota. Do outro lado da linha, então, sua voz ecoa, firme, em meus ouvidos, fazendo-me tremer. Há dois anos e alguns meses que eu tenho a mesma reação quando você fala em meus ouvidos. Você aumenta o tom de voz, como se eu não estivesse prestando atenção (e totalmente certo em relação a isso).
Eu sempre te disse que voce tinha várias personalidades, e o seu lado agressivo se manifesta agora. Você briga comigo - eu já nem lembro mais o que fiz para desencadear essa reação - e me xinga. "Você tem alguma idéia do quanto isso é doloroso para mim?", eu penso. Tento me defender, mas recebo ordens para calar a boca. Você eleva mais ainda sua voz. As lágrimas escorrem dos meus olhos, já ardidos, de chorar há tantos dias.
Repentinamente, você pára. O antigo você teria parado para perguntar "por que você está chorando?", mas o novo você me pergunta "por que você não me responde?". O antigo você teria me pedido carinhosamente para parar de chorar e sussurrado, ressentido, um pedido de desculpas e uma curta declaração de amor. Mas o novo você briga comigo novamente porque chorar não resolve nada. Entenda, é inevitável chorar quando fico magoada. Mesmo depois de tanto tempo, palavras ásperas vindas de você me machucam como se fosse a primeira vez que eu as ouvisse.
Talvez eu queira uma pequena ação sua para provocar uma reação em cadeia vinda de mim. Eu te reguei como a uma flor, dia após dia, te ensinando a pronúncia de palavras que você desconhecia e te inserindo num mundo totalmente novo - o meu. Não que hoje eu queira me fazer de vítima, mas nada no mundo justifica nenhum tipo de agressão contra as pessoas que você ama. Não sei se você já parou para pensar, mas... Talvez isso me afastasse. Talvez um dia eu decidisse crescer o suficiente para não me sentir mais dependente de você. Você nunca imaginou que isso fosse acontecer? Hoje eu não me sinto livre, mas estou aceitando que não sou mais sua.

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