Era uma vez um menininho que tocava piano como ninguém. Seus dedos deslizavam nas teclas com a facilidade de um giz de cera deslizando numa folha de papel. Ele cresceu e tornou-se um pianista clássico renomado; todos o conheciam. Estava no auge de sua carreira.
E então ele ficou surdo.
As pessoas comentavam sobre como a vida havia sido cruel com o pianista, em torná-lo surdo. Ele parou de se apresentar por uns tempos. Foi como se tivesse morrido. Ninguém mais ouviu falar dele.
Até que um dia, algumas pessoas em algumas partes do mundo ligaram a televisão e viram o jovem, sorrindo, fazendo o que fazia melhor: tocando piano. Lágrimas escorriam de seu rosto. Ele compôs música. Uma música arrepiante, sonora, emocionante. Arte de verdade.
O pianista voltou a ser famoso. Surdo, ainda tocava como ninguém. Viveu uma vida próspera, com uma carreira de sucesso e muitos fãs.
Quando fez setenta anos, ele colocou uma cóclea.
Um dia, um fã veio perguntar ao pianista como havia sido possível compor sem escutar a própria música.
- Todos deveriam ser surdos por alguns anos. Não ser capaz de escutar nada faz a gente ser capaz de sentir tudo. Eu compus porque música de verdade tem que vir do coração, não precisava dos meus ouvidos.
Aquele foi o pianista mais sábio de todos os tempos.
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