sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Eloísa

Eu havia vindo a quase duzentos km/h até o apartamento dela, que pareceu muito, muito longe do meu. Lágrimas involuntárias e um tanto femininas escorriam dos meus olhos. Gritei ao porteiro que não me impedisse de entrar, ainda bem que ele já me conhecia. Não tive paciência de esperar o elevador, então voei nove lances de escada. Talvez com a força que a adrenalina me deu, talvez com a minha própria força, arranquei o extintor de incêndio da parede e o joguei contra a porta branca do apartamento 938.
- Isa! Eloísa! Isa?
Corri o apartamento inteiro, em prantos. Onde ela estava?
-Eloísa!
Finalmente, cheguei até a linda varanda que ela mesma projetara. Contrastando com a paisagem, enrolada em cachos ruivos, ela estava banhada em sangue e lágrimas, acompanhada de umas pílulas. Corri até seu corpo, afastei as outras coisas, puxei-a para meus braços com força, encostei minha cabeça na sua e chorei com desespero.
Ela, meio grogue, me perguntou o porquê do choro.
- Você tentou se matar de novo.
- Para o meu próprio bem, Lucas.
- Deixe de ser egoísta! E se você se matasse com pílulas? E se sangrasse até a morte? E se pulasse do nono andar? O que seus pais iam pensar? O que seria de mim?
- Como assim, o que seria de você?
- ...Sem você. O que seria de mim... Sem você.
Ela me olhou, esperando por mais. Continuei.
- Sem os cachos dos seus cabelos, sem seus projetos de casas, sem seu paisagismo, seu perfume, sua pele, sua torta de limão..
- Minha torta de limão? Ha, ha, ha.
- É, Isa. Sem sua torta de limão - Beijei seu pescoço e comecei a limpar, carinhosamente, o sangue dela de nossos corpos - Não sei por que você insiste em querer me deixar para sempre sem torta.
- Eu ia fazer torta hoje.
- Bom, agora temos uma ocupação melhor.
- Lucas! - Ela fez aquela voz que todo namorado conhece, forçando a tonicidade do meu nome e baixando alguns tons o som. Soava como se fosse "LÚCAAAAAS".
- O que? Eu estava falando de limpar a casa. Você fez uma bagunça aqui.
Ela riu e me abraçou mais uma vez. Fora a tendência suicida, Eloísa era uma garota como qualquer outra.

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